Parte 1
Parte 2
26 outubro, 2007
24 outubro, 2007
Quem não percebeu ainda...
O que se passa, e passou nos mercados financeiros, faça-se um favor e vá aos Ladrões de Bicicletas ver isto.
(é YouTube. Sorry, Miss In a While)
(é YouTube. Sorry, Miss In a While)
23 outubro, 2007
Natureza humana & Northern Rock
Este excelente artigo do sempre excelente George Monbiot vai directinho a uma série de questões que me assaltam com regularidade. Logo que tenha tempo acrescentarei aqui mais umas colheradas, suscitadas mais pelos comentários que se podem ler depois do que pelo artigo em si.
Mais umas colheradas, então:
No artigo George Monbiot fala do responsável do Northern Rock, uma entidade bancária que teve que receber 16biliões de libras do governo para evitar um colapso que poderia arrastar todo o sistema bancário para o fundo.
Aparentemente, o dito responsável, com formação em zoologia foi durante boa parte dos anos 90 um colunista que defendia com eloquência a bondade de libertar os instintos humanos de egoísmo e auto-interesse, enquanto geradores de cooperação e altruismo. Uma versão genética da Mão Invisível. Para tal (surpresa!) o Governo deveria sair de cena e deixar cada um aos seus desígnios.
No mundo real esta filosofia deu um banco que perseguiu imprudentemente os seus “objectivos egoístas”, e acabou por chegar a uma situação insustentável. E lá veio o dinheiro dos contribuintes salvar o dia.
Dos comentários que li, dois despertaram o meu interesse. Um o de um provável libertário que diz que é o estado “socialista” que acaba por subtrair o dinheiro ao contribuinte já que o banco devia arcar com a responsabilidade das suas decisões, e se tinha que cair, caía.
Para estas pessoas, é indiferente o destino de todos os que fizeram os seus créditos, colocaram as suas poupanças, enfim, confiaram no banco.
São aqueles que acham (mesmo que não o admitam) que a fome faz sentido economicamente. Chama-se “destruição de procura”. Afinal, se as pessoas não tinham dinheiro para comprar comida, não se deviam ter endividado na mercearia.
O outro comentário diz “Não... as pessoas não são egoístas!” e dá como exemplo o hipotético herói que no Iraque se atira para cima de uma granada para salvar o pelotão. Este argumento não contraria Monbiot.
No artigo Monbiot afirma que sim, há um certo determinismo biológico que nos condiciona, e somos inerentemente egoístas. Esse egoísmo era, nos clãs pré-históricos que constituem 99% da história da humanidade, controlado pelos mecanismos familiares e sociais. Afinal, não vamos ser uns pulhas para pessoas que vemos todos os dias. Num clã não duraríamos muito tempo.
O soldado que salva a vida dos camaradas é motivado por valores internos ao grupo. O mesmo soldado faria o mesmo sacrifício para salvar meia dúzia de desconhecidos no outro lado do mundo?
Nas nossas sociedades, em que temos relações de toda a espécie com pessoas que não vemos, nomeadamente nossos clientes, ou empregados, podemos incorrer em comportamentos anti-sociais com reduzido risco de retaliação ou correcção. É por isso que há leis e governos, e é por isso que ambos são tanto mais importantes quanto mais distantes estivermos do clã pré-histórico que nos viu evoluir.
Mais umas colheradas, então:
No artigo George Monbiot fala do responsável do Northern Rock, uma entidade bancária que teve que receber 16biliões de libras do governo para evitar um colapso que poderia arrastar todo o sistema bancário para o fundo.
Aparentemente, o dito responsável, com formação em zoologia foi durante boa parte dos anos 90 um colunista que defendia com eloquência a bondade de libertar os instintos humanos de egoísmo e auto-interesse, enquanto geradores de cooperação e altruismo. Uma versão genética da Mão Invisível. Para tal (surpresa!) o Governo deveria sair de cena e deixar cada um aos seus desígnios.
No mundo real esta filosofia deu um banco que perseguiu imprudentemente os seus “objectivos egoístas”, e acabou por chegar a uma situação insustentável. E lá veio o dinheiro dos contribuintes salvar o dia.
Dos comentários que li, dois despertaram o meu interesse. Um o de um provável libertário que diz que é o estado “socialista” que acaba por subtrair o dinheiro ao contribuinte já que o banco devia arcar com a responsabilidade das suas decisões, e se tinha que cair, caía.
