28 junho, 2007

Será desta?

O economista Chefe da Agencia Internacional de Energia, numa entrevista recente ao “Le Monde” afirmou que se o petróleo do Iraque não fluir, e fazendo alguma fé nas reservas anunciadas pelos países produtores, o mundo vai ter problemas sérios em 2015.

O principio do fim do petróleo deverá coincidir com o pico do crescimento na China. Como o mundo vai reagir a esses dois acontecimentos, é uma incógnita, embora seja de prever muita angústia e ranger de dentes.

As alternativas renováveis estão aí, prontas a eclodir, mas nem todas são sensatas, e nem todas estarão à altura da procura em tempo útil.

O Bio-fuel é o maior barrete e o maior perigo. Sobretudo o de primeira geração que essencialmente tira da boca de quem tem fome para meter no depósito de quem tem carro. Para terem uma ideia, as metas de substituição de 7,5 % do petróleo no mercado americano por bio-fuels implicaria o deslocamento de TODA a produção de milho e soja americanos para produção de energia.
Isso não se espera que aconteça, o que se espera é que sejam os países do 3ª mundo a abraçar esta “oportunidade”, o que muitos já parecem prontos a fazer, à custa das suas florestas, da auto-suficiência alimentar das suas populações e das suas reservas de água, já que é preciso regar isto tudo.

O nuclear, com todos os perigos, tem que ser considerado, mas dificilmente se construiria a capacidade necessária em tempo útil.

Há os outros meios de produção considerados mais limpos e sensatos mas ainda com fracos investimentos. A pressão das elites económicas para deixar ser o mercado a decidir, favorece soluções de baixo investimento inicial, como o regresso ao carvão, em vez de tecnologias mais sustentáveis a longo prazo mas mais exigentes e menos rentáveis a curto.

A única solução viável é uma pulverização da produção de energia, com os estados a manterem uma rede e uma capacidade de produção em larga escala de papel estratégico, para responder a picos de procura e falhas ocasionais, mas o grosso da produção a ser garantida ao nivel local e até individual.
Assim, a energia deveria ser um mix, de energia solar, fotovoltaica e outras, eólica, geotérmica, nuclear, etc. E deverá acima de tudo ser atacado o factor “procura” através de mais eficiência por um lado, e por outro de redesenho das concepções das cidades e dos hábitos das pessoas.

Algumas destas coisas podiam ser começadas já, outras teria que ser pensadas e implementadas á medida que as concepções obsoletas chegam ao fim do seu ciclo e há oportunidade para renovar. De qualquer modo, não vai ser fácil.

O fim do petróleo deve preocupar-nos? Sim porque implica dificuldades e mudanças. Mas deve ser visto como a grande oportunidade para melhorar o mundo, que é.

Dito isto. Is it the end of the world as we know it?

9 comentários:

Anónimo disse...

Sempre ouvi a minha mãe dizer que não há bem que sempre dure, nem male que predure. É assim a vida, feita de altos e baixos, de dificuldades e mudanças. E se o petróleo (já está mais que provado) é nocivo, ele que acabe. Arranjaremos outras soluções, quiçà, como bem dizes, melhores. Mas os activistas e fundamentalistas ainda vão ter que "engolir" a energia nuclear. Somos todos em prol da melhoria do mundo até nos "tocar" no nosso conforto...

CPrice disse...

"tira da boca de quem tem fome para meter no depósito de quem tem carro .."! Brilhante a clareza l. rodrigues .. as usual .. ou como diria alguém "um presente muito envenenado" .. deveras.

utopicamente diria que redesenhar os hábitos das pessoas seria 90% do caminho andado para a solução do problema mas .. como fazê-lo com esta mentalidadade que temos de encarar a coisa como "2015? quem vier atrás que feche a porta .." ?

L. Rodrigues disse...

Não creio que o nuclear venha a tempo, e com os mesmos fundos e prazos é provavelmente possivel investir em tecnologias mais dissemináveis e menos concentrados na mão de meia duzia de grandes grupos económicos. Além disso uma dependencia no nuclear actual (fissão) também seria sempre a prazo. As reservas de uranio conhecidas dão talvez para uns 100 anos.

L. Rodrigues disse...

Once,
2015 são quê? 8 anos.
Acho que vai haver muita gente a apanhar correntes de ar...

CPrice disse...

de facto l. rodrigues mas você conhece tão bem quanto eu a modalidade do "deixa andar" certo?

;) abraço e nice week end

Samir Machel disse...

De relembrar que se ponte que se todos no mundo consumissem como os portugueses (que nao sao os piores/em melhor situacao) eram precisas tres Terras (com a actual tecnologia).

Anónimo disse...

P problema é quando se colocam as coisas do tipo "isto assim não tem solução, as reservas não são ilimitadas". Aí o pessoal pensa, legitimamnete, "então se não tem solução, como bem diz once in a while, quem vier atrás que feche a porta. Isto assim é complicado e torna-se um bocado chato: os psicólogos dizem-nos para viver um dia de cada vez, a minha idade diz-me o mesmo; os ecologistas dizem-nos que temos que nos preocupar com o futuro do planeta, os nossos filhos dizem-nos ambas as coisas dependendo da situação e do interesse... Ah, assim não dá.

L. Rodrigues disse...

Tem solução, claro que tem
consumir menos, melhor e de fontes mais limpas. As alternativas abundam, o problema está apenas na confluencia de duas coisas: o paradigma de deixar tudo para a iniciativa privada, e o facto de a iniciativa privada ter vistas curtas. Hoje em dia tudo o que não dá lucro no trimestre, esquece.

Anónimo disse...

Este tema dava pano para mangas. Com estados falidos, países industrializados onde a população dura cada vez mais, onde 2 são activos para 1,5 serem passivos, países pobres onde é tudo ao contrário, menos os estados falidos... É aí que entra a iniciativa privada. Talvez outras regras e maior controle fossem bem vindos, mas é inevitável, meu caro.