31 maio, 2007
Divertimento para executivos
Sugiro adaptar para "TRETA!" Ou "Pívias!" em português. Quanto ao conteúdo, não vale a pena traduzir... os nossos executivos não perdem uma oportunidade para exibir o seu marketês.
30 maio, 2007
Opinião Pública
Um caso em que a ficção ultrapassa claramente a realidade.
29 maio, 2007
Vozes da estrumeira
Por todo o lado, mesmo naquilo que muito consideram esquerda insuspeita, surgem vozes preocupadas com o controlo da informação pelo regime, com o amordaçar da democracia, etc etc.
Desde já digo que nunca me senti muito confortável com o estilo de Chavez. Desde o princípio que fiquei dividido entre o politico messiânico e o demagogo populista, nenhum dos quais me parecia um bom ponto de partida para uma mudança que todas as pessoas de bem querem democrática.
Mas aqui há uns tempos vi um documentário, disponivel no Google video para quem quiser, feito por uma equipa Irlandesa. Era para ser um documentário que procurava precisamente dar uma ideia mais precisa daquela personalidade tão polarizante. Mas a meio das filmagens aconteceu uma coisa: uma tentativa de golpe militar. E de repente aquele documentário tornou-se numa coisa que poucos alguma vez terão visto. Um golpe de estado visto de dentro. Do lado dos sitiados.
Depois de visto tudo, ficaram para mim duas ideias claras: o inequivoco apoio popular de Chavez. Quando se tem 70% do povo do seu lado, tudo o que se possa dizer sobre a sua legitimidade é retórica.
A outra ideia que ficou clara é que as televisões privadas e esta que agora cessa em particular, nunca esconderam o ser desagrado por chavez, incitando explicitamente o golpe, e durante o seu decorrer, filtrando e distorcendo cuidadosamente a informação, dando-lhe completa cobertura e apoio. Que aconteceria cá se a SIC resolvesse fazer guerra aberta a Sócrates e apoiasse uma sublevação em armas?
Desde que Chavez foi eleito pela primeira vez apenas uma televisão foi encerrada pela força. A televisão pública, durante os dois dias do golpe de estado.
Depois do golpe Chavez não prendeu nenhum dos golpistas. Não perseguiu nenhuma das televisões. Chegado ao termo da licença de uma, entendeu o governo venezuelano que não se justificava a sua renovação. Dentro da lei e com toda a legitimidade.
Continuo de pé atrás com a Venezuela. O caminho que escolheram não é fácil. Mas escolheram. E, enquanto essa escolha for legítima, e enquanto acreditarmos na democracia, é apenas ser coerente reconhecer aos venezuelanos o direito de traçar o seu próprio caminho. E não deixar que outros os "salvem de si mesmos". Como aconteceu no Chile, com Pinochet.
28 maio, 2007
Mitos e fantasias da vida moderna.
As ideias que tendem a despertar mais, e mais vivas, respostas neste blogue parecem ser aquelas que sugerem (e fiz isso mais do que uma vez) que nas organizações politica e social devem haver mecanismos que regulem eficazmente a dinâmica da vida das pessoas de forma a que estas possam encontrar o maior bem estar pessoal possível.
Assim, quando sugiro que a felicidade devia embeber o propósito legislativo, não falta quem considere que tal coisa é do foro pessoal e como tal completamente fora do âmbito da responsabilidade de um Estado.
Da mesma forma, quando deixo subentendido que o excesso de endividamento se deve em parte a uma deficiente regulação da actividade bancária, não falta quem coloque a responsabilidade em quem contrai dividas que não pode pagar, indo contra o que parece o mais elementar bom senso.
Cabe aqui dizer que a pessoa - o agente racional egoísta - que serve de base a estes raciocínios é um mito. Começa por ser um mito porque ninguém possui a informação perfeita que leva a decisões perfeitas. E depois torna-se um mito ainda maior porque mesmo na posse da melhor informação possível, as escolhas não são necessariamente racionais, ou egoístas.
Somos máquinas de adquirir status, não de encontrar felicidade. Isto são coisas que a humanidade descobriu várias vezes ao longo dos milénios e foi inscrevendo em filosofias, religiões, adágios, máximas etc. Os apelos ao despojamento, ao encontro com os outros, à elevação do carácter, existem em quase todas as culturas.