Para estas pessoas, é indiferente o destino de todos os que fizeram os seus créditos, colocaram as suas poupanças, enfim, confiaram no banco.
São aqueles que acham (mesmo que não o admitam) que a fome faz sentido economicamente. Chama-se “destruição de procura”. Afinal, se as pessoas não tinham dinheiro para comprar comida, não se deviam ter endividado na mercearia.
O outro comentário diz “Não... as pessoas não são egoístas!” e dá como exemplo o hipotético herói que no Iraque se atira para cima de uma granada para salvar o pelotão. Este argumento não contraria Monbiot.
No artigo Monbiot afirma que sim, há um certo determinismo biológico que nos condiciona, e somos inerentemente egoístas. Esse egoísmo era, nos clãs pré-históricos que constituem 99% da história da humanidade, controlado pelos mecanismos familiares e sociais. Afinal, não vamos ser uns pulhas para pessoas que vemos todos os dias. Num clã não duraríamos muito tempo.
O soldado que salva a vida dos camaradas é motivado por valores internos ao grupo. O mesmo soldado faria o mesmo sacrifício para salvar meia dúzia de desconhecidos no outro lado do mundo?
Nas nossas sociedades, em que temos relações de toda a espécie com pessoas que não vemos, nomeadamente nossos clientes, ou empregados, podemos incorrer em comportamentos anti-sociais com reduzido risco de retaliação ou correcção. É por isso que há leis e governos, e é por isso que ambos são tanto mais importantes quanto mais distantes estivermos do clã pré-histórico que nos viu evoluir.
22 outubro, 2007
We came a long way
What Keeps Mankind Alive
(clicar no título para ver e ouvir)
(Weill/Brecht 1928)
You gentlemen who think you have a mission
To purge us of the seven deadly sins
Should first sort out the basic food position
Then start your preaching, that’s where it begins
You lot who preach restraint and watch your waist as well
Should learn, for once, the way the world is run
However much you twist or whatever lies that you tell
Food is the first thing, morals follow on
So first make sure that those who are now starving
Get proper helpings when we all start carving
What keeps mankind alive?
What keeps mankind alive?
The fact that millions are daily tortured
Stifled, punished, silenced and oppressed
Mankind can keep alive thanks to its brilliance
In keeping its humanity repressed
And for once you must try not to shriek the facts
Mankind is kept alive by bestial acts.
(clicar no título para ver e ouvir)
(Weill/Brecht 1928)
You gentlemen who think you have a mission
To purge us of the seven deadly sins
Should first sort out the basic food position
Then start your preaching, that’s where it begins
You lot who preach restraint and watch your waist as well
Should learn, for once, the way the world is run
However much you twist or whatever lies that you tell
Food is the first thing, morals follow on
So first make sure that those who are now starving
Get proper helpings when we all start carving
What keeps mankind alive?
What keeps mankind alive?
The fact that millions are daily tortured
Stifled, punished, silenced and oppressed
Mankind can keep alive thanks to its brilliance
In keeping its humanity repressed
And for once you must try not to shriek the facts
Mankind is kept alive by bestial acts.
19 outubro, 2007
Sr. Candidato
Da blogosfera americana chegam estas sugestões de perguntas a colocar aos candidatos Republicanos:
O que eu não daria para ouvir as respostas....
1: Faria sexo com um homem para evitar um ataque terrorista?
2: Se baixar os impostos resulta em mais receitas públicas, baixar os impostos para zero, resulta em receitas infinitas?
3.Se tivesse uma máquina do tempo, andaria para trás e obrigaria a mãe de Bin Laden a fazer um aborto?
4.Torturaria e mataria Jesus para garantir a Salvação da Humanidade? E como é que isso funciona?
O que eu não daria para ouvir as respostas....
Desafio
Seja quem for que esteja vivo a ficar parado enquanto ouve isto:
There She Goes, My Beatiful World, Nick Cave (para quem não consegue ver You Tubes)
There She Goes, My Beatiful World, Nick Cave (para quem não consegue ver You Tubes)
17 outubro, 2007
Organizem-se!
Normalmente não comento actualidades, mas acabei de ouvir o nosso Presidente da Republica a falar da pobreza e de como os numeros o envergonhavam. Acrescentou qualquer coisa do género:
"Sou dos que estão convencidos de que não pode ser o Estado a resolver isto, tem o seu papel mas não pode fazer tudo, e é por isso que insisto que os cidadãos se organizem..."
