O que faz com que a percepção do sobrenatural seja tão generalizada na espécie humana? Porque é que a resposta: "foi Deus" satisfaz tanta gente?
A resposta à primeira pergunta parece estar em algumas peculiaridades da mente humana. Uma das coisas para que os humanos estão particularmente vocacionados, por comparação com outras espécies, é em perceber intenções. Mas quando isso se cruza com a nossa fraca intuição estatística, tendemos a considerar que há algo por trás de acontecimentos que são apenas geridos pelo acaso.
Outra particularidade da mente humana prende-se com um mecanismo de que já falei mais abaixo, aquilo que Dan Gilbert chama o sistema imunitário psicológico. O nosso cérebro tende a preferir a visão mais benévola e compensadora do que nos acontece. Por isso à medida que a vida nos leva pelos seus caminhos incertos, somos supreendidos com resultados positivos que não antecipávamos. Um facto surpreendente carece de explicação, e portanto o impulso é tentar perceber o que está por trás dele. Ou quem.
E quando alguém responde "Foi Deus", isso parece chegar para muita gente. Mesmo que na verdade não seja uma explicação. Mas o curioso é que para a maior parte das pessoas, na maior parte das circunstâncias, uma explicação já é suficientemente satisfatória se tiver forma de explicação, mesmo que não tenha o conteúdo.
O seu a seu dono, este post é um curtíssimo resumo de um artigo de Dan Gilbert "The Vagaries of Religious Experience".
Ele termina o seu artigo reafirmando que a ciência apenas pode refutar as representações mais folclóricas de Deus, e não a possibilidade da existência de uma força, entidade ou ideia superior que mereça tal nome. Mas o que a Ciência pode afirmar é que "o Universo é complexo, que as coisas fequentemente correm melhor do que esperávamos e que nenhum destes factos precisa de uma explicação externa a nós mesmos."
É um rapaz tolerante, o Daniel Gilbert.
29 outubro, 2006
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2 comentários:
Detesto o que não tem explicação ou parece não ter sentido e para ultrapassar isso agarro-me à esperança de que depois de morrer, saberei (não deve fazer muito mal, porque a depois ser o nada, também não saberei que afinal estava enganada...)
Tudo tem uma explicação, pode estar ou não ao nosso alcance descobri-la.
Quanto ao sentido, há coisas que não o têm, nem precisam, e outras que têm, e somos nós que lhe damos. Isto assim de repente é o que me parece :).
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