Hoje, no século XXI, muita da psicologia e sociologia reconhecem e reforçam a verdade destas sabedorias. No entanto a politica e a sociedade durante uma boa parte do século XX continuam a ignorá-las preferindo usar como modelo para a humanidade “o agente racional egoísta” e a ideia de que se cada um fizer o que é melhor para si, acaba por ser melhor para todos.
Mas se as pessoas soubessem sempre o que é melhor para si, não compravam coisas a pensar que se vão sentir melhor por isso, não olhavam para o vizinho com inveja, davam mais atenção aos outros, procuravam ocupações que além de subsistência lhes davam significado e propósito…
Não é assim, e o que temos é uma corrida ao armamento, em que a única coisa que conta é ter cada vez mais não interessa porquê nem para quê, mas em que o preço é a nossa saúde mental, o ambiente, e a vida de todos os que são pobres “por culpa própria”. É por culpa deles que só vêem a pior televisão, que não lêem livros, que não imaginam outros projectos de vida, que não “arriscam”, que comem com a boca aberta, que não sabem uma língua estrangeira, que não procuram um emprego melhor, que são indiferentes a uma peça de Bach…
E quando as pessoas chegam a um ponto em que votam contra este estado de coisas, como na Venezuela, Bolívia ou Equador, de repente deixam de ser "agentes racionais". Para votar, já são uns tontinhos que se deixam enganar.
20 maio, 2007
Popular CD Format
Para quem estiver menos familiarizado, os Pixies estão à direita, o pessoal mais maduro é banda da casa.
17 maio, 2007
The poor are honest, so let's f#@k 'em
"A banker told me 2 years ago that there had been an intellectual breakthrough in understanding for the banks that changed the whole way they did business. He looked at me and his eyes widened — this was in England — and he said “We found that the poor are honest!” and then he laughed uproariously as if “how dumb can you be?”.
The belief is that the poorer you are the more you believe as a matter of honor that you have to pay the debt that you owe.
It’s the opposite of Donald Trump. Who essentially whenever he can’t pay he goes to the bank and says “Boy are you in trouble. I can’t pay the loan. Let’s renegotiate it, I’ll give you 50 cents on the dollar”. And he was able to do that for instance for his Atlantic City properties."
Michael Hudson, Historiador de Economia.
Por isso os bancos deixaram de se preocupar com a capacidade de endividamento das pessoas. Elas irão até às ultimas, comendo arroz e feijão a vida toda para pagar uma divida que está muito acima das suas capacidades.
Estamos sempre a reinventar a escravidão.
16 maio, 2007
Motor de arranque
Considerando apenas os Estados Unidos, onde terão vivido e morrido 6 milhões de escravos, estima uma vida de trabalho de 40 anos, dos 10 aos 50. Depois, atribui-lhes umas benévolas 8 horas por dia de trabalho, e cinco dias por semana, só para não pensarmos muito mal dos seus donos. Isto dá 499 Biliões (americanos) de horas de trabalho.
Depois, imagina que esses escravos ganhavam afinal o salário mínimo de 7 dólares por hora. E que a ultima geração de escravos tinha podido aplicar os parcos rendimentos de todos a uns meros 2% ao ano. Se hoje esse dinheiro tivesse que ser devolvido, dava cerca de 59 triliões de dólares.
Nada mal, como fundo estrutural, não?
Ou, como ele conclui, mas de forma mais educada. "Protestant work ethic, my arse."
15 maio, 2007
Nada pode ser de todos
O conceito de propriedade aplicado a pedaços de terreno tem muito que se lhe diga e já lhe dediquei algumas linhas. Mas quando se trata de propriedade intelectual, então a coisa ainda fica mais estranha. Já não é novidade, por exemplo, que algumas multinacionais tentam ser donas de todas as variantes de vida. Nomeadamente patenteando sequências de genes, como aquela terapia de cancro da mama que andou aí nalgumas notícias. Nem gosto de imaginar onde pode levar isso.
A última curiosidade neste capítulo, no entanto, é algo que tem andado a preocupar o governo indiano. Ao que parece foram registadas nos Estados Unidos várias centenas de patentes, marcas e direitos de autor relacionados com o Yoga. Ou seja, algo que é uma tradição e sabedoria ancestral, parte da identidade indiana, e por extensão património da humanidade, agora, à luz da lei americana, é pertença de alguém que pode assim impedir seu acesso a outros. (Porque é do que se trata: criar valor gerando escassez).
