19 dezembro, 2006

Timbalalão, cabeça de cão...

Hoje deu-me para fazer balanços.

Sobre este blogue, era para ser uma coisa, e tornou-se outra. A ideia inicial era partir do princípio optimista de que aprendemos algo novo todos os dias, e ir partilhando aqui, todos os dias, o que fosse aprendendo.

A incapacidade de o fazer diz-me alguma coisa sobre a natureza do conhecimento: por um lado, não nos chega quando queremos, e a horas certas, por outro, e isto se calhar é uma coisa minha, nunca vem isolado, ou se chega é fica em lista de espera até encaixar num puzzle mais global. Nessa altura é apenas um dado, só quando encaixa no resto é que é promovido a conhecimento.

É se calhar por isso que tendo a fazer posts tão longos… a mania do contexto.

Acho que acontece com toda a gente ter um modelo da existência gravado no cérebro. Um esquema geral das coisas. Umas ideias sobre nós, sobre os outros, sobre o mundo físico, sobre moral, sobre o universo, sobre a vida, sobre a morte. Há uma fina linha que cose estas coisas todas e as mantém mais ou menos no sítio. Elas articulam-se umas com as outras de acordo com algumas regras, a que podemos chamar leis naturais.

Este esquema é necessariamente fragmentado. Ninguém sabe tudo. Isso hoje é impossível. As opiniões dividem-se sobre quem foi o último homem a saber tudo. Athanasius Kircher (1602-1680) ou Thomas Young, (1773-1829)? Independentemente da resposta certa, podemos afirmar com confiança hoje que eles de facto não sabiam tudo. Quando muito sabiam tudo o que havia para saber, ao seu tempo.

Mas qualquer pessoa com um mínimo de conhecimentos hoje pode intuir que há um ponto em que a física toca a química, em que esta toca a biologia, em que esta toca a sociologia, em que esta toca a economia, em que esta toca a política, em que esta nos toca a todos.

Essa interdependência dos diversos planos foi o que se tornou mais claro para mim. Ao longo dos últimos dois anos e em particular desde que comecei a explorar essas ideias neste blogue, fiquei a perceber melhor porque é que somos mais ricos mas mais infelizes, porque é que a economia clássica é desumana, porque é que o comunismo nunca funcionaria, porque é que o amor é tão complicado, porque é que os homens acham que têm que ser os maiores, e as mulheres preferem ser as mulheres destes, porque é que os europeus e seus derivados dominaram os últimos 200 anos, porque é que isso vai acabar, porque é que precisamos de liberdade mas preferimos não ter que a usar, porque é que a civilização nos torna mais parecidos com os animais, porque é que não estamos feitos para ser felizes, e porque é contra isso que vale a pena lutar.

Ter uma noção sobre estas coisas gera mais perguntas, ou perguntas mais importantes.
Quando descobrir a resposta, este blogue provavelmente acaba. E então poderei ser eleito presidente da humanidade. Ou escrever um livro e ficar rico. Ou não.

Até lá tenho que me contentar com o facto de hoje ter chegado aos 40. Não é um feito menor. Uma parte importante de todas as pessoas que nasceram desde que existem pessoas, não conseguiu tanto. Mas mais por azar do que por incompetência, reconheço.

12 comentários:

José, o Alfredo disse...

Para além dos votos de parabéns, podes contar com um quando te candidatares a presidente (seja da humanidade ou de qualquer outra colectividade menor, se, como espero, não se te acabarem as perguntas, nem o vício da busca das respostas, nem o blogue).

L. Rodrigues disse...

Obrigado, José
Vejo com satisfação que recuperaste a tua identidade. Alvísceras.

Anónimo disse...

Eu voto, para teu bem em duplicado, em ti para presidente da humanidade. É que escrever um livro e ficar rico não me parece que passe de ficção. Pelo menos em Portugal. Estamos a falar em escrever um livro, o que, à partida exclui a Margarida Rebelo Pinto e as suas tentativas de ensaios de tinta em folhas brancas. Está decidido: Luís à presidência da humanidade, ou vais escrever o livro para os EUA.

L. Rodrigues disse...

Havia uma terceira hipótese: ou não.
De qualquer modo ainda falta descobrir a pedra filosofal. Só mais 4 semanas e 13 dias, se faz favor.

marta r disse...

Espero que continues sempre à procura de respostas... porque isso significa mais e melhores posts.
Parabéns pelos competentes 40 anos.

L. Rodrigues disse...

Obrigado Marta.

Anónimo disse...

Parabéns pelos 40. Como qto mais respostas, mais perguntas (é uma lei da matemática), quase prometeste nunca acabar o blog. Ainda bem !
sandra

Paulo Cunha Porto disse...

Caríssimo L. Rodrigues:
Muitos parabéns, de quem já passou por essa ordália. Dói menos do que se pensa. Quanto ao blogue, ainda bem que saiu assim. Está excelente. outra aneira não sabemos como ficaria, apesar das gqarantias da assinatura.
Forte abraço.

João Villalobos disse...

Merda! Estou a dar os parabéns com quase 15 dias de atraso :(
A culpa é tua por não avisares os amigos mais amnésicos, misantropo dum raio (tu, não o outro aqui em cima que também não tem respondido aos mails).
Abraço muito grande (vou passar o fim de ano em Coimbra, vê lá tu)
Falamos para o ano.

L. Rodrigues disse...

Um abraço, JV.
E não te preocupes com o atraso. Quanto a avisar, nunca foi coisa que fizesse. Esta nota de rodapé já foi muito para além do que acho razoável, mas fiz uma concessão dada a esfericidade do número.
Aliás, acho que sou a única pessoa que conheço que alguma vez se esqueceu do seu próprio aniversário.

redonda disse...

Parabéns! ("sorry" por estar tão atrasada...)
E como é "as mulheres preferem ser as mulheres destes"?
Não concordo nada!
Se aceitares reconsiderar esta ideia poderei considerar votar em ti para presidente da humanidade (embora tenha algumas dúvidas quanto à existência deste cargo) e comprarei o livro.

L. Rodrigues disse...

Olá D. Redonda.
Quanto à preferência, é estatística e dos livros. Por isso nao faltaram excepções e desvios, mas que é a norma, é. Quanto ao resto, não sou tão ambicioso assim, na verdade.