E eu interrogo-me:
O que é que é o c----lho do Estado se não cidadãos organizados???
Citando algo com que me cruzei recentemente acerca deste assunto:
"Charity robs the recipient of the dignity and personal liberty to which all people have a claim, rich, poor or in the middle. Using government to act as the safety net instead of the good will (or good mood) of those of means allows that. Citizen pays in, and someday, god forbid, if he needs some help, he won't have to kiss the ass of some rich busybody or self-righteous hypocrite who thinks he or she has a right to dictate his behavior on the basis of a couple of bucks. (And considering the moral example set by both the private and public scolds these days, that concept is even more distasteful than it used to be.)"
Aos leitores que não estão habituados a este vernáculo mesmo camuflado, as minhas desculpas.
"Sou dos que estão convencidos de que não pode ser o Estado a resolver isto, tem o seu papel mas não pode fazer tudo, e é por isso que insisto que os cidadãos se organizem..."
E eu interrogo-me:
O que é que é o c----lho do Estado se não cidadãos organizados???
Citando algo com que me cruzei recentemente acerca deste assunto:
"Charity robs the recipient of the dignity and personal liberty to which all people have a claim, rich, poor or in the middle. Using government to act as the safety net instead of the good will (or good mood) of those of means allows that. Citizen pays in, and someday, god forbid, if he needs some help, he won't have to kiss the ass of some rich busybody or self-righteous hypocrite who thinks he or she has a right to dictate his behavior on the basis of a couple of bucks. (And considering the moral example set by both the private and public scolds these days, that concept is even more distasteful than it used to be.)"
Aos leitores que não estão habituados a este vernáculo mesmo camuflado, as minhas desculpas.
13 outubro, 2007
Um dia vais agradecer-me, meu filho
Um pouco por todo o lado, empilham-se as provas e demonstrações de que o ser humano é muito menos capaz de fazer boas escolhas do que cada um de nós pensa de si mesmo.
No entanto este mito teima em não cair por terra. Quer seja pela fé liberal na racionalidade maximizadora do ser humano (mais sobre isto adiante) quer pela crença no livre arbítrio entendido à luz da religião e dela herdado, mesmo entre não crentes, que tem a utilidade teológica de diferir para os ombros do seres humanos aquilo em que é inconveniente Deus ter responsabilidade.
No entanto estamos sempre a fazer escolhas menos que boas. Seja porque não temos informação suficiente, seja porque a isso somos induzidos por uma série de mecanismos mais ou menos inconscientes. Se assim não fosse, não comiamos coisas que nos fazem mal, não havia fumadores, as pessoas não corriam a fazer seguros a seguir às tragédias, para os esquecer passado uns tempos, não comprávamos aparelhos com funções que não usamos, mesmo depois de termos essa experiência com outros. De uma forma geral a experiência, que não a intuição, demonstra que as pessoas são melhor servidas pelas escolhas de terceiros do que pelas suas*.
Isto como é evidente vai contra os mais elementares principios liberais. Nenhum sistema é tolerado que reduza a liberdade individual de cada um. Com este problema em mente dois académicos da Universidade de Chicado, criaram um conceito novo, a que chamaram Paternalismo Libertário.
Parece um mero jogo de palavras, paradoxal, mas creio que encerra uma ideia interessante. Se as pessoas fazem sistematicamente más escolhas, mas não devemos colocar em causa a sua liberdade de as fazer, então devemos colocar as escolhas de forma a que as que têm resultados mais desejáveis para quem as faz, sejam as mais fáceis de fazer. No limite, o exercicio da liberdade de não escolher deverá levar ao melhor resultado.
Qualquer organização estabelece procedimemtos e regras. Os libertários paternalistas sugerem que esses procedimentos e regras sejam desenhados de forma a que as escolhas das pessoas por elas impactados seja o mais próximo possivel das que elas fariam se tivessem na posse de informação perfeita.
Os opositores, nomeadamente os libertários, que não gostaram muito de ver a sua ideologia misturada com outras ideias, até aceitam que ao nivel de organizaçoes privadas esta seja uma politica desejável. Mas quando se trata de governos, consideram muito mais complicado.