Podemos pensar, malucos dos americanos, eles que vendam o que quiserem uns aos outros que não nos chateia. Acontece que os EUA têm por método impor nas suas negociações de tratados de comércio a adopção pelos países com quem os fazem de leis de propriedade intelectual à imagem das suas. Ou seja podia dar-se o absurdo de haver uma proibição de práticas e divulgação do Yoga no país que o viu nascer, por força destas leis.
Entretanto, 2000 patentes por ano são registadas, uma vez mais nos EUA de produtos farmacêuticos baseados na medicina tradicional indiana. Mas quando a Índia quis produzir retro virais genéricos, lá veio a OMC bater o pé a dizer que não podia ser. Que havia violação de direitos de propriedade intelectual.
Já agora um aparte, li recentemente que o estado Americano do Massachussets vai atribuir 1 bilião de dólares de fundos públicos ao longo de 10 anos para financiar estudos de células estaminais. Completamente a favor. Mas a pergunta que fica: as patentes que tenham origem nessa investigação, vão ser tão públicas como o seu financiamento?
11 maio, 2007
Experiências religiosas
10 maio, 2007
Sobre a beleza
"A lot of those songs are just the response
to what struck me as beauty.
Whenever that curious emanation
from a being or an object or a situation or a landscape, you know...
that had a very powerful effect on me...
as it does on everyone...
And I prayed to have some response
to the things that were so clearly beautiful to me,
and they were alive"
Leonard Cohen
09 maio, 2007
Superioridades Morais
Uma das coisas que Paulo Rangel fez questão de afirmar foi que não havia uma Superioridade Moral da esquerda sobre a direita. É uma coisa que tenho lido por aí. Mas pareceu-me naquele debate que havia uma clara superioridade moral da parte de Adriano Moreira sobre Paulo Rangel. Mas não sei se ele se apercebeu disso.
Curiosamente houve muito mais pontos de contacto no plano dos principios, na identificação dos problemas e da perspectivação de soluções ou caminhos, entre Adriano Moreira e os seus "opositores" da esquerda do que com o seu companheiro de carteira.
Ao enumerar alguns principios nomeadamente na área da Solidariedade Social, Adriano Moreira interrogou-se: "sou de esquerda?". Lembrei-me de um post que escrevi há dias. Há pessoas de bem à esquerda e à direita. Se nos cingirmos à esfera pública, ao contrato social, às linhas de ética estruturantes, (e deixarmos de forma a esfera privada, dos hábitos e dos costumes), há muito mais a unir essa esquerda e essa direita do que a separá-las.
E, quanto a mim, urge que haja diálogo e concertação de esforços contra a outra direita, laica, que inventou uma ideologia a partir da separação da esfera económica daquilo que lhe dá origem e suporte: a humanidade.
(hmm... este post tb não é nada típico... um dia destes tenho que mudar o template do blog, só porque sim)
07 maio, 2007
A globalização começa a chegar aos joelhos.
Mas não pelas razões que o autor provavelmente acha. Para quem não tem pachorra para ler, é um senhor (economista e professor) que se considera um "free-trader" da cabeça aos pés. Mas é um herege, acha ele, entre os seus pares, por considerar que a globalização é capaz de afinal não ser uma coisa assim tão magnífica.
Não deita a toalha ao tapete, claro. Na melhor das tradicões dos economistas da sua estirte, mantém que o futuro eventualmente trará dias risonhos, quando todos se tiverem adaptado à mudança.
A questão que ele levanta é a saida de postos de trabalho americanos para paises como a China e a India. Ele fala das forças a actuar na dita globalização (tecnologia e a "entrada" de 1,5 biliões de pessoas para o "mercado de trabalho") e depois escreve este parágrafo.
"For these same forces don't look so benign from the viewpoint of an American computer programmer or accountant. They've done what they were told to do: They went to college and prepared for well-paid careers with bountiful employment opportunities. But now their bosses are eyeing legions of well-qualified, English-speaking programmers and accountants in India, for example, who will happily work for a fraction of what Americans earn. Such prospective competition puts a damper on wage increases. And if the jobs do move offshore, displaced American workers may lose not only their jobs but also their pensions and health insurance. These people can be forgiven if they have doubts about the virtues of globalization."
Este parágrafo encerra a razão porque esta gente não pode ser levada a sério. Na minha modesta opinião.
