Quem tenha lido o livro que deu origem ao filme, saberá que o título original era "Do Androids Dream of Electric Sheep?". Para mim o moral, se o havia em Blade Runner, é que vale mais uma boa mentira do que uma verdade assim assim.
Isto parece dificil de defender. Mas se pensarmos que da realidade só sabemos o que o nosso cérebro nos diz sobre ela, e que basta perceber um pouco sobre como funcionam os sentidos para termos a noção de que a nossa percepção é fruto tanto de uma leitura directa do que nos rodeia como uma construção do nosso cérebro, talvez comecemos a olhar a realidade com outros olhos.
Vem isto a propósito de uma notícia que li sobre uns pequenos e felpudos robots, desenhados como focas bebés, que têm com sucesso sido utilizados em terapias de pessoas com dificuldades a diversos níveis, desde autistas a anciãos solitários.
Nada de específico do robot. Os efeitos deste são os que exerceria um animal de estimação, só que o robot não morre por nos esquecermos de lhe dar comida.
Ver uma senhora de idade acariciar e conversar com o seu Paro - é o nome dos "bichos" - deve ser uma sensação no mínimo estranha. Mas a verdade é que o robot providencia uma série de sinais que a velha, e abandonada, senhora interpreta como "relacionais". Contacto visual, reacção à voz, à brusqueza ou delicadeza dos gestos etc.
Se os nossos sentimentos mais "humanos" como os da afectividade podem ser estimulados (manipulados?) e imitados, por um artefacto onde fica de facto a fronteira entre natural e artificial, entre o humano e a máquina?
Um robot não ama, todos o sabemos. Mas se imita na perfeição as atitudes de um ser apaixonado, como distinguir? E não o farão os humanos? Imitar, simular...
Deckard, o protagonista de Blade Runner, terminava assumindo a sua paixão por um ser artificial. A única coisa que diferenciava Rachael dos outros androides era não ter uma data marcada para o fim. Mas, também, quem tem?
30 janeiro, 2006
Janelas de oportunidade
Aqui há uns tempos, fiquei a saber como se desenvolve a visão estereoscópica nos primatas, nós incluidos. É um exemplo da estreita colaboração entre genética e aprendizagem que faz de nós o que somos.
Durante os três primeiros meses de vida o bebé não foca, porque ainda não processa individualmente as imagens de um e outro olho. Nesse periodo, um grupo de neurónios separa-se funcionalmente em dois, metade para olho esquerdo, metade para o direito.
Se por acaso um dos olhos permanecer tapado durante esse período ficará funcionalmente cego, embora estruturalmente intacto. Mas os neurónios que estavam destinados a processar a visão desse lado irão encarregar-se também do outro olho, o que recebe informação.
Ocorreu-me uma interrogação inquietante. É provável que o mesmo tipo de mecanismo se aplique a outras funções e aptidões. Por exemplo, se uma pessoa não se apaixonar na adolescência, se não aprender a arriscar, a fazer tolices, a desproteger-se, será que não está a deixar passar a sua "janela" de aprendizagem? E arrisca-se assim a seguir pela vida desapaixonadamente cego?
Porque é que isto me ocorreu, é cá comigo.
Durante os três primeiros meses de vida o bebé não foca, porque ainda não processa individualmente as imagens de um e outro olho. Nesse periodo, um grupo de neurónios separa-se funcionalmente em dois, metade para olho esquerdo, metade para o direito.
Se por acaso um dos olhos permanecer tapado durante esse período ficará funcionalmente cego, embora estruturalmente intacto. Mas os neurónios que estavam destinados a processar a visão desse lado irão encarregar-se também do outro olho, o que recebe informação.
Ocorreu-me uma interrogação inquietante. É provável que o mesmo tipo de mecanismo se aplique a outras funções e aptidões. Por exemplo, se uma pessoa não se apaixonar na adolescência, se não aprender a arriscar, a fazer tolices, a desproteger-se, será que não está a deixar passar a sua "janela" de aprendizagem? E arrisca-se assim a seguir pela vida desapaixonadamente cego?
Porque é que isto me ocorreu, é cá comigo.
