05 maio, 2006

Tempus fugit, ou nem por issit?

Hoje, numa conversa ao almoço, fui assaltado por uma questão.

Se o tempo parasse, os relógios continuavam a funcionar?

Pode parecer absurda, mas acompanhem o meu raciocínio.
O tempo não faz funcionar os relógios.
Pelo menos não no sentido em que a temperatura faz subir o mercúrio, ou o movimento do carro acciona o velocímetro. O que faz funcionar os relógios é a energia acumulada na corda, ou na pilha.

Se o tempo parasse, ninguém dava por isso.
Se os relógios parassem, nós também, e não os víamos parar. O tempo é democrático, quando pára é para todos.

Tenho a certeza de que isto é importante. Resta-me descobrir para quê.




P.S. Não vale a pena procurar siginficados ocultos. Este post não tem mesmo nada que ver com a crise de energia, com geopolítica ou com a luta de classes. Ou até com a natureza humana...

13 comentários:

Paulo Cunha Porto disse...

Meu Caro L.Rodrigues:
Não estou bem certo da verdade absoluta do "post scriptum". Afinal «Fim dos Tempos» significa, nas mais das vezes... fim do mundo. E sobre este, quer a crise enrgética quer a sobreabundância presente no holocausto nuclear, têm a sua palavra a dizer.
E se nos remetermos à distinção de Santo Agostinho entre «tempo psicológico», «tempo histórico» e «tempo metafísico», teremos de pôr o primeiro fora de jogo, pois só é relevante no mundo das nossas insuficiências. E o último, porque a resposta à pergunta «que fazia Deus antes do Tempo existir?» -«Deus fazia o próprio tempo» acarretaria que a extinção dele deixaria a Divindade no desemprego.
Resta, portanto, o tempo historico. Os relógios poderiam continuar a mover-se, enquanto tivessem forças para isso. Mas haveria sempre uma inscrição na poeira cósmica que sobejasse, à espera de um decifrador diferente Daquele que nem conhece o segredo, nem o envelhecimento. Chegamos pois à conclusão de que a abolição do Tempo era coisa afinal bem mais pobre - a simples eliminação do Futuro. Borges já o sabia quando escreveu «O Passado é a única coisa indestrutível».
Um abraço.

L. Rodrigues disse...

Curiosamente o que originou esta reflexão foi saber que uns aficionados dos relógios tinham estado devotamente à espera da 1h 2min 3seg do dia 4 do 5 de 2006. Para ver a harmoniosa configuração dos ponteiros... coisa que se podia fazer com umas voltas de acerto, em qualquer altura...

Paulo Cunha Porto disse...

E, Caro L.Rodrigues, transportou-me para a resolução de um mistério policial pela indicação de paragem presente em «POIROT E OS QUATRO RELÒGIOS», creio que se chamava assim; da Agatha Christie, lembra-Se?

L. Rodrigues disse...

Por sacrílego que pareça, nunca fui leitor de Agata Christie. O que chega a ser estranho porque sempre gostei do que aas suas obras produziam quando adaptadas ao cinema ou TV.

José, o Alfredo disse...

Pode ser estranho, mas não chega a ser crime.

Paulo Cunha Porto disse...

Meu Caro L.Rodrigues:
ainda a propósito do texto, tendo ido em busca de outro, encontrei este poema, de Manuela Oracy:

Ponteiros despidos,
Minutos, segundos,
átomos vencidos
de Momento exangue.
Estranho Relógio
de nervos e sangue,
badalando sempre
hora boa ou má.
-Tic-tac-tic...
A Hora
a desoras,
chega sempre,
ou já.

L. Rodrigues disse...

Caro José,
Não merece certamente que se incomode o detective de cabeça de ovo...


Caro Paulo, obrigado pelo poema.

Fatima disse...

Em resposta à pergunta, evidentemente que parariam os relógios se o tempo parasse, pois se se atrasam quando a velocidade se "aproxima" da velocidade da luz. Não nos aperceberíamos, no entanto, de tal facto, porque simplesmente também nós ficaríamos imóveis olhando o relógio numa espera eternamente curta.

MySelf disse...

De facto, é uma reflexão interessante.
Mas se o tempo parasse, de que serviria os relógios continuarem?

Anónimo disse...

Caro Luís,

O tempo, no limite, é um fenómeno individual. Se eu quiser que o tempo pare, represente isso o que represente para qualquer outra pessoa, o tempo pára. O meu tempo pára. Como pode parar o teu. Requer alguma disciplina e treino, mas a idade e, principalmente, a experiência dão um forte contributo para que isso aconteça. E quanto a mim, o tempo só tem a ver com os relógios se nós quisermos ou a isso formos obrigados. Isto para chegar onde? Para dizer que não concordo com a afirmação de que o tempo é democrático. Não pára para todos. Pára quando cada um quiser que ele pare ou (pior) quando outrem faça com que o nosso tempo pare. Está, portanto, longe de ser democrático. Talvez por isso é que achas que o assunto é importante mas te falta descobrir porquê.

L. Rodrigues disse...

Caro Mike,
Esse é o tempo de que Thomas Mann falava na sua Montanha Mágica. Sem dúvida mais plástico e moldável às nossas lógicas internas. Este de que falo, nasceu com o universo e vai morrer com ele, ou mudar-se para outro.
Aí está uma ideia. O tempo como parasita de universos.

Anónimo disse...

Hoje parece que sou do contra. Mas estava claramente a referir-me ao tempo de que Thomas Mann falava na sua Montanha Mágica. Mas existirá, de verdade, esse outro tempo de que falas? Se existe, então aqui fica a minha discordância: os universos é que são parasitas do tempo e não o contrário.

L. Rodrigues disse...

Como pérolas num colar.