Um exemplo hipotético. Imaginemos uma cantina ou cafetaria numa escola ou empresa. Vamos assumir que a ordem de disposição das sobremesas é importante para a escolha. Seja porque as pessoas pegam primeiro na primeira coisa que vêem ou no que está à altura dos olhos. O encarregado da cantina pode assim condicionar a dieta dos frequentadores. Se colocar gelado na posição mais eficaz em vez de fruta, estará a contribuir para a taxa de obesos... ou pode ser libertaria paternalista e, continuando a oferecer gelado, colocar a fruta de forma a ser a primeira escolha. Se uma empresa ou escola querem colaboradores ou alunos saudáveis, imagino que a segunda hipótese seja razoável. O facto relevante deste exemplo é que há sempre uma decisão a tomar sobre como organizar a comida, e o resultado dessas decisão não é irrelevante. Um libertário extremo exigiria uma não organização: nada do que o gerente fizesse deveria influenciar as escolhas dos outros. Isto apenas seria conseguido com uma distribuição aleatória o que, do ponto de vista de gestão da cantina, não faz sentido nenhum.
(O exemplo é académico, mas se os hipermercados fazem coisas parecidas com os seus consumidores, é capaz de não ser tão hipotético como isso. )
Em jeito de conclusão, depois de ouvir um podcast de uma conversa entre um libertário puro e duro e um dos proponentes desta filosofia política, fico com a impressão de que o que alarma o libertário é a ideia de que alguém ponha o Governo a ajudar as pessoas... isso para ele é que é inconcebível.
*E mesmo quando escolhem bem, ficam menos satisfeitos do que se a escolha tivesse sido feita por outros, mesmo que não sejam mais qualificados para as fazer.
Para suportar esta afirmação, recorro a Barry Schwarz, autor a que já me referi anteriormente.
Basicamente, os custos de escolher (as alternativas desejáveis que somos forçados a preterir ou a frustração de não escolher a coisa perfeita, seja uma casa, ou um esposo) ficam do lado do agente.
No entanto este mito teima em não cair por terra. Quer seja pela fé liberal na racionalidade maximizadora do ser humano (mais sobre isto adiante) quer pela crença no livre arbítrio entendido à luz da religião e dela herdado, mesmo entre não crentes, que tem a utilidade teológica de diferir para os ombros do seres humanos aquilo em que é inconveniente Deus ter responsabilidade.
No entanto estamos sempre a fazer escolhas menos que boas. Seja porque não temos informação suficiente, seja porque a isso somos induzidos por uma série de mecanismos mais ou menos inconscientes. Se assim não fosse, não comiamos coisas que nos fazem mal, não havia fumadores, as pessoas não corriam a fazer seguros a seguir às tragédias, para os esquecer passado uns tempos, não comprávamos aparelhos com funções que não usamos, mesmo depois de termos essa experiência com outros. De uma forma geral a experiência, que não a intuição, demonstra que as pessoas são melhor servidas pelas escolhas de terceiros do que pelas suas*.
Isto como é evidente vai contra os mais elementares principios liberais. Nenhum sistema é tolerado que reduza a liberdade individual de cada um. Com este problema em mente dois académicos da Universidade de Chicado, criaram um conceito novo, a que chamaram Paternalismo Libertário.
Parece um mero jogo de palavras, paradoxal, mas creio que encerra uma ideia interessante. Se as pessoas fazem sistematicamente más escolhas, mas não devemos colocar em causa a sua liberdade de as fazer, então devemos colocar as escolhas de forma a que as que têm resultados mais desejáveis para quem as faz, sejam as mais fáceis de fazer. No limite, o exercicio da liberdade de não escolher deverá levar ao melhor resultado.
Qualquer organização estabelece procedimemtos e regras. Os libertários paternalistas sugerem que esses procedimentos e regras sejam desenhados de forma a que as escolhas das pessoas por elas impactados seja o mais próximo possivel das que elas fariam se tivessem na posse de informação perfeita.
Os opositores, nomeadamente os libertários, que não gostaram muito de ver a sua ideologia misturada com outras ideias, até aceitam que ao nivel de organizaçoes privadas esta seja uma politica desejável. Mas quando se trata de governos, consideram muito mais complicado.