27 janeiro, 2006
Carapaus Perigosos
Um nosso conhecido engasga-se na espinha de um carapau. Passa um mau bocado e tem que ir ao hospital, até. E depois conta-nos a história.
Durante uns tempos, pelo menos, vamos olhar para os carapaus como uns bichos perigosos. Quando levarmos o garfo à boca vamos ter especial atenção, e reagir de uma forma excepcionalmente enérgica à presença de espinhas, ou à mera impressão de uma.
E no entanto não aconteceu nada aos carapaus que os tornasse mais perigosos do que antes.
O nosso cérebro está pouco vocacionado para estatísticas. Estamos mais aptos a procurar padrões, detectar sequências, acertar ritmos. Eventos singulares, ou seja, eventos cuja probabilidade é inalterada pela sua ocorrência, são coisas que nos fazem confusão.
Um exemplo clássico é a chamada falácia do jogador. Uma moeda pode dar cara ou coroa, e independentemente de num dado momento dar uma coisa ou outra, isso não afecta o lance seguinte, que continua a ter 50/50 de probabilidades de dar uma coisa ou outra.
No entanto tendemos a achar que, depois de uma sequência em que tiramos 6 vezes seguidas Cara, é mais provável que tiremos Coroa. A chamada fezada.
O mesmo fenómeno pode ser visto nos sistemas de apostar no totoloto, com grandes listas de números que saem mais, e outros que saem menos... A não ser que as bolas na tômbola não sejam iguais, tenham pesos diferentes, ou qualquer outro factor que perturbe a aleatoriedade da coisa, a probabilidade de sair um número é igual à de qualquer outro. E voltará a sê-lo na semana seguinte.
Esta avaliação subjectiva dos acontecimentos é o que leva a uma série de superstições. A camisola da sorte, que é a que estava vestida quando o nosso clube ganhou um jogo importante, por exemplo. É aparentemente irrelevante que o clube tivesse ganho muitas coisas importantes antes ainda da camisola ser feita, ou de o seu dono ter nascido... Ou a premonição que tivemos, e que bateu certa, esquecendo-nos nós de todas as que tivemos e bateram erradas...
Mas não temos que nos achar mais estúpidos por isso. Numa experiência feita com pombos, em que eles tinham que accionar uma caixa que lhes dava comida, foi possivel observar comportamentos "supersticiosos". Os pombos, face a uma distribuição aleatória de sucesso, tinham tendência a repetir gestos que tinham antecedido uma tentativa bem sucedida de obter comida.
Espertos, não?
PS: Não sou matemático, se usei termos tecnicamente incorrectos... paciência.
Durante uns tempos, pelo menos, vamos olhar para os carapaus como uns bichos perigosos. Quando levarmos o garfo à boca vamos ter especial atenção, e reagir de uma forma excepcionalmente enérgica à presença de espinhas, ou à mera impressão de uma.
E no entanto não aconteceu nada aos carapaus que os tornasse mais perigosos do que antes.
O nosso cérebro está pouco vocacionado para estatísticas. Estamos mais aptos a procurar padrões, detectar sequências, acertar ritmos. Eventos singulares, ou seja, eventos cuja probabilidade é inalterada pela sua ocorrência, são coisas que nos fazem confusão.
Um exemplo clássico é a chamada falácia do jogador. Uma moeda pode dar cara ou coroa, e independentemente de num dado momento dar uma coisa ou outra, isso não afecta o lance seguinte, que continua a ter 50/50 de probabilidades de dar uma coisa ou outra.
No entanto tendemos a achar que, depois de uma sequência em que tiramos 6 vezes seguidas Cara, é mais provável que tiremos Coroa. A chamada fezada.
O mesmo fenómeno pode ser visto nos sistemas de apostar no totoloto, com grandes listas de números que saem mais, e outros que saem menos... A não ser que as bolas na tômbola não sejam iguais, tenham pesos diferentes, ou qualquer outro factor que perturbe a aleatoriedade da coisa, a probabilidade de sair um número é igual à de qualquer outro. E voltará a sê-lo na semana seguinte.
