12 dezembro, 2006

Os populistas

Fui ver à wiki:

Populism is a political philosophy or rhetorical style that holds that the common person's interests are oppressed or hindered by the elite in society, and that the instruments of the state need to be grasped from this self-serving elite and used for the benefit and advancement of the people as a whole. Hence a populist is one who is perceived to craft his or her rhetoric as appeals to the economic, social, and common sense concerns of average people.

Temos portanto por um lado, filosofia política e por outro, retórica. Parece-me a mim que a retórica é má e a política é razoável. Nesta definição, no entanto, quando se define o Populista, já se excluiu a hipótese de ele ter de facto o interesse do cidadão comum como principal meta. Só fica a retórica.

Mas imaginemos um político que quer promover DE FACTO, uma FILOSOFIA POLÍTICA populista. Como é que ele se pode expressar sem ser imediatamente condenado como populista retórico? Como é que se distingue alguém que quer defender os interesses da maioria, de alguém que apenas diz o que a maioria quer ouvir? Cheira-me a Catch 22...

Claro que se ouvirmos os críticos eles dizem "mas a maioria é melhor servida se se seguir esta política assim e assado que por acaso passa por manter os privilégios de quem os tinha e a submissão de quem os não tinha, que havendo mais riqueza em cima ela acaba por chegar lá abaixo". Quem ainda acredita nisto, ponha os olhos nos números da distribuição de riqueza recentemente publicados no Diário de Notícias.

Se olharmos para os países da América do Sul, onde diversos líderes "Populistas" se têm afirmado recentemente, vemos em grande parte países herdeiros de uma ordem social colonial onde tendo como exemplo a Bolívia, 70% da população é Índia ou Mestiça e, quase por inerência, excluída do acesso à riqueza do seu país. Porque os Europeus vieram, conquistaram e, na verdade, ainda não abriram mão disso.

Deu-se nestes países o cruzamento de dois fenómenos, por um lado o avanço da democracia, de forma que não era hábito por aquelas bandas e por outro o avanço do Consenso de Washington, também conhecido como neo-liberalismo. Colidiram nas urnas, os pobres cada vez mais pobres puderam escolher. E escolheram mudar. Quando o povo escolhe nestas circunstâncias, em que tem muito pouco a perder, quando já nem da água da chuva pode ser dono, que é que estavam à espera? E quem é que lhe diz que está errado?

Estes povos ganharam, no mínimo, o direito de cometerem erros. Sem vir um Kissinger corrigi-los.

No fundo isto é simples: as políticas neo-liberais favorecem quem está por cima, mesmo que os seus defensores não o admitam. Quem percebe isso e tenta denunciá-lo, leva o rótulo: pumba! És populista!

Porque qualquer tentativa de contrariar o neo-liberalismo implica tirar poder aos de cima para dar aos de baixo. Mesmo que se seja muito sensato, honesto e ponderado. Aliás, sobretudo se se for.

5 comentários:

Anónimo disse...

De todos os defeitos da democracia, o povo é sem dúvida o maior (quer quantitativamente quer qualitativamente). O populismo, ao ficar refém de um tipo de discurso que o povo entenda rapidamente e sem esforço, também não tem muitas hipóteses de produzir retórica de qualidade. Dá-me ideia é que ultimamente, como já não há ninguém a quem se possa chamar comunista, ou melhor, como o 'comunismo' já não mete medo a ninguém, o epíteto 'populista' passou a desempenhar a mesma função. Mas procurar conteúdo político ou ideológico no populismo parece-me uma contradição nos termos, uma impossibilidade intrínseca, algo como encontrar uma ideia nova num editorial do José António Saraiva. Não é chamar populista ao Saraiva, note-se. A única coisa que os une, ao Saraiva e ao populismo, são duas: a previsibilidade da conversa, que tende para o infinito, e a extensão dos parágrafos, que tende para zero.
José, o Alfredo

L. Rodrigues disse...

A verdade — é o sentido dos ultimos parágrafos e a opinião não é só minha — é que o uso do epíteto de "populista" para achincalhar qualquer tentativa de promover politicas socialmente responsáveis esvaziou o termo de significado.
Aumentar salários mínimos é populismo, aumentar os impostos dos ricos, ou dos bancos é populismo, etc etc.

Quanto ao povo, pode ser uma chatice, mas o que seria um jogo do Olhanense sem povo?

Anónimo disse...

Curiosamente, o populismo só não liga com sexo. Como definir os sexuais populistas? Como definir o populismo nesse âmbito?

L. Rodrigues disse...

Isto de comentar depois do almoço... de que falas, mike?

Anónimo disse...

Por exemplo, um gajo pode ter um discurso apelidado de populista junto do sexo feminino (ou do masculino se não for heterosexual). Um discurso que elas entendam sem esforço, mas, como alguém dizia, sem produzir retórica de qualidade. Até que chega outro gajo e diz-lhes (a elas) que o gajo está com um discurso banal e sem conteúdo e... de repente... quem é o populista?