Um exemplo hipotético. Imaginemos uma cantina ou cafetaria numa escola ou empresa. Vamos assumir que a ordem de disposição das sobremesas é importante para a escolha. Seja porque as pessoas pegam primeiro na primeira coisa que vêem ou no que está à altura dos olhos. O encarregado da cantina pode assim condicionar a dieta dos frequentadores. Se colocar gelado na posição mais eficaz em vez de fruta, estará a contribuir para a taxa de obesos... ou pode ser libertaria paternalista e, continuando a oferecer gelado, colocar a fruta de forma a ser a primeira escolha. Se uma empresa ou escola querem colaboradores ou alunos saudáveis, imagino que a segunda hipótese seja razoável. O facto relevante deste exemplo é que há sempre uma decisão a tomar sobre como organizar a comida, e o resultado dessas decisão não é irrelevante. Um libertário extremo exigiria uma não organização: nada do que o gerente fizesse deveria influenciar as escolhas dos outros. Isto apenas seria conseguido com uma distribuição aleatória o que, do ponto de vista de gestão da cantina, não faz sentido nenhum.
(O exemplo é académico, mas se os hipermercados fazem coisas parecidas com os seus consumidores, é capaz de não ser tão hipotético como isso. )
Em jeito de conclusão, depois de ouvir um podcast de uma conversa entre um libertário puro e duro e um dos proponentes desta filosofia política, fico com a impressão de que o que alarma o libertário é a ideia de que alguém ponha o Governo a ajudar as pessoas... isso para ele é que é inconcebível.
*E mesmo quando escolhem bem, ficam menos satisfeitos do que se a escolha tivesse sido feita por outros, mesmo que não sejam mais qualificados para as fazer.
Para suportar esta afirmação, recorro a Barry Schwarz, autor a que já me referi anteriormente.
Basicamente, os custos de escolher (as alternativas desejáveis que somos forçados a preterir ou a frustração de não escolher a coisa perfeita, seja uma casa, ou um esposo) ficam do lado do agente.
12 outubro, 2007
A desigualdade em perspectiva
Ezra Klein fez este exercício para a realidade americana. Como a nossa desigualdade tem mais em comum com esta, do que com os números médios europeus, dá-me ideia de que isto pode ser relevante.
"if you took a representative 100 Americans and split $5 of income between them, here's how it would look: One guy would get $1.06, forcing the other 99 to split the remaining $3.94, while the bottom 50 would split 64 cents among themselves. The leftover $3.30 would be divided up among the remaining 49 folks"
1,06 + 3,30/49+0.64/50
"if you took a representative 100 Americans and split $5 of income between them, here's how it would look: One guy would get $1.06, forcing the other 99 to split the remaining $3.94, while the bottom 50 would split 64 cents among themselves. The leftover $3.30 would be divided up among the remaining 49 folks"
1,06 + 3,30/49+0.64/50
Para não acabar a semana a zero...
Um momento de trivialidades lexicológicas.
Ficam aqui dois termos que me saltaram à vista, vindos da sempre vibrante, por vezes berrante, paisagem mediática do lado de lá do Atlântico.
De um tenista que ganha no mesmo ano os principais torneios mundiais, diz-se que fez o Grand Slam. De alguém que percorrer os principais programas de debate político de domingo nos estados unidos, a saber: This Week, Meet the Press, Face the Nation, Fox News Sunday, e Late Edition, dizse que fez o "Full Ginsburg". Ginsburg era o advogado de Monica Lewinski e foi o primeiro a conseguir a proeza. Desde então apenas outros três repetiram o feito: Dick Cheney, John Edwards, e Hillary Clinton.
IOKIYAR: Uma sigla a que os americanos se habituaram. Significa "It's Ok If You Are a Republican". E aplica-se a todos os escândalos envolvendo republicanos que rebentam com aparente impunidade, desde os sexuais (em que é condenada a hipocrisia mais do que outra coisa) aos mais graves, como a revelação da identidade de agentes da CIA.
Paul Krugman no seu blog do New York Times, que recentemente passou a fazer parte dos meus regulares, fala da necessidade de criar outra sigla: IACIYAD. It's a Crime If You Are a Democrat. A história que o motivou, para os interessados, está aqui, e é uma daquelas coisas que envolvem financiamentos de campanhas para eleger juízes, que pelos vistos está previsto nas leis do Estado do Mississipi. Conclui Krugman que se Bush não fosse tão incompetente, a América já se teria tornado num sitio muito mais medonho.
Ficam aqui dois termos que me saltaram à vista, vindos da sempre vibrante, por vezes berrante, paisagem mediática do lado de lá do Atlântico.