Esta avaliação subjectiva dos acontecimentos é o que leva a uma série de superstições. A camisola da sorte, que é a que estava vestida quando o nosso clube ganhou um jogo importante, por exemplo. É aparentemente irrelevante que o clube tivesse ganho muitas coisas importantes antes ainda da camisola ser feita, ou de o seu dono ter nascido... Ou a premonição que tivemos, e que bateu certa, esquecendo-nos nós de todas as que tivemos e bateram erradas...
Mas não temos que nos achar mais estúpidos por isso. Numa experiência feita com pombos, em que eles tinham que accionar uma caixa que lhes dava comida, foi possivel observar comportamentos "supersticiosos". Os pombos, face a uma distribuição aleatória de sucesso, tinham tendência a repetir gestos que tinham antecedido uma tentativa bem sucedida de obter comida.
Espertos, não?
PS: Não sou matemático, se usei termos tecnicamente incorrectos... paciência.
26 janeiro, 2006
Reciprocamente exclusivos
Hoje dei-me conta de que os amantes, quando se beijam, não podem sorrir. E vice-versa.
25 janeiro, 2006
2.400.000.000 sec.
Estive a fazer as contas. Uma pessoa que viva uns 75 anos, tem pouco mais ou menos 2,4 mil milhões de segundos.
Metade já lá vai...
Metade já lá vai...
24 janeiro, 2006
O fim da poesia
No seu livro "Unweaving the Rainbow", Richard Dawkins tentou dar aos seus leitores razões para crerem que a ciência não levava ao fim da poesia. Quanto a mim não foi muito bem sucedido.
Não porque não tenha razão, nessa afirmação simples, mas ao defender a ideia de que quem está nas fronteiras do conhecimento tem sensações de maravilhamento e interrogação que em nada ficam a dever aos "mistérios" celebrados pelos poetas, pareceu-me reservar a poesia para quem priva nessa franja. Todos os outros, os que não fazem ciência de ponta, ficavam condenados a elaborar sobre frivolidades que as mentes mais privilegiadas já tinham dissecado, analisado, concretizado e racionalizado. Estou a exagerar, provavelmente, mas eu até admiro o homem e não gostei de o ver a fazer figuras daquelas.
Mas eis que me dou conta, numa obra de um seu par, de uma (possível) explicação científica para o amor.
Sabem do que falo. O AMOR, aquele... o do fogo que arde sem se ver... o dos amantes clandestinos... o do Romeu e Julieta... explicado pela ciência. Dir-se-ia o fim definitivo da poesia. Keats (o autor do poema original que indirectamente criticava Newton por retirar a poesia ao Arco-Íris) iria dar mais umas cambalhotas no túmulo.
Ou talvez não.
O que esta explicação avança, ao tentar dar um significado biológico ao amor, é que o papel dele é... ser um mistério. Ou seja, se o amor se percebesse não servia para nada.
Do ponto de vista de um casal que "celebra um contrato" o amor servirá para tornar dificil comparar o negócio que fizémos com outros que nos possam aparecer. Se for verdade que na busca de um par tentamos encontrar a melhor pessoa - a mais bela, mais nobre, mais rica, etc - que nos aceita, uma união feita unicamente nesses termos estaria sempre sujeita a ser posta em causa por alguém melhor que aparecesse. O que, de resto, não deixa de acontecer.
Mas o amor baralha tudo. Se não conseguirmos enumerar todas as razões que nos prendem numa relação, não podemos comparar o que temos com coisa nenhuma. E isso protege a relação e aumenta a sua esperança de vida. O que faz sentido do ponto de vista biológico. Conclui-se portanto que o amor tem que ser assim, inexplicável, irracional, intangível, para fazer sentido.
O que me traz de novo à questão da poesia. Afinal não sei se Dawkins estava certo ou não. A Natureza na sua imensa e cega sabedoria, produziu o maior dos mistérios. O mistério cuja razão de ser, é ser um mistério.
É a ciência que o diz, o que dará alguma razão a Dawkins. Mas por outro lado todos estamos igualmente inabilitados para compreender o amor, o que faz com que afinal todos possam ainda ser poetas.
P.S.
Posto isto, poderemos ir mais longe e dizer que quem sabe porque ama, não ama verdadeiramente?
