20 março, 2006

outros Katrinas

Este fim de semana, houve umas manifestações em França. Todos vimos imagens na televisão de uns jovens à pedrada à polícia, uns carros a arder, os números de uma centena de prisões, e uns quantos feridos.

O que está em causa é uma lei de trabalho que permite qualquer jovem com menos de 26 em primeiro emprego ser despedido, sem nenhuma causa, nos primeiros dois anos.

É suposto com esta lei facilitar o emprego jovem, do qual se diz que há uma crise em França.
Ao que parece há quem acredite que se criam postos de trabalho se for mais fácil despedir pessoas.

A análise da situação é muito interessante mas tem que se ter cuidado. Se se ler os jornais internacionais nas suas páginas de economia, podemos ver coisas como: 20% de desemprego nos jovens em frança... leis modernas a serem boicotadas por uma visão esclerosada do mercado de trabalho, que se quer flexível e ágil, as doenças da Velha Europa... do estado social etc etc etc.

O primeiro facto prende-se com aquele número. 20% dos jovens sem emprego, mas esse número para ser encontrado tem que se excluir todos os jovens que estão a estudar... ou seja, o número real é de 7,8. Em Inglaterra é 7,4 e ninguém diz que lá há um problema de emprego da juventude. A França pode muito bem estar melhor do que eles próprios pensam, afinal.

Mas o mercado de trabalho quer-se flexível, ágil. O paradigma apontado é o anglo saxónico. Nomeadamente o Americano. Nomeadamente na sua versão "Nova Economia", em que tudo acontece muito depressa, onde se valoriza mais o potencial do que a experiência.
Uma pessoa tem que estar sempre pronta a largar tudo para mudar e acompanhar os tempos. O trabalhador modelo, é um jovem cheio de cafeína, que trabalha 18 horas por dia, cheio de entusiasmo e que tem por ambição reformar-se, rico, aos 40. Se pretende ter uma família, dar-lhe atenção, e garantir o seu sustento, pode considerar-se desde já obsoleto.

Um jovem francês com esta lei, estará automaticamente impedido de comprar casa, de contrair empréstimos, de começar a sua vida, ao fim e ao cabo, que é o que o primeiro emprego é suposto ajudar a fazer.
Eu até aceito que o meu patrão pense assim. Afinal, é melhor para ele, e para se ser patrão não se tem que dar provas morais... Já o meu primeiro ministro, não aceito. Por isso é fácil compreender os franceses.

Hoje lá, amanhã aqui... Por isso, quando lerem sobre França, desconfiem quando disserem "lá estão os Franceses, agarrados aos seus privilégios, ignorando os ventos do progresso que varrem todo o mundo"

Como um furacão.

6 comentários:

José, o Alfredo disse...

Para além do mais, é sempre bom ver polícias a levar pedradas. Sendo franceses, ainda é melhor.

João Villalobos disse...

Hmmmm...a preocupação com o sustento da família interessa ao capitalismo. Aumenta a dependência face à remuneração e às condições. Pelo menos, era o que diziam os marxistas :)

L. Rodrigues disse...

Isso é para um capitalismo antigo que pensa a longo prazo. Um capitalista como Henry Ford, paternalista, preocupa-se com a família. Um capitalista moderno, salta de oportunidade em oportunidade, sem laços, nem fidelidades, nem responsabilidades.

A disse...

Um capitalista moderno não tem tempo nem vontade de o ter para laços e vínculos. Estou de acordo sim. E estive bem atenta a esta situação também, não tendo visto sequer imagens, por falta de interesse e tempo. Mas pareceu-me desde o inicio um sinal importantíssimo de medição de forças. Capital vs Ser humano. ainda estamos nos primeiros minutos do jogo e pode acontecer muita coisa...

Anónimo disse...

E que tal, se queres um emprego, porque não criá-lo ?
O emprego, assim como as patacas, não cresce nas árvores.

L. Rodrigues disse...

As oportunidades surgem quando há procura. Se, como tem sido a tendência do ocidente, se opta por alienar a classe média transferindo postos de trabalho pelo critério simples da mão de obra barata, entra-se numa corrida para o fundo.
Um exemplo: a Alemanha apresenta em 2005 um procura interna inferior à de 2000. Consequência, fecham-se mais negócios, diminuem as oportunidades. É um ciclo que tem que ser parado, e não é com medidas destas.