Muito daquilo sobre que tenho escrito são coisas que se descobriram, investigaram e desenvolveram tendo por base fundadora o trabalho de Darwin.
A teoria da evolução trouxe uma clarividência e uma ordem à compreensão da vida que eram impossíveis de estabelecer antes dela. Normalmente os poucos, mas muito vocais, que se lhe opõem pouco mais fazem do que demonstrar a sua ignorância sobre o assunto em particular e sobre como se faz ciência em geral. A causa verdadeira é a defesa irracional e intransigente de uma ideia religiosa, que acaba mais prejudicada porque ridicularizada.
Mas mais mal ao bom nome de Darwin, na minha opinião, fazem aqueles que dizendo abraçar essas ideias, delas abusam.
Ainda recentemente li num outro blogue alguém colocar a seguinte questão, mais coisa menos coisa: "Não percebo porque é que aqueles que se opõem ao Criacionismo são os primeiros a levantar a voz contra o Darwinismo social."
Eu não sou um perito em filosofia politica, ou em qualquer outra coisa, mas esta afirmação encerra tantos equívocos que se me arrepiou logo a espinha toda.
Primeiro confunde desde logo uma posição estritamente ditada pelo entendimento e respeito pelo método científico com qualquer outra ditada por uma convicção ideológica.
Depois, talvez não claro na afirmação em si, mas fácil de ver no contexto da discussão o pressuposto de que Criacionismo e Darwinismo Social estão "à direita" e Evolução e Oposição ao darwinismo social (ou às nuances neo-liberais com tal carácter) estão à esquerda.
Uma muito pouco saudável mistura de alhos e bugalhos, teologia, política e ciência...
Outro equívoco é a chamada falácia Naturalista... A assumpção de que Natural é sinónimo de Bom. Que de resto é, creio eu, um dos fundamentos e erros básicos do Darwinismo Social enquanto doutrina. Se a natureza é assim, é assim que devemos ser.
E mesmo esta visão, errada em si mesma, encerra um outro equívoco sobre a Evolução, muito comum no século XIX e em quem tem um conhecimento demasiado superficial da ciência: a de que a Evolução é linear, direccionada, que o que vem depois é sempre melhor do que o que vem antes.
A selecção natural escolhe de facto os mais aptos a reproduzir-se e numa dada população são eles que dominam e prosperam (eles os genes). Mas essa aptidão é sempre Contextual. É função directa do meio ambiente. Hoje sobrevivem os que resistem ao calor, muda o clima e passam a sobreviver os que resistem ao frio, e assim por aí adiante.
Nesse sentido, seremos mais complexos, mas não somos mais "Evoluídos" do que uma cianobactéria que é basicamente igual há 4000 milhões de anos. Porque estamos ambos aqui, nós e ela. E ela pelo menos já deu provas de muito mais endurance...
O que a teoria da evolução aplicada às sociedades e culturas nos diz, é que as ideias ao agir como os novos replicadores egoistas- os famosos Memes-, podem determinar resultados biológicos que favorecem a sua sobrevivência mas não necessariamente a de quem as promove. E isso, sim, explica elegantemente a sobrevivência de muitas formas de ignorância.
11 outubro, 2006
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2 comentários:
Ando a saltar de post para post e continuo a gostar muito :) por isso vou "linká-lo"...
Ainda bem que gosta, d. Redonda :).
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