Não porque não tenha razão, nessa afirmação simples, mas ao defender a ideia de que quem está nas fronteiras do conhecimento tem sensações de maravilhamento e interrogação que em nada ficam a dever aos "mistérios" celebrados pelos poetas, pareceu-me reservar a poesia para quem priva nessa franja. Todos os outros, os que não fazem ciência de ponta, ficavam condenados a elaborar sobre frivolidades que as mentes mais privilegiadas já tinham dissecado, analisado, concretizado e racionalizado. Estou a exagerar, provavelmente, mas eu até admiro o homem e não gostei de o ver a fazer figuras daquelas.
Mas eis que me dou conta, numa obra de um seu par, de uma (possível) explicação científica para o amor.
Sabem do que falo. O AMOR, aquele... o do fogo que arde sem se ver... o dos amantes clandestinos... o do Romeu e Julieta... explicado pela ciência. Dir-se-ia o fim definitivo da poesia. Keats (o autor do poema original que indirectamente criticava Newton por retirar a poesia ao Arco-Íris) iria dar mais umas cambalhotas no túmulo.
Ou talvez não.
O que esta explicação avança, ao tentar dar um significado biológico ao amor, é que o papel dele é... ser um mistério. Ou seja, se o amor se percebesse não servia para nada.
Do ponto de vista de um casal que "celebra um contrato" o amor servirá para tornar dificil comparar o negócio que fizémos com outros que nos possam aparecer. Se for verdade que na busca de um par tentamos encontrar a melhor pessoa - a mais bela, mais nobre, mais rica, etc - que nos aceita, uma união feita unicamente nesses termos estaria sempre sujeita a ser posta em causa por alguém melhor que aparecesse. O que, de resto, não deixa de acontecer.
Mas o amor baralha tudo. Se não conseguirmos enumerar todas as razões que nos prendem numa relação, não podemos comparar o que temos com coisa nenhuma. E isso protege a relação e aumenta a sua esperança de vida. O que faz sentido do ponto de vista biológico. Conclui-se portanto que o amor tem que ser assim, inexplicável, irracional, intangível, para fazer sentido.
O que me traz de novo à questão da poesia. Afinal não sei se Dawkins estava certo ou não. A Natureza na sua imensa e cega sabedoria, produziu o maior dos mistérios. O mistério cuja razão de ser, é ser um mistério.
É a ciência que o diz, o que dará alguma razão a Dawkins. Mas por outro lado todos estamos igualmente inabilitados para compreender o amor, o que faz com que afinal todos possam ainda ser poetas.
P.S.
Posto isto, poderemos ir mais longe e dizer que quem sabe porque ama, não ama verdadeiramente?
23 janeiro, 2006
tic-tac, tic-tac
Este post ecoa a resposta de Esther Dyson à pergunta anual feita pela www.edge.org, na sua edição de 2005.
“vivemos cada vez mais tempo, mas pensamos cada vez mais a curto prazo”
Como a autora nota, isto tornou-se particularmente notório no mundo dos negócios, onde tudo passou a funcionar num horizonte máximo de 3 meses, especialmente depois do 9/11. Ninguém tenta ver a longo prazo. E mesmo a noção de longo prazo parece não ultrapassar o horizonte da próxima mudança politica.
Este ambiente de imediatismo fatalista é especialmente propício a todo o tipo de oportunismos e abusos. Sob o espectro da insegurança, tomam-se medidas “conservadoras”, “prudentes” (como congelar salários).
As galinhas dos ovos de ouro fazem fila para a degola, porque ninguém está para esperar. Sabe-se lá se não nos cai um avião em cima?
Noutro lado do espectro acontece um outro fenómeno que contribui para a sensação de urgência. A avalancha de informação que nos chega exige cada vez mais atenção, e o tempo não nos chega.
Há diversas consequências perversas para este facto: por um lado somos cada vez mais receptivos a informação facilmente digerível. Se nos dão coisas que nos obrigam a pensar, e não temos tempo para isso... descartamos.
