Um nosso conhecido engasga-se na espinha de um carapau. Passa um mau bocado e tem que ir ao hospital, até. E depois conta-nos a história.
Durante uns tempos, pelo menos, vamos olhar para os carapaus como uns bichos perigosos. Quando levarmos o garfo à boca vamos ter especial atenção, e reagir de uma forma excepcionalmente enérgica à presença de espinhas, ou à mera impressão de uma.
E no entanto não aconteceu nada aos carapaus que os tornasse mais perigosos do que antes.
O nosso cérebro está pouco vocacionado para estatísticas. Estamos mais aptos a procurar padrões, detectar sequências, acertar ritmos. Eventos singulares, ou seja, eventos cuja probabilidade é inalterada pela sua ocorrência, são coisas que nos fazem confusão.
Um exemplo clássico é a chamada falácia do jogador. Uma moeda pode dar cara ou coroa, e independentemente de num dado momento dar uma coisa ou outra, isso não afecta o lance seguinte, que continua a ter 50/50 de probabilidades de dar uma coisa ou outra.
No entanto tendemos a achar que, depois de uma sequência em que tiramos 6 vezes seguidas Cara, é mais provável que tiremos Coroa. A chamada fezada.
O mesmo fenómeno pode ser visto nos sistemas de apostar no totoloto, com grandes listas de números que saem mais, e outros que saem menos... A não ser que as bolas na tômbola não sejam iguais, tenham pesos diferentes, ou qualquer outro factor que perturbe a aleatoriedade da coisa, a probabilidade de sair um número é igual à de qualquer outro. E voltará a sê-lo na semana seguinte.
Esta avaliação subjectiva dos acontecimentos é o que leva a uma série de superstições. A camisola da sorte, que é a que estava vestida quando o nosso clube ganhou um jogo importante, por exemplo. É aparentemente irrelevante que o clube tivesse ganho muitas coisas importantes antes ainda da camisola ser feita, ou de o seu dono ter nascido... Ou a premonição que tivemos, e que bateu certa, esquecendo-nos nós de todas as que tivemos e bateram erradas...
Mas não temos que nos achar mais estúpidos por isso. Numa experiência feita com pombos, em que eles tinham que accionar uma caixa que lhes dava comida, foi possivel observar comportamentos "supersticiosos". Os pombos, face a uma distribuição aleatória de sucesso, tinham tendência a repetir gestos que tinham antecedido uma tentativa bem sucedida de obter comida.
Espertos, não?
PS: Não sou matemático, se usei termos tecnicamente incorrectos... paciência.
27 janeiro, 2006
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4 comentários:
Bem vindo à Ciência Popular não ilustrada
Que nasceu para carapau nunca chega a sardinha...
sm: sem dúvida, mas se podemos influenciar o decorrer dos acontecimentoa estamos perante um evento não completamente aleatório :)
Além disso, como me chamaram a atenção, a lei de murphy encarrega-se de assegurar que o entusiasmo e confiança são em vão... se tem probabilidades de correr mais, corre. ;)
correr mal, não mais.
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