28 maio, 2008

Plágio descarado e repetido

Não contente com, constantemente, roubar ideias ao Eurotrib,
acho que é a segunda vez que estou a roubar esta*:

Regras para as relações de trabalho e repartição da riqueza ao longo dos ciclos económicos segundo o consenso económico vigente:

— Quando as coisas estão a melhorar, não se deve colocar em causa o movimento ascendente da economia.
— Quando as coisas estão a correr bem, não se deve causar a desaceleração da economia.
— Quando as coisas estão a piorar, não se deve tornar as coisas ainda piores.
— Quando as coisas estão realmente mal, é a altura de fazer “reformas” e flexibilizar o mercado de trabalho, já que os trabalhadores não estarão em posição de resistir.

Corolário: Num ciclo económico completo nunca há uma boa altura para partilhar a riqueza com quem trabalha.

*Mas nunca é demais e eles não se chateiam.

27 maio, 2008

Sem querer ser demasiado chato



The Impact of Inequality: How to Make Sick Societies Healthier
by Richard G. Wilkinson

Uma obra de um epidemologista que procura descortinar o impacto das desigualdades económicas na saúde pública.
Como ele proprio afirma: não é uma diatribe moral sobre desigualdade mas um estudo empírico sobre os seus efeitos.

Neste link dá para ler uns bons pedaços.

Números avulso

Variação das reservas de petróleo da Arábia Saudita entre 1988 e 2008: ±0%


Total de bónus a atribuir a financeiros da City londrina relativos a 2007: 12.6 biliões de libras.
Buraco no sistema financeiro inglês devido à crise: 15 biliões de libras.

Será a isto que se chamam jogos de soma zero?

26 maio, 2008

Fair Play

Durante a era Michael Jordan fui um razoavelmente fanático seguidor da NBA. Ao que sei, poder-se-iam tirar do modelo organizacional da competição algumas ilações interessantes. Tudo é feito em nome do espectáculo, sabendo que apenas um espectáculo de elevado nível mantém os pavilhões cheios e as estações de tv interessadas.

Assim, há uma série de regras que promovem a competitividade das equipas tentando evitar que haja vencedores crónicos. Havendo equilíbrio, há incerteza nos resultados, garantindo emoção e adesão. Comparando com a realidade que nos é próxima: Evita-se que haja 3 grandes que distribuem títulos entre si, com o ocasional “penetra” de quando em quando.

Assim, a NBA equilibra a distribuição dos proventos de contratos televisivos, acesso aos novos jogadores promissores, e tecto salariais das equipas, entre outros factores, para evitar que as hegemonias “estraguem” a liga.

Discute-se em alguns ciclos se uma liga desequilibrada é menos susceptível de atrair fans. Mas isso será outra questão.

Nesta altura os meus leitores mais frequentes deverão estar a estranhar o aparente afastamento dos temas habituais. Mas eu sou mais previsível do que isso.

Ocorreu-me precisamente este contraste entre NBA e Liga BWIN, como uma metáfora com alguma utilidade para suportar algumas posições que tenho defendido em relação a um tema que, pelos vistos, desperta reacções viscerais em muito boa (e também menos boa) gente. A questão da igualdade. Ou a questão da desigualdade. Depende de onde se vem.

Quando vejo pessoas que dedicam longos parágrafos a alertar para os perigos da igualdade (lembrando indiscutíveis e terríveis exemplos da história para ilustrar a sua posição), fico sempre perplexo.

“A igualdade é uma coisa nobre, de que até os Evangelhos falam mas como houve uns chineses ou uns russos que fizeram umas atrocidades, há a liberdade que é mais importante e pronto”.
(Nunca lhes ocorre no mesmo parágrafo lembrar o que Hitler fez em nome da desigualdade, vá-se lá saber porquê.)

De qualquer modo, tento ser mais construtivo que isso. E porque não aprender com a experiência de igualdade, não do Cambodja, ou da China, mas dos Comissários da NBA?

Afinal, são capitalistas insuspeitos, mas reconhecem que se um vencedor se apanhar numa posição de vantagem, é muito difícil tirá-lo de lá, se não houver regras mínimas de redistribuição de vantagens, e às tantas a competição deixa de ser… como direi… justa?

Quando (pelo menos eu, que não falo em nome de ninguém) se fala em igualdade, trata-se tão somente de nivelar minimamente o campo de jogo, de forma a que cada um possa dar o melhor de si, sem arrastar o peso de resultados de outras competições do passado, pelas quais não tem nenhuma responsabilidade.

Contaram-me uma vez a seguinte história atribuída a David Crockett, que nunca pude confirmar:

Ainda com 16 – 17 anos ter-se-à travado de razões com um homem muito maior que ele, que o desafiou para uma luta. Pretendia o seu oponente que fosse uma luta justa, um contra um. David Crockett terá pegado numa faca e espetado na perna do adversário, ferindo-o e respondendo: agora sim, podemos ter uma luta justa”.