Por outro lado temos um ambiente de complexidade crescente, que nos desafia a capacidade de tomar decisões racionais. Se o que nos distinguia dos animais era termos uma maior capacidade de compreender o ambiente e assim antecipar decisões e estratégias, essa diferença esbate-se quando a areia é demais para a nossa camioneta. Ficamos mais prontos a responder por instinto. E portanto mais vulneráveis aos oportunistas de que falei noutro post.
“vivemos cada vez mais tempo, mas pensamos cada vez mais a curto prazo”
Como a autora nota, isto tornou-se particularmente notório no mundo dos negócios, onde tudo passou a funcionar num horizonte máximo de 3 meses, especialmente depois do 9/11. Ninguém tenta ver a longo prazo. E mesmo a noção de longo prazo parece não ultrapassar o horizonte da próxima mudança politica.
Este ambiente de imediatismo fatalista é especialmente propício a todo o tipo de oportunismos e abusos. Sob o espectro da insegurança, tomam-se medidas “conservadoras”, “prudentes” (como congelar salários).
As galinhas dos ovos de ouro fazem fila para a degola, porque ninguém está para esperar. Sabe-se lá se não nos cai um avião em cima?
Noutro lado do espectro acontece um outro fenómeno que contribui para a sensação de urgência. A avalancha de informação que nos chega exige cada vez mais atenção, e o tempo não nos chega.
Há diversas consequências perversas para este facto: por um lado somos cada vez mais receptivos a informação facilmente digerível. Se nos dão coisas que nos obrigam a pensar, e não temos tempo para isso... descartamos.
Por outro lado temos um ambiente de complexidade crescente, que nos desafia a capacidade de tomar decisões racionais. Se o que nos distinguia dos animais era termos uma maior capacidade de compreender o ambiente e assim antecipar decisões e estratégias, essa diferença esbate-se quando a areia é demais para a nossa camioneta. Ficamos mais prontos a responder por instinto. E portanto mais vulneráveis aos oportunistas de que falei noutro post.
20 janeiro, 2006
Humano, que humano?
Este post provavelmente deveria ter antecedido o anterior, numa estrutura de desenvolvimento temático, mas como não é esse o critério, fica perfeitamente aqui.
Quando me interrogava sobre o que escrever a seguir, dei-me conta - lá está - de que há uma questão geral que se coloca com especial ênfase neste principio de século. O post anterior aponta para essa questão, apenas por um ângulo particular. Mas os desafios vêm de todas as direcções.
A questão é velha como a humanidade.
Afinal, o que é ser Humano?
Não sou só eu que me dou conta de coisas.
Alguns especialistas económicos, por exemplo, deram-se conta de que a actual teoria dominante tem por base uma concepção de humanidade restrita à experiencia ocidental dos ultimos 200 anos. O sucesso do ocidente deu a ilusão de que o nosso modelo geral de desenvolvimento era o melhor, se não o único.
E incrustado nele está a ideia o Homem é um ser que apenas precisa de satisfação material, e que o traço que melhor o define e é o exclusivo e intocável motor de progresso, é a cobiça. Assim de repente diria que é melhor pensar mais no assunto.
Os psicólogos dão conta de coisas como as que descrevi no primeiro post. Por outro lado Educação vs Genética (Nurture vs Nature) para nos definir é uma dialética que começa a ser ultrapassada. Cada vez mais se apresentam como interdependentes.
Os neurologistas descobriram recentemente indícios de que nós também somos um pouco os outros, por via de umas estruturas neuronais cuja função aparente é colocar-nos na pele dos outros. A origem de coisas como a empatia e a noção básica mas imensamente poderosa de que existe uma mente dentro dos corpos dos outros seres humanos. OU pelo menos da maioria.
No campo da cibernética e na nanotecnologia explora-se a transformação do corpo humano. A ideia de ficção cientifica de seres biónicos, meio orgânicos meio máquina, parece um filme do van Damme. Mas se nos dermos conta de que, por exemplo, já foi possível curar diabetes tipo 1 em ratos de laboratório com recurso a nanomáquinas, seremos tão rápidos a rejeitar estes desenvolvimentos como desumanizantes?
Destas questões todas, e outras poderia acrescentar, a mais importante e urgente parece-me a primeira. Porque põe em causa a nossa sobrevivência enquanto espécie. Mas não se resolve a primeira sem recurso à segunda...