De um tenista que ganha no mesmo ano os principais torneios mundiais, diz-se que fez o Grand Slam. De alguém que percorrer os principais programas de debate político de domingo nos estados unidos, a saber: This Week, Meet the Press, Face the Nation, Fox News Sunday, e Late Edition, dizse que fez o "Full Ginsburg". Ginsburg era o advogado de Monica Lewinski e foi o primeiro a conseguir a proeza. Desde então apenas outros três repetiram o feito: Dick Cheney, John Edwards, e Hillary Clinton.
IOKIYAR: Uma sigla a que os americanos se habituaram. Significa "It's Ok If You Are a Republican". E aplica-se a todos os escândalos envolvendo republicanos que rebentam com aparente impunidade, desde os sexuais (em que é condenada a hipocrisia mais do que outra coisa) aos mais graves, como a revelação da identidade de agentes da CIA.
Paul Krugman no seu blog do New York Times, que recentemente passou a fazer parte dos meus regulares, fala da necessidade de criar outra sigla: IACIYAD. It's a Crime If You Are a Democrat. A história que o motivou, para os interessados, está aqui, e é uma daquelas coisas que envolvem financiamentos de campanhas para eleger juízes, que pelos vistos está previsto nas leis do Estado do Mississipi. Conclui Krugman que se Bush não fosse tão incompetente, a América já se teria tornado num sitio muito mais medonho.
04 outubro, 2007
The Boss is back
Depois da sua passagem pela musica tradicional americana, de novo com a E-Street Band.
Os maluquinhos das conspirações
Ainda não li o livro mais recente de Naomi Klein, “The Shock Doctrine”, a que fiz referência através do seu trailer lá mais abaixo.
A tese do livro é a de que o actual “consenso” político e económico, chamado neo-liberal, com a sua primazia do Mercado, a redução do papel do governo, a transferência de bens e serviços da esfera publica para a privada, não é fruto de um movimento inevitável da História mas sim de um oportunismo metódico, tirando partido de crises reais ou percebidas, e da fragilidade politica e social que delas decorre.
Os exemplos de Klein são clássicos: Chile, Inglaterra, China, Rússia, Iraque. Depois da violência, e aproveitando o estado de choque, passam-se medidas e “reformas” que de outro modo seriam bloqueados por aquilo a que se chama democracia ou sociedade.
É interessante, por exemplo, saber que Thatcher tinha 25% de aprovação e se debatia com uma feroz oposição às suas medidas quando eclodiu a guerra das Malvinas. A guerra tem esse efeito, e no ano seguinte, quando foi preciso partir as costas dos sindicatos dos mineiros, a dama de ferro contava com 60% de apoio.
Também é curioso descobrir que em meados dos anos 90, houve pressões de certas elites financeiras canadianas para forçar o abaixamento dos ratings de crédito do Canadá em Wall Street, criando a percepção de uma economia em crise, para suportar as “reformas” que pretendiam ver implementadas.
Isto perante a perplexidade dos operadores das empresas de rating, que estavam habituados a sofrer pressões de sentido contrario...
Os críticos da tese desvalorizam o livro como, por um lado, irrelevante: a ideia de que é preciso uma crise para haver mudança parece demasiado óbvia para justificar o papel em que está escrita, e por outro lado como mais uma teoria de conspiração: que não. que não há aí uns malvados a tentar desequilibrar os pratos da balança para favorecer grupos particulares, e que é tudo apenas a dinâmica natural das coisas.
Talvez. Mas esta semana cruzei-me com esta citação de um tal Irving Kristol, considerado um dos pais do pensamento neo-conservador, acerca da politica económica conhecida como “Reaganomics”:
“This explains my own rather cavalier attitude toward the budget deficit and other monetary or fiscal problems. The task, as I saw it, was to create a new majority, which evidently would mean a conservative majority, which came to mean, in turn, a Republican majority - so political effectiveness was the priority, not the accounting deficiencies of government.”
Irving Kristol (The Public Interest, 1995):
Conspiração? Naa..... Pois se é tudo tão transparente...
A tese do livro é a de que o actual “consenso” político e económico, chamado neo-liberal, com a sua primazia do Mercado, a redução do papel do governo, a transferência de bens e serviços da esfera publica para a privada, não é fruto de um movimento inevitável da História mas sim de um oportunismo metódico, tirando partido de crises reais ou percebidas, e da fragilidade politica e social que delas decorre.
