Num livro que emprestei e não recuperei, contava-se a história de um traumatizado de Guerra, jugoslavo se não me falha a memória. Era um caso com alguma fama nos meios da psiquiatria.
Finda a guerra, estava mudo. Alheado do mundo, não dizia uma palavra. Ainda voltou para junto da família, mas o seu comportamento associal (nem anti-social era) acabou por levá-lo a uma instituição onde passou o resto dos seus dias. Sempre calado, alheado.
Sempre não.
Uma vez, ouvia o relato de um jogo importante para o clube da sua devoção. Ao ouvir uma decisão polémica do árbitro, gritou: “Este f...d....p.... ainda nos faz perder o campeonato!”.
E calou-se, dessa vez para sempre.
Isto para dizer que o futebol, ou o desporto porque outros povos têm a mesma relação com outras modalidades, é suportados por sentimentos muito profundos, primitivos, que transcendem família, religião, vizinhos, amigos. Quando dizemos “Sou deste clube” fazemos parte de uma entidade colectiva na qual depositamos os últimos resquícios de identidade mesmo quando um trauma nos esvaziou de todo o resto.
Quando já não somos mais nada, ainda somos aquilo.
Isto explica a irracionalidade de que se reveste a adesão clubista. Explica porque se muda de religião ou partido, mas não de clube.
E explica porque ando tão contentinho, ultimamente.
27 outubro, 2009
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6 comentários:
(risos)
Nunca hei-de entender a paixão, fixação ou fundamentalismo em relação a clubes de um desporto que é praticado da mesma forma por todos eles. A sério.
;)
Acho que Desmond Morris pode dar uma ajuda, Miss Once.
as coisas que eu aprendo .. !
Pocket Guide to Manwatching, acho que explicará sim ;))
Humprffttt!!! Já fizeste posts melhores ó contentinho... bah!
Nem todos podem ser o JJ da blogosfera...
Pois... mas eu é que levo com o PB.
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