07 novembro, 2006

Desculpas de mau pagador

Vou quebrar o que é o tom dominante deste blog e introduzir uma nota pessoal, a propósito de algo que não ocorreu este fim-de-semana que passou. Uma das razões porque o faço é porque tem tudo que ver com o post anterior, mesmo que não seja logo óbvio.

Este fim-de-semana, não fui à festa do meu amigo João Vasco. Ele cumpriu 40 anos, feito em que o acompanharei brevemente, e festejou condignamente. E eu, apesar de convidado e até de praticamente confirmar a minha presença, acabei por não ir.

Porque achei que não ia valer a pena. Porque iria estar a fazer horas até às onze, depois de jantar sozinho, porque a distância para o local da festa é daquelas que são suficientemente curtas para irritar um taxista, mas longas o suficiente para não apetecer fazer a pé num dia de chuva, porque já sei que nestas festas acabo por me apagar no meio do ruído e do fumo e estar lá ou não é a mesma coisa…. Etc, etc, etc,...

Passar um bocado a ouvir boa música, potencialmente no meio de gente interessante e eventualmente cruzar-me com a futura mãe dos meus filhos, tudo coisas que uma perspectiva optimista poderia contrapor, não ocorreram ou não conseguiram ter peso.

O livro que ando a ler, “Stumbling on Happiness” , curiosamente, tratou de me explicar logo a seguir exactamente o que aconteceu. Quando imaginamos como nos vamos sentir em determinada situação futura, o nosso cérebro é incapaz de se libertar daquilo que é a sua prioridade, a realidade presente.

Isso também funciona para trás, quando usamos a memória para reconstituir as nossas emoções numa situação passada, nessa altura, preenchemos os buracos da memória com pedacinhos de presente. Mas, quando o assunto é o futuro, tudo é um buraco.

Por isso, naturalmente, depois de um dia cinzento em que até me sentia mais só do que o costume, em que não tinha visto nenhum filme que me estimulasse, ou lido qualquer coisa que me pusesse bem disposto, ou falado com alguém que me alegrasse, apenas pude antecipar mais solidão e vazio.

E a prova mesquinha de que isto é capaz de ter sido mesmo assim, é que depois de completar umas voltas bem sucedidas num jogo de corridas de carros manhoso com que me tenho entretido, por momentos até me pareceu boa ideia, e encarei a possibilidade de ir à festa com alegria e optimismo. Mas foi passageiro...

Quanto ao que isto tem que ver com o post anterior, espero que se tenha tornado óbvio. Quando se pergunta a alguém o que sente em relação ao futuro… a resposta é muito provavelmente o que sente sobre o presente.

7 comentários:

João Villalobos disse...

Deixa-te mas é de metafísicas e anda daí almoçar :)

L. Rodrigues disse...

Já está decidido, para a semana ligo-te a combinar.

marta r disse...

Percebo a angústia. Também tenho essas mudanças bruscas de humor de vez em quando...

José, o Alfredo disse...

Isso é, acima de tudo, um problema de imaturidade. Passa quando deixares de te dar maioritariamente com pessoas que ainda nem sequer 40 anos têm. Criancices, no fundo.

Aninhas disse...

Olha um blogger a sério...
Vou dar uma vista de olhos já cá volto...

L. Rodrigues disse...

Aninhas,
Bem vinda e veja à vontade. Mas blogger a sério... não sei se é aqui.

redonda disse...

Achei muito interessante este post porque já senti o mesmo. Deixei de ir a alguns jantares se calhar por ter projectado o presente no futuro e estava cansada, chovia e imaginei que não daria para conversar com quem conhecia e que não conheceria ninguém que quisesse conhecer.