Os exemplos de Klein são clássicos: Chile, Inglaterra, China, Rússia, Iraque. Depois da violência, e aproveitando o estado de choque, passam-se medidas e “reformas” que de outro modo seriam bloqueados por aquilo a que se chama democracia ou sociedade.
É interessante, por exemplo, saber que Thatcher tinha 25% de aprovação e se debatia com uma feroz oposição às suas medidas quando eclodiu a guerra das Malvinas. A guerra tem esse efeito, e no ano seguinte, quando foi preciso partir as costas dos sindicatos dos mineiros, a dama de ferro contava com 60% de apoio.
Também é curioso descobrir que em meados dos anos 90, houve pressões de certas elites financeiras canadianas para forçar o abaixamento dos ratings de crédito do Canadá em Wall Street, criando a percepção de uma economia em crise, para suportar as “reformas” que pretendiam ver implementadas.
Isto perante a perplexidade dos operadores das empresas de rating, que estavam habituados a sofrer pressões de sentido contrario...
Os críticos da tese desvalorizam o livro como, por um lado, irrelevante: a ideia de que é preciso uma crise para haver mudança parece demasiado óbvia para justificar o papel em que está escrita, e por outro lado como mais uma teoria de conspiração: que não. que não há aí uns malvados a tentar desequilibrar os pratos da balança para favorecer grupos particulares, e que é tudo apenas a dinâmica natural das coisas.
Talvez. Mas esta semana cruzei-me com esta citação de um tal Irving Kristol, considerado um dos pais do pensamento neo-conservador, acerca da politica económica conhecida como “Reaganomics”:
“This explains my own rather cavalier attitude toward the budget deficit and other monetary or fiscal problems. The task, as I saw it, was to create a new majority, which evidently would mean a conservative majority, which came to mean, in turn, a Republican majority - so political effectiveness was the priority, not the accounting deficiencies of government.”
Irving Kristol (The Public Interest, 1995):
Conspiração? Naa..... Pois se é tudo tão transparente...
02 outubro, 2007
Quem escreveu isto?
"The question is: how can society allow capital to make all the rules? I have never understood shareholder value as it leaves so many things out. Shareholders give their money just once, whereas the employees work every day."
..... eu sei mas não digo já. A resposta não deixa de encerrar uma certa ironia.
..... eu sei mas não digo já. A resposta não deixa de encerrar uma certa ironia.
Espantalhos
Ao que parece, um estudo aponta para um curioso comportamente de alguns corvídeos. Provavelmente aquelas aves a que chamamos gralhas. Estas têm por hábito manter esconderijos com comida e outros objectos que apanham. Alguns espécimes, se notam a presença de outras gralhas quando estão a guardar coisas, mudam-nas de local, para outro fora de olhares indiscretos.
Dir-se-ia que há ali uma capacidade de ler intenções?
De qualquer modo, o referido estudo terá detectado um padrão ainda mais interessante. Os pássaros mais desconfiados são simultaneamente os que têm mais tendência a assaltar
os esconderijos de outros.
Gostaria de ter acesso mais directo a este estudo. Enquanto tal não acontece, fica a referência onde li isto. Um desabafo (como se traduz "rant"?) de Colman, do Eurotrib, sobre o que se passa na cabeça de quem vê inimigos em todo o lado. Fica aqui um aperitivo:
"In his extended jaw-drop at the stupidity of the Western™ elite Jérôme seems to be having trouble understanding why they’re so terrified of the world. Allow me to offer an explanation: they’re lying, thieving, fundamentally uncivilised scum who are terrified that everyone else is just as small-minded and selfish as them."
Dir-se-ia que há ali uma capacidade de ler intenções?
De qualquer modo, o referido estudo terá detectado um padrão ainda mais interessante. Os pássaros mais desconfiados são simultaneamente os que têm mais tendência a assaltar
os esconderijos de outros.
Gostaria de ter acesso mais directo a este estudo. Enquanto tal não acontece, fica a referência onde li isto. Um desabafo (como se traduz "rant"?) de Colman, do Eurotrib, sobre o que se passa na cabeça de quem vê inimigos em todo o lado. Fica aqui um aperitivo:
"In his extended jaw-drop at the stupidity of the Western™ elite Jérôme seems to be having trouble understanding why they’re so terrified of the world. Allow me to offer an explanation: they’re lying, thieving, fundamentally uncivilised scum who are terrified that everyone else is just as small-minded and selfish as them."
01 outubro, 2007
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