A economia e política presumivelmente têm como objecto promover a procura da felicidade dos individuos. Ora se isso é assim, uma economia e política que não procurem maximizar os factores de satisfação individual são falhanços à partida.
Se a psicologia e sociologia nos dizem que as pessoas são tanto mais felizes quanto mais integradas em núcleos familiares estáveis, em relações amorosas e sociais ricas, quando têm filhos, amigos, uma comunidade e que o principal factor de infelicidade é a desigualdade, as assimetrias de posses e estilos de vida... já estamos a ver que há muito por fazer.
Quando me interrogava sobre o que escrever a seguir, dei-me conta - lá está - de que há uma questão geral que se coloca com especial ênfase neste principio de século. O post anterior aponta para essa questão, apenas por um ângulo particular. Mas os desafios vêm de todas as direcções.
A questão é velha como a humanidade.
Afinal, o que é ser Humano?
Não sou só eu que me dou conta de coisas.
Alguns especialistas económicos, por exemplo, deram-se conta de que a actual teoria dominante tem por base uma concepção de humanidade restrita à experiencia ocidental dos ultimos 200 anos. O sucesso do ocidente deu a ilusão de que o nosso modelo geral de desenvolvimento era o melhor, se não o único.
E incrustado nele está a ideia o Homem é um ser que apenas precisa de satisfação material, e que o traço que melhor o define e é o exclusivo e intocável motor de progresso, é a cobiça. Assim de repente diria que é melhor pensar mais no assunto.
Os psicólogos dão conta de coisas como as que descrevi no primeiro post. Por outro lado Educação vs Genética (Nurture vs Nature) para nos definir é uma dialética que começa a ser ultrapassada. Cada vez mais se apresentam como interdependentes.
Os neurologistas descobriram recentemente indícios de que nós também somos um pouco os outros, por via de umas estruturas neuronais cuja função aparente é colocar-nos na pele dos outros. A origem de coisas como a empatia e a noção básica mas imensamente poderosa de que existe uma mente dentro dos corpos dos outros seres humanos. OU pelo menos da maioria.
No campo da cibernética e na nanotecnologia explora-se a transformação do corpo humano. A ideia de ficção cientifica de seres biónicos, meio orgânicos meio máquina, parece um filme do van Damme. Mas se nos dermos conta de que, por exemplo, já foi possível curar diabetes tipo 1 em ratos de laboratório com recurso a nanomáquinas, seremos tão rápidos a rejeitar estes desenvolvimentos como desumanizantes?
Destas questões todas, e outras poderia acrescentar, a mais importante e urgente parece-me a primeira. Porque põe em causa a nossa sobrevivência enquanto espécie. Mas não se resolve a primeira sem recurso à segunda...
A economia e política presumivelmente têm como objecto promover a procura da felicidade dos individuos. Ora se isso é assim, uma economia e política que não procurem maximizar os factores de satisfação individual são falhanços à partida.
Se a psicologia e sociologia nos dizem que as pessoas são tanto mais felizes quanto mais integradas em núcleos familiares estáveis, em relações amorosas e sociais ricas, quando têm filhos, amigos, uma comunidade e que o principal factor de infelicidade é a desigualdade, as assimetrias de posses e estilos de vida... já estamos a ver que há muito por fazer.
19 janeiro, 2006
Liberdade, livre arbítrio, responsabilidade.
Uma noção de que fui dando conta, e artigos recentes que li aprofundaram, é que as pessoas não têm verdadeiramente ideia das razões porque fazem muitas coisas.
A psicologia tem vindo a descobrir factos muito curiosos. Coisas que ninguém admite mas que toda a gente faz num momento ou noutro. Como dar mais importância a uma pessoa apenas porque é mais alta. Ou ter um comportamento mais agressivo porque estivemos expostos a uma mulher bonita. Fazer coisas estúpidas apenas porque achamos que há uma autoridade superior que a isso nos obriga. No caso das mulheres, serem mais infieis no seu periodo fértil.
Podemos perguntar a cada pessoa o que faria nesta ou naquela situação, e o mais certo é termos uma resposta que é apenas o que a pessoa considera correcto ou seguro. Mas que pouco ou nada tem que ver com a realidade.
