Há uma ideia, quanto a mim uma boa ideia, que tem despertado algum interesse em certos ciclos, especialmente aqueles que procuram encontrar uma alternativa à teoria económica dominante. Uma missão para a qual não estou qualificado, mas isso não me impede de fazer eco de quem está.
Fruto destes estudos sabe-se que as pessoas, por um lado, não são muito boas a prever o que lhes vai trazer felicidade. Por outro lado, sabe-se que as pessoas se habituam ao seu estado, e aquilo que parecia ser uma fonte de felicidade deixa de o ser passado uns tempos, e o mesmo se passa com algumas fontes de infelicidade.
Por isso uma das coisas que importa identificar é que coisas causam felicidade, e nunca são demais. E entre essas estão coisas como boas e sólidas relações sociais, amigos, família, sexo, um trabalho compensador, que dá significado ao que fazemos, e outras assim.
A resposta é simples e parece senso-comum, mas a verdade é que a vida a que cada vez mais gente é obrigada, no esforço pela competitividade e na busca de uma ideia de felicidade vendida por quem não sabia do que falava, nos afasta cada vez mais das verdadeiras fontes de bem estar.
A desintegração das famílias, a trivialização das relações, a mobilidade imposta a trabalhadores e famílias, a angustia de ficar para trás numa corrida sem sentido, são-nos impostas como modernidade, flexibilidade, liberdade individual, sucesso. Por vezes o discurso parece até assustadoramente moralista. Mas se olharmos para o que se exige, é simplesmente mais tempo e estabilidade para nos relacionarmos uns com os outros de formas emocionalmente construtivas.
A ideia nova de que falei ao princípio, é a de integrar a felicidade numa nova teoria económica. A teoria vigente tem um nome para os custos que ficam fora do sistema: Externalidades. São externalidades, por exemplo, os custos ambientais de uma industria. Durante décadas foi permitido poluir à vontade fazendo com que todos pagassem esse custo, em benefício de alguns que lucravam com isso. Esse estado de coisas conduziu directamente à actual ameaça do aquecimento global, por exemplo.
Assim, a infelicidade devia ser considerada como uma externalidade e, reconhecida como tal numa politica de justiça, sujeita a impostos e multas.
Não julguem a ideia pelo simplismo da minha esplanação. O autor de onde trago uma boa parte destas ideias é um dos mais eminentes economistas britânicos da actualidade, e o seu livro Happiness é apenas uma primeira tentativa, talvez ainda imperfeita, de tentar perceber como um Estado se pode organizar para fazer aquilo que é afinal a sua razão de existir: promover a felicidade dos seus cidadãos.
Os opositores chamam paternalista a este tipo de propósitos. E insistem que a felicidade está ligada a coisas como "liberdade económica". O pior cego é mesmo o que não quer ver. Mas o assunto, como de costume não fica por aqui.
16 comentários:
Põe os olhos no Butão. O único país que criou a FIB (Felicidade Interna Bruta). E isto tendo a pior selecção de futebol do mundo :)
Abraço
Mau titulo. Nem a felicidade nem a infelicidade devem pagar imposto.
O "imposto" tal com qui está implicito resulta duma tributação do estado a quê? Um Proveito dos cidadãos? Teriamos então por obrigação patriótica ser felizes? Por o Estado nos dar o quê?Pelo previlégio de quê? A palavra "imposto" é muito perigosa para colocar aqui. Então se fosse pela felicidade, era ter visto os Mateus destes tempos ontem a cobrar taxas de felicidade a quem se alegrou com o espremer das laranjas.
SE fosse pela infelicidade teriamos a logica do dentista que arrancava mais barato sem dôr. E depois dizia ao paciente para (sem dar anestesia) não gritar, porque se gritasse pagaria mais.
Escolhe outra abordagem, mas mais impostos não, por favor.
João Vasco, o livro fala do Butão. O problema é que não sabendo muito sobre a felicidade uma das medidas foi abrir e liberalizar as emissões de televsão, com consequências nefastas.
PMR,
não se trata de obrigação patriótica mas sim ter um tema geral para a frma de fazer as coisas. Hoje em dia muita gente defende a noção de "Liberdade" como tema central da sociedade ocidental, mas para ela funcionartem que haver compromissos: esponsabildiade, segurança etc. A Felicidade, é uma meta inquestionável. Está inscrita na natureza humana. Hoje temos o conhecimento que nos permite olhar para as sociedade e perceber o que nos faz infelizas. Porque não contrariar isso?
Desculpa o francês, mas se lhes dá para taxarem a desinfelicidade, fico fodido.
Pois, posto dessa maneira é preocupante. Talvez não tenha ficado claro que a ideia é taxar coisas que promovam a infelicidade. Como o excesso de horas de trabalho, ou a publicidade dirigida a crianças.
Luisinho, boas pistas pa reflexão. A felicidade é um tema que também me interessa bastante. Gosto desse princípio de taxar o que nos faz infelizes. A felicidade é a nossa grande motivação mas, apesar de vivermos num tempo em que existe um maior potencial de felicidade que antes, curiosamente não somos mais felizes que antes. Poderemos/conseguiremos melhorar a situação?
Olá L. Rodrigues,
... já tinha dito, funcionas quase como uma outra consciência para mim. Tem algo de comodismo isto, mas não queria. Com este texto estou 100% de acordo: Há algo de tremendamente errado nos valores imperantes, que precisa de reflexão urgente. Os valores imperantes têm que deixar de ser imperantes. O problema é contrapor com valores que destronem os que lá estão... há pensadores que dizem que tal é ao mesmo impossível e inevitável: impossível porque nunca se conseguirão convencer os que assim pensam de outra forma de pensar; inevitável porque a próxima geração de pensadores quererá pensar de uma forma diferente.
Quem sabe? Mas há alguma esperança no final de tudo.
Abraço
Não me choca nada que essas "externalidades" sejam taxadas. A avaliar pelo exemplo (os custos ambientais) até acho uma boa ideia.
Mas percebo que o título possa provocar algum mau-estar. Assim, a seco, é difícil aceitá-lo.
Caro Vasco,
Estou convencido de que é inevitável. O que falta determinar é a violência com que o vamos perceber.
Cara Marta,
A palavra imposto causa urticária a muita gente. Mas quem acredita no bem comum, na redistribuição justa da riqueza, e na legitimidade teorica dos governos eleitos, não pode ter esses pruridos. ALguns dos países onde se vive melhor segundo todos os indicadores sociais e económicos, têm enormes cargas fiscais. Têm sobre nós a imensa vantagem de as aplicar melhor.
queria dizer que visito seu espaço e o acho extremamente sensível e inteligente.....
Moema.
Obrigado Moema, tento fazer o melhor que posso.
Caro PMR,
Vejo-me obrigado a discordar da tua posição, mas apenas numa vertente. Concretizando: a infelicidade devia pagar imposto. À partida parece um paradoxo. Os impostos pagam-se quando há mais valias, quando se acrescenta valor a algo e, sendo assim, quem é mais feliz devia pagar mais impostos. Porquê? Porque tem algo mais que os outros. Mas do ponto de vista do país, da sua auto-estima, produtividade, melhoria de vida em sociedade, etc, entrendo que deve ser o contrário. A infelicidade devia pagar imposto sim senhor. Assim as pessoas viam-se obrigadas a olhar para o copo e a vê-lo meio cheio, nunca meio vazio. E todos nós, pais, maridos, esposas, tios, trabalhadores, patrões, filhos, etc, víveríamos mais felizes. A isso acresce mais uma coisa: sendo mais felizes, pagaríamos menos imposto.
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