Sempre foi para mim um pouco obscuro o mundo da OMC. Parte da confusão deve vir das leituras muito oblíquas que faço dos segmentos de economia. Fico com a impressão de que há, por exemplo, uma reunião qualquer em Doha que já dura há anos e que tardava em chegar a uma conclusão. Antes disso teria havido uma reunião idêntica no Uruguai mas posso estar enganado.
Felizmente posso contar com pessoas como Dean Baker ou os Ladrões de Bicicletas para me ir guiando, quando a minha capacidade cognitiva entra em colapso.
Parece então que a ronda de Doha que teve lugar em Genebra (?) ficou largamente em águas de bacalhau. Presumivelmente porque diversos intervenientes preocupados com o desenvolvimento de países em vias do mesmo, não estarão confortáveis com as propostas de mais liberalização do comércio internacional.
Imaginem que iam a um médico por terem falta de peso, e ele receitava uma pílula. Tomavam a pílula durante meses sem qualquer melhoria significativa, antes pelo contrário. Mas depois mudavam de dieta e engordavam demais, e iam ao mesmo médico, e ele receitava a mesma pílula.
É mais ou menos isso que se passa ali.
Aqui há uns tempos, os defensores de Doha garantiam que com a liberalização do comércio, os produtos alimentares aumentariam de preço, melhorando as condições de vida dos agricultores do hemisfério Sul.
Agora que os alimentos subiram de preço por causa de outros factores, nomeadamente os combustíveis e a competição por terra arável para produzir biodiesel a partir do milho, os defensores de Doha garantiam que exactamente as mesmas medidas fariam baixar os preços.
Hmmm...
30 julho, 2008
28 julho, 2008
Hoje, 28 de julho, é dia neste blogue da poesia e este um post em 3 partes
Um amigo meu, que talvez queira permanecer anónimo(?) sugeriu que publicasse este poema:
having the flu and
with nothing else to do
I read a book about John Dos Passos and according to
the book once radical-communist
John ended up in the Hollywood Hills living off investments
and reading the
Wall Street Journal
this seems to happen all too often.
what hardly ever happens is
a man going from being a young conservative to becoming an
old wild-ass radical
however:
young conservatives always seem to become old
conservatives.
it's a kind of lifelong mental vapor-lock.
but when a young radical ends up an
old radical
the critics
and the conservatives
treat him as if he escaped from a mental
institution.
such is our politics
and you can have it all.
keep it.
sail it up your
ass.
Charles Bukowski
Agora, não sei exactamente porque me foi sugerido o texto, que de resto honra muito este blog.
Acho que nunca fui um radical. Já não sou novo, mas ainda não estou velho.
Se calhar, estou no tal asilo, já fora das paredes, mas ainda dentro dos muros...
Entretanto, também fiquei a conhecer Saul Williams,
E Charlie Christian
Para um dia apenas, não está nada mal.
having the flu and
with nothing else to do
I read a book about John Dos Passos and according to
the book once radical-communist
John ended up in the Hollywood Hills living off investments
and reading the
Wall Street Journal
this seems to happen all too often.
what hardly ever happens is
a man going from being a young conservative to becoming an
old wild-ass radical
however:
young conservatives always seem to become old
conservatives.
it's a kind of lifelong mental vapor-lock.
but when a young radical ends up an
old radical
the critics
and the conservatives
treat him as if he escaped from a mental
institution.
such is our politics
and you can have it all.
keep it.
sail it up your
ass.
Charles Bukowski
Agora, não sei exactamente porque me foi sugerido o texto, que de resto honra muito este blog.
Acho que nunca fui um radical. Já não sou novo, mas ainda não estou velho.
Se calhar, estou no tal asilo, já fora das paredes, mas ainda dentro dos muros...
Entretanto, também fiquei a conhecer Saul Williams,
E Charlie Christian
Para um dia apenas, não está nada mal.
23 julho, 2008
Volt fax
Houve um tempo em que o modelo de negócio dos media era este:
Vender notícias aos leitores.
Hoje em dia o modelo é, na sua maioria:
Vender audiências aos anunciantes.
Passámos de consumidores a consumidos, com um sorriso nos lábios.
.
Vender notícias aos leitores.
Hoje em dia o modelo é, na sua maioria:
Vender audiências aos anunciantes.
Passámos de consumidores a consumidos, com um sorriso nos lábios.
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21 julho, 2008
Mississippi John Hurt
Lá pelos 2 minutos, a guitarra faz umas coisas engraçadas pela mão daquele homem.
No sábado fui ouvir este senhor.
"I read with some amusement my reputation as a ladies' man. My friends are amused by that, too, because they know my life. Even when I was younger I was never aware of it, to tell the truth, so I could not take advantage of it. But for someone who has that sort of reputation and has spent so many nights alone, it has a special bitter amusement attached to it."
Leonard Cohen.
Se para um homem como ele tem sido assim, das duas uma, ou não há esperança ou não há critério.
.
Leonard Cohen.
Se para um homem como ele tem sido assim, das duas uma, ou não há esperança ou não há critério.
