Aqui há uns tempos, num blogue muito frequentado, foi-me colocada a seguinte questão: "Mas afinal é a favor de uma Sociedade com mais socialismo e menos liberdade?"
Uma das maiores falácias dos chamados liberais, ou neo-liberais, conforme quem os chame, é a forma como se apropriam da Liberdade. A Liberdade é para eles um valor absoluto e como tal é inviolável. O que eles não dizem sempre é que quando falam de liberdade apenas estão a pensar em liberdade individual.
Qualquer pessoa sabe que um individuo infinitamente livre ou é Deus ou é um sociopata. Isso desde logo inviabiliza a Liberdade Individual como valor absoluto.
Assim, quando pensei na resposta a dar àquela questão, a primeira reacção foi rejeitar a Liberdade como valor maior, trocando-o por outro como por exemplo a Felicidade ou a Dignidade (que não existem sem doses mínimas de liberdade, mas que se não forem metas, de que serve a mesma? A propósito, li naquele blogue que o liberalismo defendia a liberdade dos mercados mesmo que isso significasse a miséria para todos...vá-se lá perceber o sentido disto).
Mas não quis abdicar da Liberdade. As pessoas de bem não devem abdicar dela. Pelo contrário, acredito que valorizo mais a Liberdade que os liberais. Tanto que acredito que numa sociedade quanto mais Liberdade houver, melhor. Acredito que uma sociedade é melhor quando a liberdade somada dos seus cidadãos é maior.
E é por isso que acredito na redistribuição de riqueza. Se a um multimilionário tirarmos um milhão para distribuir por uns milhares de destituídos, a liberdade do primeiro fica virtualmente intacta, enquanto a liberdade dos que nada tinham foi exponencialmente multiplicada. No total aumentámos a liberdade de todos.
Além disso é bem provável que o multimilionário fique mais feliz.
08 novembro, 2006
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10 comentários:
O obstáculo mais tramado de transpor é a lei das probabilidades. Outro obstáculo, não menos tramado, é a lei do maior ou menor esforço. A probabilidade de um multimilionário (ou meia dúzia deles) se apropriar da riqueza que resulta da multiplicação de infinitas pobrezas (os tais milhares de destituídos, que habitualmente até fazem o favor de serem milhões) é altíssima e o esforço que possa requerer habitualmente resolve-se bem com o que não falta à partida a esse tipo ou a essa meia dúzia de tipos, que é dinheiro e/ou poder. Já a conjugação de acções de milhares de destituídos no sentido de se apoderarem nem que seja de uma parte da riqueza de um tipo rico e poderoso, ou meia dúzia deles, exige um esforço danado, a probabilidade de dar certo é mínima e, no caso de dar, a probabilidade de impedir a ascensão de um novo tipo ao lugar do anterior é (historicamente) zero.
Ora, José,
Não é preciso desafiar tantas leis.
Basta respeitar outras. Nomeadamente as que visam cobrar impostos a quem lhe anda a fugir.
É apenas reconhecer que na Suécia se vive melhor que na Inglaterra.
Não consegui abrir o link... e fiquei sem saber como é que um multimilionário pode ficar feliz por lhe tirarem um milhão...
Vou tentar abrir noutro PC. Estou curiosa.
Cara Marta r,
Se não conseguir por aí, tente por aqui:
www.ted.com/tedtalks e vá andando para baixo até Barry Schwartz.
Dá para fazer download.
Aproveite e explore o resto, é um manancial.
Passei pela 1ª vez por aqui e acabei no Barry Schwartz. Fantástico!
Bem vinda, CC
Volte sempre.
Obrigado :)
Volatrei
Volatrei = Voltarei (dislexia de fim de dia diabólico)
Ups, consegui finalmente ouvir o Barry. Tem razão, L.Rodrigues. Já percebi o seu ponto de vista. Faz sentido.
É isso, Marta...
Temos andado demasiado presos a uma versão da natureza humana, no mínimo parcial, certamente errada. E só com base no entendimento de como somos de facto, é possível desenhar um sistema económico e social que seja bem sucedido, por ser Humano.
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