A igualdade de que falo é apenas e simplesmente a igual oportunidade de aprender, de ter saúde e acesso à justiça. E, porque não, uma mais justa distribuição dos frutos do trabalho. O resto, então sim, é com a Liberdade de cada um.

Porque só com este sentido de justiça (me parece que) se pode falar verdadeiramente em Liberdade.

(alguns poderão dizer que estou a defender que para jogar basquete com o michael jordan apenas aceitaria faze-lo, qual pieguinhas, se ele tivesse uns pesos amarrados aos pés, e já agora que lhe cortassem as pernas para não ter mais que 1.71. Se fosse para jogar basquete, não senhor. Mas, e se fosse para jogar a minha vida…?)

21 maio, 2008

O caminho da podridão

Primeiro paladinos da liberdade e democracia,

depois, polícias do mundo,

agora, cães de fila de outros...

o que virá a seguir?

16 maio, 2008

Muita força por pouco dinheiro

O estudo que referi no texto publicado no Corta-fitas continha o seguinte parágrafo relativo aos seus pressupostos e conclusões.

“The conclusions from this work are that capuchin monkeys respond negatively to unequal reward distributions, that this effect can be explained neither by individual expectations of better rewards based on the past (frustration) nor by the mere presence of such rewards (greed), and that the sensitivity to reward inequity is combined with a sensitivity to individual energy expenditure. The highest performance is obtained when food is distributed equitably and the effort to obtain it is small, and the lowest performance is when a monkey has to expend great effort for less reward than its partner. If, as we propose, this complex evaluation of reward distribution and energy investment evolved in conjunction with cooperative enterprises, it may characterize a great variety of social animals.”

E lembrei-me de outra citação que já aqui havia trazido, do CEO da Porsche.

how can society allow capital to make all the rules? I have never understood shareholder value as it leaves so many things out. Shareholders give their money just once, whereas the employees work every day.”

Nós não somos menos que os macacos. Somos sensíveis a injustiças, e ao valor que é dado ao nosso esforço quando o comparamos com outros que trabalham para o mesmo, ou com outros ainda que dele beneficiam sem qualquer esforço.

Perante sinais de iniquidade, surge a insatisfação, desanimo, revolta, fúria, toda uma gama de sentimentos e sinais que nas sociedades originais serviria para colocar em cheque os elementos “abusadores”, gerando culpa, arrependimento, medo etc. Numa empresa moderna a suprema distância entre accionista e trabalhador impede esse regulador social natural que é o confronto de emoções. É assim que é tão fácil instalar-se a pouca vergonha.

Por essa Europa fora levantam-se vozes questionando a iniquidade dos rendimentos de gestores, que mantendo os seus trabalhadores com salários congelados anos a fio, não hesitam em aumentar-se regularmente e compensar-se com chorudos bónus, e ainda dar-se as mais chorudas compensações quando são despedidos mesmo que por incompetência.

Ninguém diz que quem está no topo não deva receber mais do que os que estão na base de uma hierarquia de responsabilidades, (e assumo aqui que o investimento pessoal de um operário não é necessariamente diferente do de um gestor) mas dificilmente se justifica que as coisas corram tão mal para uns quando correm tão bem para outros.

Não faltam as vozes que dizem que ninguém tem nada com isso, cada empresa sabe de si. Alguns ainda concedem que é bom ver o que se passa, porque se está a defraudar o accionista. E ficam-se por aí.

Mas será realmente comparável o esforço de um accionista que dedica 10 minutos por semana a gerir a sua carteira de investimentos ao do operário que entrega toda uma vida ao seu trabalho? A mim parece-me que não.

O patrão da Porsche está comigo. Os macacos capuchinhos, apostaria que também.

15 maio, 2008

The Humans are Dead



Flight of the Conchords

12 maio, 2008

Outsourced

Numa clara manifestação de amiguismo, este vosso criado foi convidado a postar, que é como quem diz largar posta, no Corta Fitas, a convite do prestigiado devorador de croquetes, poeta e semibudista João Villalobos, que não hesitou, portanto, arriscar a sua reputação ao expor a tão vasta audiência as minhas divagações sobre ecosocioetobioantropologia.
Uma pequena macacada que no entanto me despertou uma reflexão reflexa, à qual darei espaço aqui em breve.

04 maio, 2008

Jardim da Estrela


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Originally uploaded by el.rodrigues

Está em obras....

02 maio, 2008

Exmo. Sr. Presidente e Terrorista

Nobel Peace Prize winner and international symbol of freedom Nelson Mandela is flagged on U.S. terrorist watch lists and needs special permission to visit the USA.

Esta notícia é interessante de diversos ângulos.
Por um lado, podemos rir da sempre eterna inércia das burocracias, que periodicamente criam casos caricatos. Por outro, temos o facto de que o terrorista de uns é o heroi de outros, segundo se diz. Mas também se consta que, com o tempo, o terrorista de um se torna o herói do mesmo.
E vice-versa.

Staples Office