Quando a vida de milhares de trabalhadores industriais começou a ser afectada um pouco por toda a parte de há 30 anos para cá, era normal, era o progresso, era inevitável, "business as usual". Agora que o "off-shoring" começa a afectar a classe a que pertencem, já lhes dá para ter dúvidas.
E depois sustenta a ideia de que a saida é apostar ainda mais em inovação e tecnologias de ponta, e formar pessoas em trabalhos que não são susceptiveis de ser exportados (basicamente tudo o que exija a presença fisica de alguém, como construção civil ou pediatria).
Pode ser que sim, se ele acha que os outros países que estão a capturar a industria não têm a capacidade de ultrapassar os EUA. A pesquisa e desenvolvimento acompanha as fábricas mais modernas, afinal, e essas estão a nascer fora dali. E não há-de ser por falta de talentos.
E quanto aos outros trabalhos, podem fazer numeros bonitos no PIB mas representam zero em matéria de balança comercial. Por isso um dia destes, deixam de poder comprar o que os chineses produzem. Depois quero ver.
04 maio, 2007
Às armas, cidadãos
Sei que são menos de um, os leitores deste blog que vão votar em França no sábado, e além disso ninguém lê blogues ao fim de semana, mas é sempre educativo ver os factos por detrás de uma narrativa. Convido todos os vagamente interessados a passear os olhos pelo artigo que está em francês e inglês.
Chamo também a atenção para as palavras do autor: São factos, não é uma narrativa. Ou seja, é potencialmente pouco sedutor.
E é esse o problema com o discurso neo-liberal: é sedutor, apela a emoções e a uma auto-imagem heroica, individualista, vencedora e independente. Mas está completamente desligado dos factos. Há uma total desconexão com a realidade que não o impede de ser prevalecente entre demasiado dirigentes políticos.
Agora imaginem uma Europa, sobre a qual podemos ser chamados a votar, dirigida por Barroso, Merkel, Sarkosy e Blair, que está de saída em Inglaterra mas já pisca um olho a um poleiro Europeu, todos adeptos da narrativa, e alheios aos factos. Será isso mesmo que queremos?
Se arranjar tempo, ainda trato de traduzir os principais pontos do artigo para aqui.
(este Designorado já não é o que era...que militância....)
02 maio, 2007
Coisas que fazem pensar
A Maria honrou este cantinho com uma distinção que muito agradeço. Caber-me-ia distinguir outros tantos blogs. Como se pode ver pela lista ao lado, não são muitos os que referencio. Embora eu espreite regularmente mais do que ali estão. Os que ali estão, estão por outros critérios.
De qualquer modo, vou aproveitar este post para partilhar as minhas fonte mais constantes, que não são blogues a que possa transmitir o testemunho, mas que não deixam de ser sítios interessantes para explorar a quem estiver interessado.
Primeiro que todos, o Eurotrib. Um blog nascido do americano DailyKos, mas virado para a Europa. Ali descobre-se um pouco de tudo, fruto de uma rica e heterogénea comunidade. Um dos pratos principais são as frequentes desconstruções de artigos da imprensa financeira, FT e Economist. E descobre-se porque é que os factos não suportam uma data de coisas que nos andam a querer fazer crer. Além disso dada a multiplicidade de contribuições, acaba por funcionar como um portal bastante dinâmico.
Depois, dentro do género, gosto de manter em dia os artigos que George Monbiot publica no Guardian. É um jornalista militante, ambientalista, pessimista, mas que penso ninguém pode acusar de não fazer bem o seu trabalho. Também espreito com alguma frequência as páginas de opinião do dito Guardian.
O outro jornal que tenho debaixo de olho é o Asia Times Online muito por culpa dos artigos monumentais (e por vezes esmagadores) deste senhor.
Mantenho também debaixo de olho o Project Syndicate onde alguns nomes sonantes publicam regularmente.
Finalmente, Edge.org, um site que coloca em discussão algumas das melhores cabeças da ciência. Para ver sempre. Em companhia com um primo mais multimédia, chamado TED.
E pronto. Nem tudo é trigo, também há joio, mas com isto já se fazem umas boas carcaças.
O resto são livros.01 maio, 2007
Mercados livres
(Este é um post no espirito inicial do Designorado, que foi adulterado desde o primeiro. A ideia original era simplesmente era ir divulgando coisas que ia aprendendo sobre este mundo em que vivemos. Depois houve uns temas que me dominaram o interesse e tomaram conta disto.)