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16 julho, 2008
Este blogue é Patriota
"Patriotism is the conviction that this country is superior to all other countries because you were born in it."
George Bernard Shaw
(Felizmente nunca habituei os meus leitores a receberem explicações sobre porque é que escolho este ou aquele tema para escrever)
.
09 julho, 2008
Field of dreams
"If you build it, they will come."
"Campo de Sonhos" é um daqueles filmes lamechas sobre baseball, protagonizado por Kevin Costner, um actor que entra em alguns dos piores e alguns dos melhores filmes que vi.
Ele transforma um campo de milho num campo de baseball onde fantasmas de outras gerações se reúnem para jogar, instigado por uma voz que lhe dissera: “Se o construíres, eles vêm”.
Quando ouço dizer que problemas como a crise energética, o aquecimento global, a pobreza, devem ser resolvidas pelo “Mercado”, lembro-me muitas vezes deste filme.
Quando ouço os advogados da mão invisível a dizer que os governos devem fazer o menos possível, incentivando ou inibindo e deixar o Mercado agir, imagino as vozes na cabeça de Kevin Costner a adoptar a postura liberal:
“Se não fizeres nada, eles vêm.”.
"Se não fizermos nada, podemos ter zero emissões de carbono mesmo a tempo de salvar o planeta para os nossos netos. Se não fizermos nada, quando correr o ultimo pingo de petróleo, estará a ser ligada a última central eólica precisa para o substituir.
Se não fizermos nada, vai tudo correr pelo melhor."
Mas a verdade é que se não fizermos nada, o campo de milho será sempre um campo de milho e os fantasmas continuarão a vaguear. E não haverá filme.
"Campo de Sonhos" é um daqueles filmes lamechas sobre baseball, protagonizado por Kevin Costner, um actor que entra em alguns dos piores e alguns dos melhores filmes que vi.
Ele transforma um campo de milho num campo de baseball onde fantasmas de outras gerações se reúnem para jogar, instigado por uma voz que lhe dissera: “Se o construíres, eles vêm”.
Quando ouço dizer que problemas como a crise energética, o aquecimento global, a pobreza, devem ser resolvidas pelo “Mercado”, lembro-me muitas vezes deste filme.
Quando ouço os advogados da mão invisível a dizer que os governos devem fazer o menos possível, incentivando ou inibindo e deixar o Mercado agir, imagino as vozes na cabeça de Kevin Costner a adoptar a postura liberal:
“Se não fizeres nada, eles vêm.”.
"Se não fizermos nada, podemos ter zero emissões de carbono mesmo a tempo de salvar o planeta para os nossos netos. Se não fizermos nada, quando correr o ultimo pingo de petróleo, estará a ser ligada a última central eólica precisa para o substituir.
Se não fizermos nada, vai tudo correr pelo melhor."
Mas a verdade é que se não fizermos nada, o campo de milho será sempre um campo de milho e os fantasmas continuarão a vaguear. E não haverá filme.
China vs Taiwan
Alguém deu por isto ser notícia cá por estes lados?
Para quem tem preguiça de clicar em links, refere-se ao primeiro voo comercial em 60 anos entre o Taiwan e a China continental. Assim a modos que uma declaração de paz, feita por turistas em vez de diplomatas...
Para quem tem preguiça de clicar em links, refere-se ao primeiro voo comercial em 60 anos entre o Taiwan e a China continental. Assim a modos que uma declaração de paz, feita por turistas em vez de diplomatas...
08 julho, 2008
Como salvar o que não está em perigo?
Nesta aproximação às eleições presidenciais americanas, um dos temas recorrentes é o que fazer para salvar a "Segurança Social".
A Social Security americana prende-se essencialmente com os programas de apoio à terceira idade, garantindo niveis minimos de subsistência e de saúde a quem não tem outros meios.
O envelhecimento dos "baby-boomers" lançou o alarme sobre a viabilidade do sistema. Com base nesta visão pessimista, George Bush tentou privatizar o programa, com o argumento de que cada um era o melhor indicado para gerir as suas próprias poupanças, e não o governo.
Acontece que a Segurança Social americana, tal como está, sem alterações, tem solvência garantida até 2046. Ou seja, não existe nenhum problema especifico com o programa e a sua sustentabilidade. Este facto é repetido frequentemente por Dean Baker, um economista que costumo ler e que dedicou o seu blog a criticar as incongruências da imprensa económica.
Se o sistema está garantido até 2046, porquê esta insistência?
Será que alguém sabe alguma coisa sobre como será a economia ou demografia em 2047, e não quer partilhar com o resto do mundo?
Adenda:E será que cá, reconhecendo que somos um país muito mais pobre e com um estado com mais responsabilidades sociais, não haverá quem insista no desmantelar dessas responsabilidades apenas porque tem uma fé ideológica qualquer ou, mais provavelmente, interesses particulares num banco ou seguradora?
A Social Security americana prende-se essencialmente com os programas de apoio à terceira idade, garantindo niveis minimos de subsistência e de saúde a quem não tem outros meios.