A verdade é que somos movidos em grande parte por mecanismos que nos ficaram de muitos milhares de anos de selecção darwiniana. Somos muito mais irresponsáveis do que pensamos.
Somos inimputáveis. O nosso quotidiano está cheio de insanidades temporárias.
E depois há os profissionais do embuste, como os políticos, os vigaristas e os publicitários. Eles mais não fazem do que activar os nossos automatismos. E nós, cheios da nossa ilusão de sermos seres livres e racionais, caímos em toda a espécie de esparrelas para depois assumirmos alegremente toda a responsabilidade.
Afinal, ninguém gosta de ser confrontado com a sua própria menoridade, não é?
A psicologia tem vindo a descobrir factos muito curiosos. Coisas que ninguém admite mas que toda a gente faz num momento ou noutro. Como dar mais importância a uma pessoa apenas porque é mais alta. Ou ter um comportamento mais agressivo porque estivemos expostos a uma mulher bonita. Fazer coisas estúpidas apenas porque achamos que há uma autoridade superior que a isso nos obriga. No caso das mulheres, serem mais infieis no seu periodo fértil.
Podemos perguntar a cada pessoa o que faria nesta ou naquela situação, e o mais certo é termos uma resposta que é apenas o que a pessoa considera correcto ou seguro. Mas que pouco ou nada tem que ver com a realidade.
A verdade é que somos movidos em grande parte por mecanismos que nos ficaram de muitos milhares de anos de selecção darwiniana. Somos muito mais irresponsáveis do que pensamos.
Somos inimputáveis. O nosso quotidiano está cheio de insanidades temporárias.
E depois há os profissionais do embuste, como os políticos, os vigaristas e os publicitários. Eles mais não fazem do que activar os nossos automatismos. E nós, cheios da nossa ilusão de sermos seres livres e racionais, caímos em toda a espécie de esparrelas para depois assumirmos alegremente toda a responsabilidade.
Afinal, ninguém gosta de ser confrontado com a sua própria menoridade, não é?
Bom dia, são meia noite e vinte cinco.
Grande responsabilidade, o primeiro post de um blog... Pensei longamente no que deveria trazer aqui para debater comigo. Sem desprezo para quem me leia, escrevo em primeiro lugar para pôr as minhas ideias em ordem. Aqui não tenho a tentação do desenho que vem agarrado a uma folha de papel, ou a desbragada liberdade (ou deveria chamar-lhe caos?) que me enche a cabeça sempre que pode.
O pensamento é muito irrequieto. Cada ideia traz todas agarradas. Aqui, assim, na escrita, sai tudo ordenadinho. Cada palavra tira senha e espera germanicamente a sua vez.
Posso desde já dizer que isto começa mal. A ideia de fazer este blog, ou blogue - um dia decido - era, e será, fazer um relato das coisas que vou aprendendo pelos dias fora. Ou de que me vou dando conta. E até agora, nada de novo.
Bem... Aprendi a fazer um blog ou blogue.
Nomes que considerei, como "escola da vida" (juro que considerei, João Vasco), ou "viver e aprender", ou "sempre a aprender", já estavam tomados. Por isso tive que arranjar a minha própria palavra. Talvez pela educação que tive, fico sempre mais contente quando não devo nada a ninguém. Com este feitio não vou longe.
O pensamento é muito irrequieto. Cada ideia traz todas agarradas. Aqui, assim, na escrita, sai tudo ordenadinho. Cada palavra tira senha e espera germanicamente a sua vez.
Posso desde já dizer que isto começa mal. A ideia de fazer este blog, ou blogue - um dia decido - era, e será, fazer um relato das coisas que vou aprendendo pelos dias fora. Ou de que me vou dando conta. E até agora, nada de novo.
Bem... Aprendi a fazer um blog ou blogue.
Nomes que considerei, como "escola da vida" (juro que considerei, João Vasco), ou "viver e aprender", ou "sempre a aprender", já estavam tomados. Por isso tive que arranjar a minha própria palavra. Talvez pela educação que tive, fico sempre mais contente quando não devo nada a ninguém. Com este feitio não vou longe.
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