Aqui há uns tempos, fiquei a saber como se desenvolve a visão estereoscópica nos primatas, nós incluidos. É um exemplo da estreita colaboração entre genética e aprendizagem que faz de nós o que somos.
Durante os três primeiros meses de vida o bebé não foca, porque ainda não processa individualmente as imagens de um e outro olho. Nesse periodo, um grupo de neurónios separa-se funcionalmente em dois, metade para olho esquerdo, metade para o direito.
Se por acaso um dos olhos permanecer tapado durante esse período ficará funcionalmente cego, embora estruturalmente intacto. Mas os neurónios que estavam destinados a processar a visão desse lado irão encarregar-se também do outro olho, o que recebe informação.
Ocorreu-me uma interrogação inquietante. É provável que o mesmo tipo de mecanismo se aplique a outras funções e aptidões. Por exemplo, se uma pessoa não se apaixonar na adolescência, se não aprender a arriscar, a fazer tolices, a desproteger-se, será que não está a deixar passar a sua "janela" de aprendizagem? E arrisca-se assim a seguir pela vida desapaixonadamente cego?
Porque é que isto me ocorreu, é cá comigo.
30 janeiro, 2006
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4 comentários:
Este poste ou é para ser tomado á letra ou não é. Se não é (caminho que prefiro seguir) ele é entusiasmante no salto literário - a palavra certa - que estabelece entre o neurológico e o psicológico.
Se for para tomar à letra, aí o caso "pio mais fino" e, qual funâmbulo, equilibra-se precariamente numa corda que procura aproximar os dois territórios mencionados.
Em suma, o que literariamente é possível e aplaudo pela forma, considero impossível atingir pela outra via.
Explicando de forma mais sucinta: Para mim a resposta é não.
De facto, não era para tomar à letra. Mas a metáfora não é um mero exercício literário...
Ainda assim acho curiosa a tua relutãncia em aproximar o psicológico do neurológico. Se fosse do ortopédico...
Pela minha experiência pessoal não há perigo.
Não me apaixonei na adolescência, mas isso não me impediu de arriscar, fazer tolices, desproteger-me, apaixonar-me perdidamente e ter sido muito feliz anos depois (gosto de pensar que não foi antes porque ainda não o conhecia e tinha de ser ele).
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