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Sugiro adaptar para "TRETA!" Ou "Pívias!" em português. Quanto ao conteúdo, não vale a pena traduzir... os nossos executivos não perdem uma oportunidade para exibir o seu marketês.
"Só de mim, ninguém diz nada. A minha ignorância não é especializada." - Millor Fernandes
As ideias que tendem a despertar mais, e mais vivas, respostas neste blogue parecem ser aquelas que sugerem (e fiz isso mais do que uma vez) que nas organizações politica e social devem haver mecanismos que regulem eficazmente a dinâmica da vida das pessoas de forma a que estas possam encontrar o maior bem estar pessoal possível.
Assim, quando sugiro que a felicidade devia embeber o propósito legislativo, não falta quem considere que tal coisa é do foro pessoal e como tal completamente fora do âmbito da responsabilidade de um Estado.
Da mesma forma, quando deixo subentendido que o excesso de endividamento se deve em parte a uma deficiente regulação da actividade bancária, não falta quem coloque a responsabilidade em quem contrai dividas que não pode pagar, indo contra o que parece o mais elementar bom senso.
Cabe aqui dizer que a pessoa - o agente racional egoísta - que serve de base a estes raciocínios é um mito. Começa por ser um mito porque ninguém possui a informação perfeita que leva a decisões perfeitas. E depois torna-se um mito ainda maior porque mesmo na posse da melhor informação possível, as escolhas não são necessariamente racionais, ou egoístas.
Somos máquinas de adquirir status, não de encontrar felicidade. Isto são coisas que a humanidade descobriu várias vezes ao longo dos milénios e foi inscrevendo em filosofias, religiões, adágios, máximas etc. Os apelos ao despojamento, ao encontro com os outros, à elevação do carácter, existem em quase todas as culturas.
Hoje, no século XXI, muita da psicologia e sociologia reconhecem e reforçam a verdade destas sabedorias. No entanto a politica e a sociedade durante uma boa parte do século XX continuam a ignorá-las preferindo usar como modelo para a humanidade “o agente racional egoísta” e a ideia de que se cada um fizer o que é melhor para si, acaba por ser melhor para todos.
Mas se as pessoas soubessem sempre o que é melhor para si, não compravam coisas a pensar que se vão sentir melhor por isso, não olhavam para o vizinho com inveja, davam mais atenção aos outros, procuravam ocupações que além de subsistência lhes davam significado e propósito…
Não é assim, e o que temos é uma corrida ao armamento, em que a única coisa que conta é ter cada vez mais não interessa porquê nem para quê, mas em que o preço é a nossa saúde mental, o ambiente, e a vida de todos os que são pobres “por culpa própria”. É por culpa deles que só vêem a pior televisão, que não lêem livros, que não imaginam outros projectos de vida, que não “arriscam”, que comem com a boca aberta, que não sabem uma língua estrangeira, que não procuram um emprego melhor, que são indiferentes a uma peça de Bach…
"A banker told me 2 years ago that there had been an intellectual breakthrough in understanding for the banks that changed the whole way they did business. He looked at me and his eyes widened — this was in England — and he said “We found that the poor are honest!” and then he laughed uproariously as if “how dumb can you be?”.
The belief is that the poorer you are the more you believe as a matter of honor that you have to pay the debt that you owe.
It’s the opposite of Donald Trump. Who essentially whenever he can’t pay he goes to the bank and says “Boy are you in trouble. I can’t pay the loan. Let’s renegotiate it, I’ll give you 50 cents on the dollar”. And he was able to do that for instance for his Atlantic City properties."
Michael Hudson, Historiador de Economia.
O conceito de propriedade aplicado a pedaços de terreno tem muito que se lhe diga e já lhe dediquei algumas linhas. Mas quando se trata de propriedade intelectual, então a coisa ainda fica mais estranha. Já não é novidade, por exemplo, que algumas multinacionais tentam ser donas de todas as variantes de vida. Nomeadamente patenteando sequências de genes, como aquela terapia de cancro da mama que andou aí nalgumas notícias. Nem gosto de imaginar onde pode levar isso.