O envelhecimento dos "baby-boomers" lançou o alarme sobre a viabilidade do sistema. Com base nesta visão pessimista, George Bush tentou privatizar o programa, com o argumento de que cada um era o melhor indicado para gerir as suas próprias poupanças, e não o governo.
Acontece que a Segurança Social americana, tal como está, sem alterações, tem solvência garantida até 2046. Ou seja, não existe nenhum problema especifico com o programa e a sua sustentabilidade. Este facto é repetido frequentemente por Dean Baker, um economista que costumo ler e que dedicou o seu blog a criticar as incongruências da imprensa económica.
Se o sistema está garantido até 2046, porquê esta insistência?
Será que alguém sabe alguma coisa sobre como será a economia ou demografia em 2047, e não quer partilhar com o resto do mundo?
Adenda:E será que cá, reconhecendo que somos um país muito mais pobre e com um estado com mais responsabilidades sociais, não haverá quem insista no desmantelar dessas responsabilidades apenas porque tem uma fé ideológica qualquer ou, mais provavelmente, interesses particulares num banco ou seguradora?
04 julho, 2008
Paradoxo geneticamente modificado
O principio de "equivalência substancial" foi estabelecido em 1993 de forma a facilitar a introdução no mercado de derivados das então novas Biotecnologias. Basicamente assume que, por exemplo, um grão de soja GM é a mesma coisa que um grão de soja natural, e como tal não precisa da bateria de testes e verificações que um produto sem "equivalência substancial". Mas depois, um grão de soja GM, é protegido por uma patente com o argumento de que é uma coisa única.
Posso consumir com segurança? Pode, porque é igual.
Posso plantar sem pagar direitos? Não pode, porque é diferente.
Isto não diz nada sobre a segurança ou validade dos produtos GM, mas diz bastante sobre a honestidade e o critério de quem faz as regras do jogo.
Posso consumir com segurança? Pode, porque é igual.
Posso plantar sem pagar direitos? Não pode, porque é diferente.
Isto não diz nada sobre a segurança ou validade dos produtos GM, mas diz bastante sobre a honestidade e o critério de quem faz as regras do jogo.
02 julho, 2008
Cao Dai
Volta e meia surge um post como este, que me lembra o propósito original do Designorado.
Hoje fiquei a saber que há uma religião Vietnamita fundada em 1926 que conta entre os seus santos o escritor francês Victor Hugo.
Aparentemente, foi num templo de Cao Dai que se refugiou Kim Phuc, a pequena vietnamita que fugia do bombardeamento de napalm da sua aldeia. Uma das imagens iconográficas da Guerra do Vietname.
Hoje, ela é uma embaixadora da boa vontade da Unesco. Mas ainda guarda marcas daquele dia.
Hoje fiquei a saber que há uma religião Vietnamita fundada em 1926 que conta entre os seus santos o escritor francês Victor Hugo.
Aparentemente, foi num templo de Cao Dai que se refugiou Kim Phuc, a pequena vietnamita que fugia do bombardeamento de napalm da sua aldeia. Uma das imagens iconográficas da Guerra do Vietname.
Hoje, ela é uma embaixadora da boa vontade da Unesco. Mas ainda guarda marcas daquele dia.
Dúvida existencial
Vamos supor que num futuro próximo um bebé é concebido com auxilio a terapia genética, com a inserção no ovo fecundado de um gene patenteado.
O bebé cresce, saudável.
Conhece alguém, casa.
Se tiver filhos estará a infringir direitos de propriedade intelectual?
O bebé cresce, saudável.
Conhece alguém, casa.
Se tiver filhos estará a infringir direitos de propriedade intelectual?
01 julho, 2008
Complementando o post anterior
Esta cena, feita no CSI, teria um diálogo do género:
"A vitima tinha o corpo inclinado 35 graus, e isso explica o ponto de entrada e saída da bala. Pelo orificio, era uma calibre 40, disparada a um metro da janela."
"Mas onde foi ter a bala sargento?"
"Verificámos o estuque e foi todo colocado há mais de 6 meses, a data do crime. Mas como naquele dia estavam 35 graus de temperatura é natural que alguém ido buscar uma bebida fresca ao frigorifico. Aqui está!" e trocavam um olhar entendido e de admiração mutua.
Mas isto é The Wire, fuck that,
Ou: como fazer boa televisão e não chamar idiota ao espectador.
"A vitima tinha o corpo inclinado 35 graus, e isso explica o ponto de entrada e saída da bala. Pelo orificio, era uma calibre 40, disparada a um metro da janela."
"Mas onde foi ter a bala sargento?"
"Verificámos o estuque e foi todo colocado há mais de 6 meses, a data do crime. Mas como naquele dia estavam 35 graus de temperatura é natural que alguém ido buscar uma bebida fresca ao frigorifico. Aqui está!" e trocavam um olhar entendido e de admiração mutua.
Mas isto é The Wire, fuck that,
Ou: como fazer boa televisão e não chamar idiota ao espectador.
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