29 novembro, 2006

Nós, os Moriori

Recentemente fiquei a conhecer a história dos Moriori. Os Moriori eram - acho que podemos falar deles no passado porque os seus descendentes já se misturaram e diluíram com outra etnias – os habitantes das ilhas Chatham, ali umas centenas de quilómetros a sudeste da Nova Zelândia.

Os Moriori eram descendentes dos primeiros polinésios que povoaram aquela região. Quando chegaram os colonos encontraram uma ilha muito mais fria e pobre em recursos do que aquelas de onde vieram e portanto tornavam inviável a sua agricultura tropical. Voltaram por isso a uma vida de caçadores recolectores. A população rondava os 2000.

Inicialmente levavam consigo os costumes próprios das populações agrícolas, fortemente territoriais, e prontas a lutar pelo seu pedaço de terra. A permanentes lutas ameaçavam aniquilar os Moriori. Um dos seus reis, antevendo o futuro, ou a ausência dele, decretou que todos os conflitos fossem decididos em confrontos pessoais, que terminavam ao primeiro derramamento de sangue ou, idealmente, que as disputas fossem resolvidas em conselho, conversando sobre o assunto. Eventualmente os Moriori abandonaram todo e qualquer acto de violência.

Em 1791, as ilhas Chatham foram descobertas pelo barco do mesmo nome, e passaram a ser base para baleeiros e caçadores de focas. As doenças trazidas pelos ocidentais mataram 10% da população Moriori, e alem disso aqueles desrespeitaram os costume Moriori de preservar as áreas e épocas reprodução dos animais de que dependiam.

Mas pior, os Maori da Nova Zelândia vieram depois, para conquistar e escravizar. Os pacíficos Moriori foram basicamente exterminados se oferecer resistência. Os poucos sobreviventes relataram a perplexidade perante tal violência, e como se tinham reunido para discutir e propor alguma forma se acordo com os invasores, que não quiseram saber. Os Moriori agiram segundo os seus costumes, e os Maori também.

Esta historia trágica ilustra por um lado como muitas das diferenças culturais estão directamente ligadas à ecologia humana. Diversas condições geográficas e climáticas induzem costumes diversos que permitem a sobrevivência das populações. Uma religião originária no árido Médio Oriente tem certamente por trás uma experiência humana bem diferente da originada numa planície permanente verde e fértil.

Por outro lado, e foi isso que me fez reflectir sobre ela, a história dos Moriori lembra-nos o que é preciso para fazer num mundo superpovoado, em que os recursos são limitados. Confrontados com a extinção, adoptaram regras de arbitragem pacífica de conflitos, respeito escrupuloso pelo ambiente e gestão de recursos naturais e ainda controlo do crescimento populacional, no caso pela castração de crianças do sexo masculino, mas para isso temos outras soluções.

Com isto, foram dois posts seguidos a falar de castração... Em minha defesa tenho a dizer que escrevi o post anterior já sob influencia desta história.

4 comentários:

Paulo Cunha Porto disse...

Os chineses, sempre pioneiros apontaram para a esterilização das tibetanas. Esse remédio resolveria mais radicalmente o problema demográfico e o concorrencialismo dele emergente, não?
Abraço.

L. Rodrigues disse...

No nosso caso diria que bastava aplicar algumas medidas de saúde publica muito menos radicais, e melhorar a qualidade de vida de uma boa parte das gentes do mundo...

João Villalobos disse...

Os Moriori deviam era ter umas bazucas raio laser e dar cabo desses FDP. Bastards!

L. Rodrigues disse...

Eles tinham, enterradas numa caverna da ilha mais pequena do arquipélago. Mas, ao abrigo dos acordos de não-proliferaçao estabelecidos, estavam a convertê-las para canalização de água potável.