“O dogma oficial das Sociedade Industriais Ocidentais é algo como isto: Se pretendemos maximizar o bem estar dos nossos cidadão, a forma de o fazer é maximizar a sua Liberdade Individual. A razão para isso é que Liberdade é em si Boa, Valiosa. Essencial à condição humana, e se as pessoas tiverem liberdade cada um de nós pode actuar por si mesmo, fazendo as coisas que maximizam o nosso bem estar, e ninguém decide por nós. A forma de Maximizar a Liberdade é Maximizar a capacidade de Escolha.
Quanto mais escolha tivermos, mais liberdade temos, e quanto mais liberdade temos, maior o nosso bem estar.”
É assim que Barry Schwartz, professor de Sociologia e autor de “The Paradox of Choice” começa uma palestra acontecida o ano passado em Oxford.
Esta ideia está tão enraizada em sociedades e algumas ideologias vigentes que poucos são os que se atrevem a contrariá-la. Mas como acontece frequentemente nestas coisas, os factos são do contra.
No post anterior já tinha abordade a nossa inabilidade em prever certas condições futuras. A nossa avaliação da Liberdade de escolha parece ser um desses exemplos, e certamente não o menos dramático.
O excesso de escolha provoca, antes de mais nada, uma espécie de paralisia. Um exemplo simples e clássico: uma demonstradora num supermercado exibe 25 variedades de compota, e oferece um vale de compras. Outra exibe 6 e também oferece o mesmo vale de compras. O segundo exemplo origina 10 vezes mais compras, em média. É muito mais fácil escolher.
Mas feita a escolha, despoletam-se diversos outros mecanismos.
Primeiro, uma desmesurada subida das expectativas. Se vamos escolher uma coisa entre 50, o mínimo que esperamos é a perfeição. O potencial de desilusão é exponencial.
Segundo, pagamos aquilo que os economistas chamam “Custo de Oportunidade”. As potenciais boas coisas que preterimos tornam-se espinhos e grãos de areia na satisfação da nossa escolha. Quanto mais oportunidades de escolha, maior o custo de oportunidade.
Finalmente, quando a escolha nos desilude, culpamo-nos a nós mesmos. Com tanto por onde escolher, só pode ter sido culpa nossa.
Isto é verdade para objectos, coisas que se compram e que proliferam nas nossas sociedades de consumo, mas também é verdade nas nossas vidas pessoais.
Schwartz dá o exemplo dos seus alunos de pós graduação que vivem atormentados com as possibilidades que se lhes deparam: casar, ter uma carreira, ter filhos. Que devem fazer? Ter uma carreira e depois filhos, casar e ter uma carreira, e os filhos vêm depois? Não casar? Ele lembra o tempo em que se casava o mais cedo possível, tinha-se filhos o mais cedo possível, e a única escolha que se tinha que fazer era “com quem?”
A liberdade é essencial. Uma pessoa sem escolhas, não pode ser pessoa, não pode realizar o seu potencial humano. Mas ter a Liberdade como valor absoluto não só gera conflitos e paradoxos, quando as liberdade individuais infinitas colidem umas com as outras, como contraria o fim ultimo da liberdade que é a felicidade do ser humano.
Este é um problema peculiar das nossas sociedades de afluência material, e um racional que permite defender a redistribuição da riqueza não com base numa noção de justiça que é sempre julgada como ideológica, mas com base numa noção de eficácia. Se a busca de felicidade é o nosso mote, sejamos coerentes.
03 outubro, 2006
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7 comentários:
Pois é...Talvez dois planos de liberdade e escolha, não? O individual e o colectivo, não?
Talvez esses planos estejam difusos e se choquem os interesses.
É a historia da coisa acabar quando começa o nariz do outro...
É, o problema destas coisas é as pessoas aceitarem que não sabem o que é melhor para a sua vida. Não sempre, mas muitas vezes.
Olá l.rodrigues,
... não sei com que liberdade fazes as tuas escolhas, mas, digo eu, estás a sair-te bem. são interessantes e, muitas vezes, surpreendentes. Quanto ao tema, uma achega: a complexidade e diversidade excessiva das escolhas pressiona,também, para o treino da efectuação desse tipo de opções. Neste caso a liberdade poderia ser, também, a aprendizagem de si própria.
Achas bem?
Abraço
Até certo ponto, sim. Mas quando o paradigma é "quanto mais escolha melhor" nunca estaremos aptos a concluir essa aprendizagem.
O próprio autor afirma: não há números mágicos. Depende do assunto, e do indivíduo, o que consiste um número razoável de opções.
Mas acreditar que quanto mais melhor, conduz à frustração e ao desperdício de que temos tantos exemplos à nossa volta.
Subscrevo inteiramente as conclusões que expressas nos dois últimos parágrafos.
Beijo, Luís.
Sim, o paradigma parece-me bom. Quanto mais escolhas melhor!
Se perante um elevado número de opções aparecer angústia, o problema não está no elevado número de opções, mas sim numa fragilidade do indivíduo. De algum modo não sabe bem aquilo que quer, tem o seu projecto de vida mal definido. Pode inclusivamente ter caído em dispersão.
A liberdade, ao contrário da dispersão, quanto maior melhor.
A liberdade não depende do número de opções, mas sim da capacidade de um indivíduo determinar o sentido da sua acção.
Caro anónimo, se se deu ao trabalho de ler o post, a ciência actual parece demonstrar que mais escolha só é bom até certo ponto.
Haverá uns individuos com mais capacidade de escolher que outros em certas situações. Porque mais informados, ou porque menos preocupados com o resultado da escolha.
Mas em nenhum individuo essa capacidade é infinita. Ser Humano implica ter limites. E o que a ciência nos diz também é que desenvolvemos mecanismos para lidar bem com escolhas restritas e não ilimitadas.
Agora veja este caso: tenho um sociólogo que estudou o assunto em profundidade e me diz uma coisa, e um anónimo que me diz o contrário.
Será dificil escolher?
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