As declarações de José Saramago sobre as religiões, os seus livros sagrados e a Bíblia em particular, despoletaram reacções vivas por esta blogosfera fora. (Fera fora... gosto destas cacofonias).
Muitas no sentido de ele ter insultado os crentes, ou simplesmente ter dito um disparate ao caracterizar de forma considerada grosseira uma obra com a(s) dimensão(ões) da Bíblia, manifestando uma intolerância insustentável.
As afirmações dele não me chocam minimamente. Resumindo aquilo que pensei; ele fez a sua leitura parcial da Bíblia, como faz toda a gente que conclui coisas definitivas a partir dali. Porque o Livro dispara em tantas direcções que só mesmo uma leitura parcial permite ser conclusivo. Para viver segundo ele, ou para o condenar.
Nesse sentido, achei simplesmente que ele tinha as suas razões, e aquela era tão somente a sua opinião (que de resto, subscrevo no sentido em que me pareceu dizê-la).
A outra coisa que foi clara é que alguns críticos do "politicamente correcto" provaram um pouco de incorrecção politica e não gostaram. O que é divertido e ajuda a perceber melhor as motivações por trás das suas opiniões.
Finalmente acho que a reflexão mais importante e aquilo que me devia levar a escrever sobre isto, é a das ideias enquanto identidade. Ou seja, até que ponto dizer que a Bíblia é um monte de disparates e um manual de maus costumes é uma opinião ou um insulto?
Só é um insulto se considerarmos que as ideias contidas na bíblia, ou a mera relação dos crentes com esta, fazem parte da sua identidade. E como tal há pessoas que ficam, passo a redundância, pessoalmente ofendidas.
Mas se as ideias são identidade, e a critica é ofensa e ofender é incorrecto, não leva isso a que seja incorrecto criticar ideias? E aí como ficamos? Vamos falar do quê? Do tempo?
20 outubro, 2009
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6 comentários:
eu estava à espera de uma reacção assim, confesso, pelo que lhe tenho lido nos comentários.
Parece-me que grande é a dificuldade em separar a religião enquanto doutrina de Jesus, para quem acreditar que já esteve entre nós e nos deu um exemplo de vida e não de morte, como também se apregoa, e o que fizeram os homens de carne e osso, defeitos e virtudes, com a informação que Ele nos deixou.
No outro dia em conversa com a minha filha, estudante de História e menina de Catequese, a conclusão a que a petiza chegou convenceu-me que o velho ditado "malhar em ferro frio" pode bem ser substituído. Dizia-me a garota, confrontada com os ensinamentos da disciplina versus os da Igreja, que ou se tem fé, ou não, ou se acredita ou não. E ponto.
Simples não?
;)
Era bom, se fosse simples. Mas se fosse nem estávamos a falar disso.
O homem está a revelar-se um marketeer de primeira água, não achas? Diz o que pensa, põe toda a gente a debater o assunto e o livro vai-se vender à brava.
Excelente artigo. Além disso consegui finalmente onde é que estava o insulto...
Mas se as ideias da biblia estão dentro da identidade da pessoa, esse facto per si não torna as afirmações de Saramago verdadeiras?
Caro João Cardiga,
No essencial, diria que sim.
Julgo que essas respostas dizem muito das nossas "elites".
Já agora, recomendo o artigo de Zimler de hoje no publico.
Só não percebo é porque é que se demorou tanto tempo para ler uma resposta decente...
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