A última curiosidade neste capítulo, no entanto, é algo que tem andado a preocupar o governo indiano. Ao que parece foram registadas nos Estados Unidos várias centenas de patentes, marcas e direitos de autor relacionados com o Yoga. Ou seja, algo que é uma tradição e sabedoria ancestral, parte da identidade indiana, e por extensão património da humanidade, agora, à luz da lei americana, é pertença de alguém que pode assim impedir seu acesso a outros. (Porque é do que se trata: criar valor gerando escassez).
Podemos pensar, malucos dos americanos, eles que vendam o que quiserem uns aos outros que não nos chateia. Acontece que os EUA têm por método impor nas suas negociações de tratados de comércio a adopção pelos países com quem os fazem de leis de propriedade intelectual à imagem das suas. Ou seja podia dar-se o absurdo de haver uma proibição de práticas e divulgação do Yoga no país que o viu nascer, por força destas leis.
Entretanto, 2000 patentes por ano são registadas, uma vez mais nos EUA de produtos farmacêuticos baseados na medicina tradicional indiana. Mas quando a Índia quis produzir retro virais genéricos, lá veio a OMC bater o pé a dizer que não podia ser. Que havia violação de direitos de propriedade intelectual.
Já agora um aparte, li recentemente que o estado Americano do Massachussets vai atribuir 1 bilião de dólares de fundos públicos ao longo de 10 anos para financiar estudos de células estaminais. Completamente a favor. Mas a pergunta que fica: as patentes que tenham origem nessa investigação, vão ser tão públicas como o seu financiamento?
"For these same forces don't look so benign from the viewpoint of an American computer programmer or accountant. They've done what they were told to do: They went to college and prepared for well-paid careers with bountiful employment opportunities. But now their bosses are eyeing legions of well-qualified, English-speaking programmers and accountants in India, for example, who will happily work for a fraction of what Americans earn. Such prospective competition puts a damper on wage increases. And if the jobs do move offshore, displaced American workers may lose not only their jobs but also their pensions and health insurance. These people can be forgiven if they have doubts about the virtues of globalization."
A Maria honrou este cantinho com uma distinção que muito agradeço. Caber-me-ia distinguir outros tantos blogs. Como se pode ver pela lista ao lado, não são muitos os que referencio. Embora eu espreite regularmente mais do que ali estão. Os que ali estão, estão por outros critérios.
De qualquer modo, vou aproveitar este post para partilhar as minhas fonte mais constantes, que não são blogues a que possa transmitir o testemunho, mas que não deixam de ser sítios interessantes para explorar a quem estiver interessado.
Primeiro que todos, o Eurotrib. Um blog nascido do americano DailyKos, mas virado para a Europa. Ali descobre-se um pouco de tudo, fruto de uma rica e heterogénea comunidade. Um dos pratos principais são as frequentes desconstruções de artigos da imprensa financeira, FT e Economist. E descobre-se porque é que os factos não suportam uma data de coisas que nos andam a querer fazer crer. Além disso dada a multiplicidade de contribuições, acaba por funcionar como um portal bastante dinâmico.
Depois, dentro do género, gosto de manter em dia os artigos que George Monbiot publica no Guardian. É um jornalista militante, ambientalista, pessimista, mas que penso ninguém pode acusar de não fazer bem o seu trabalho. Também espreito com alguma frequência as páginas de opinião do dito Guardian.
O outro jornal que tenho debaixo de olho é o Asia Times Online muito por culpa dos artigos monumentais (e por vezes esmagadores) deste senhor.
Mantenho também debaixo de olho o Project Syndicate onde alguns nomes sonantes publicam regularmente.
Finalmente, Edge.org, um site que coloca em discussão algumas das melhores cabeças da ciência. Para ver sempre. Em companhia com um primo mais multimédia, chamado TED.
E pronto. Nem tudo é trigo, também há joio, mas com isto já se fazem umas boas carcaças.
O resto são livros.