19 junho, 2007

Blockbusters

Há uns anos, pela edição das versões revistas dos primeiros episódios da saga Star Wars, li um interessante artigo cujo norte perdi, que defendia a tese de que a obra de Lucas era responsável pela interrupção abrupta de uma das mais promissoras épocas do cinema americano.
Depois de Star Wars, nada foi como dantes. A receita de bilheteira do primeiro filme passou a ser a bitola. Qualquer coisa que desse menos retorno seria preterida em favor de outra mais promissora.
A tese do artigo é que passou a haver uma “infantilização” das audiências. E é difícil não concordar, atendendo a que no ano anterior a Star Wars o filme mais visto nos EUA havia sido Táxi Driver.

Passou-se no mesmo, nos anos 70 na economia global. Uma combinação de novas técnicas financeiras e a saída do Dólar do padrão ouro estipulado pelo acordo de Bretton Woods (onde a seguir à segunda guerra mundial se estabeleceram as instituições financeiras FMI e Banco Mundial, teoricamente destinadas a revitalizar os países devastados pela guerra no sentido de restabelecer um equilíbrio mundial), encheu o mercado financeiro mundial de dinheiro barato, e operações financeiras de elevada rentabilidade, que passaram a ser a bitola para a actividade económica. Qualquer negócio que não atinja esse nível de lucros passa a ser “underperformer”. Assim, a actividade económica passou a ser protagonizada por especuladores financeiros em busca de lucros elevados e rápidos em detrimento do industrialista com visão de longo prazo que era o paradigma até aos anos 70.

Hoje vivemos as consequências disso. Todos tentam ser um blockbuster económico, e não olham a meios porque a única medida que lhes interessa é quanto é que vai haver no box-office.
Não lhes interessa a alienação causada, o desperdício de recursos, a qualidade, a sustentabilidade. Nada. Mas os “fan-boys” insistem que lucros é bom, quanto mais melhor, e se nos voltamos contra isso é porque temos inveja.

3 comentários:

Anónimo disse...

Isso há-de mudar. É inevitável. Li um artigo curioso do Miguel Sousa Tavares na sua habitual crónica "nortada" a respeito do Joe Berardo e da Opa benfiquista onde ficam bem patentes as diferenças entre os especuladores e os fundadores de mepresas, criadores de riqueza e de empregos, enfim, aquilo que precisamos.

CPrice disse...

acredito que sim que mude .. Tenho a sorte de ter trabalhado com pessoas que não só se preocupavam com tudo a que os fan-boys apelidam de "inveja" como ainda com as infra estruturas necessárias ao perfeito desempenho dos seus funcionários, bem estar, comodidade, proximidade familiar and so on .. são alguns dos nossos "self made men" com objectivos bem definidos e cujas prioridades não passam pelo aumento desmesurado dos lucros .. raros mas ainda existentes.

Anónimo disse...

once in a while... uma pessoa privilegiada. Mas já o meu avô dizia que cada um tem o que merece e por vezes saber escolher patrões e chefes é uma arte (ou talento) que em nada fica a dever para a escolhe ao contrário. Já somos dois a acreditar que um dia as coisas mudarão.