14 dezembro, 2006

Ainda o Chile

Este artigo é demasiado bom para não ser lido.


Desculpem a insistência, os meus leitores mais habituais, mas nestas alturas em que se fazem balanços, porque morrem ditadores aqui, e se elegem populistas acolá, não faz mal nenhum olhar para a realidade e tentar perceber quem tem razão.

O Chile tem dois significados importantes para a Economia e as reflexões que se fazem sobre o assunto: Por um lado é uma dos países que melhores indices de crescimento apresentam na zona, e por outro foi alvo de um tratamento de choque pelos discípulos do "free market", os famosos Chicago Boys alunos de Friedman, na sequência do golpe que colocou Pinochet no poder. Normalmente, os arautos do liberalismo consideram uma coisa consequência da outra, e com isso por um lado fazem a sua mais berrante bandeira e por outro, de caminho, dizem que só por isso Pinochet fica redimido.

O que o artigo acima descreve é como o Chile deitou fora as ideias dos "Chicago Boys" quando percebeu que ia directo ao abismo, e fez o Estado retomar as rédeas da economia, como lhe compete.

"What makes Chile different from the rest of Latin America," said Manuel Riesco, an economist with the Center for National Studies of Alternative Development in Santiago, "is not that we embraced the free market more than our neighbors. What we realized is that the free market is like a car. There is no doubt that it is the best way to get you from point A to point B. But you have to steer. If you take your hands off the wheel, you will end up face-down in a ditch."

A lista de regulações, intervenções e investimentos públicos que levaram ao sucesso do Chile, (que ainda assim tem custos ambientais questionáveis), faz pensar se ainda faz sentido falar em "free markets". Certamente não no sentido em que os neo-liberais o referem.

6 comentários:

Paulo Cunha Porto disse...

Meu Caro L.Rodrigues:
Como não sou liberal, gosto mesmo é do Pinochet político menos dos economistas , mas não económicos, "Chicago Boys", cujo monetarismo é também uma forma de abstracção do humano, coisa a que me gosto de ver alheio.
Adivinhou: é o misantropo que agora visita assim os Senhores da Beta, como explico lá na jaula.
Abraço.

L. Rodrigues disse...

Ora bem vindo,
Eu adivinharia que o dito cujo teria alguma estima do seu lado. Como adivinhará que não a tivesse do meu.
Mas com terá percebido, a acção de Pinochet enquanto estadista considero-a encerrada, e não gosto de lhe remexer muito, nunca se sabe o que nos vem agarrado aos dedos. Já a teoria económica que apadrinhou, ainda por aí anda e contra essa vou falando.

Anónimo disse...

Curiosamente, onde as regras do mercado (ou falta delas) se impõem com mais força, onde os mercados são o mais próximo possível da pureza da interacção oferta/procura, ou seja, onde os mercados são realmente livres, é nas situações de maior constrangimento: em situações de guerra ou catástrofe, sempre que haja racionamentos, dentro das prisões, nos mercados negros em geral, e por aí abaixo. Libertar, simultaneamente, os mercados e as pessoas, parece uma boa ideia. Mas o comunismo também parecia uma excelente ideia. O problema, por estúpido que pareça, é que há sempre uns problemazinhos muito mais pequeninos que a economia, que têm a mania de complicar tudo: as pessoas.
José, o Aflredo

L. Rodrigues disse...

Pois é, José.
Aqui há uns tempos li um artigo um bocado denso que dizia que a economia clássica era herdeira da física do século XIX, procurando modelos elegantes e simples numa fórmula matemática que tudo encerra.
Mas a verdade é que as pessoas, e é sempre disso que se trata, não são redutíveis dessa forma.
Hoje, para quem estuda essas coisas, os sistemas vivos parecem ser melhores metáforas do que a hidráulica...

Anónimo disse...

Daqui a nada estamos todos de acordo sobre o facto do Pinochet afinal não ter sido assim tão mau quanto isso. Basta relativizar e termos as mentes abertas para o que se passou na História recente e o que se passa nos dias de hoje. O tio Adolfo, o amigo Zé dos bigodes, o compadre Saddan, o companheiro Idi Amin e mais uns quantos chefes tribais desconhecidos fazem do amigo Augusto um menino. Isto claro, olhando apenas para o "factor pessoas". Sendo o Chile um país da América Latina, ainda em vida vamos ler notícias a dar-nos conta de algumas saudades do Augusto.

L. Rodrigues disse...

Não falta por lá quem as tenha, como cá do Oliveira... Mas daí a "vir quem bom dele fará", tenho as minhas dúvidas. Recentemente terá sido divulgado um depoimento em que Pinochet disse que sempre deu ordens para que não fosse exercida violência sobre ninguém. Cheira a "Madailice": "Eu não sei de nada, sou só o presidente!"