Recentemente foi notícia em alguma imprensa económica a história de Enzo Rossi, o empresário italiano que resolveu viver durante um mês com o ordenado de 1000 euros que pagava aos seus empregados.
Chegado ao dia 20, estava nas lonas. Nas suas palavras, “Tive que me render, e se encontrasse 6 ou 7 amigos a quem oferecer um aperitivo?”.
Posto isto, deu um aumento de 10% a todos os seus 20 empregados. A empresa de “pasta” de Enzo faz 1,6 milhões de euros de lucro por ano, o aumento terá custado, nas minhas contas muito grosseira, menos e 100 000 euros ano, certamente. (Considerando 56000 euros líquidos (20x14x100) mais uma margem para contribuições).
Esta história é interessante a muitos níveis. Desde logo o subtítulo da noticia: “O robin dos bosques dos empresários”
O Robin dos Bosques roubava aos ricos para dar aos pobres? A quem “rouba” Enzo? Não seria mais justo dizer que era ao contrario, antes de ele se dar conta das condições que oferecia aos empregados? De certa forma, roubava aos pobres para dar aos ricos.
Da mesma forma que os nobres normandos não podiam usar outra estrada, também os empregados de Enzo não têm muito mais hipóteses do que aceitar os empregos que houver na região, ou tentar a sua sorte noutras paragens pagando o preço das famílias que se separam e dos amigos que se perdem.
Os amigos são outro aspecto interessante desta história. Enzo reconhece que o que paga aos empregados tem servir para mais do que a mera subsistência. Tem que permitir dignidade, alimentada por relações sociais, um lugar entre os outros, o reforço da identidade etc.
Ainda de relevo é o facto de Enzo reconhecer também que vivendo numa comunidade pequena, de menos de 2000 habitantes, se sentiu envergonhado com as condições que oferecia. Ele tem que conviver com as pessoas que para ele trabalham, e com outras que deles dependem, como as famílias e os comerciantes locais.
Se Enzo respondesse perante accionistas, o gesto podia ter-lhe custado o lugar de C.E.O.
Não sei dizer se agora os empregados de Enzo ganham um salário mais justo. O aumento de 100 euros provavelmente não vai transformar o seu nível de vida de forma a mudar as suas perspectivas e projectos de vida. Mas certamente aliviou um pouco a sua “ginástica” mensal. Umas crianças vão ter o material escolar que precisavam, uma esposa irá ao cabeleireiro um pouco mais frequentemente. Poderão até dar com mais facilidade aos que têm menos sorte ainda do que eles. Coisas pequenas, que por vezes fazem toda a diferença na história de cada um.
Quanto a Enzo, isto custou-lhe talvez uns 6 % dos lucros. Em vez de ganhar 1.6 milhões, irá ganhar 1,5, a manter-se o nível do negócio. Um preço pequeno a pagar por uma consciência tranquila.
04 dezembro, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
8 comentários:
Pois eu, meu caro l., se fosse accionista, o lugar de CEO do Enzo não estaria em risco. Claro que lhe recomendaria vivamente a encontrar uma solução para compensar o decréscimo de 6% nos lucros (risos)... 6% não, 12% porque lhe sugeria um aumento de mais 10% a todos os empregados. Se ele superasse este objectivo atribuía-lhe um prémio... se não superasse, dava-lhe mais 2 anos para atingir o objectivo, ou mesmo 3 ou 4. ;). Parabéns pela história que hoje trouxeste.
i wonder if he needs a secretary ? ;)
Gostei de ler caro l.rodrigues
Caro L. Rodrigues:
Posso sugerir-lhe que corrija o seu título? Não é ridding (gerúndio de rid, que quer dizer livrar), mas sim riding (gerúndio de ride, que quer dizer cavalgar).
Um abraço.
Ah, e também não é Glenn (que é um nome próprio), mas sim glen (que significa vale estreito)
Obrigado, caro José Luiz
Eu o riding vi logo... mas acho sempre que ninguém me lê :) por inércia deixei ficar...
O pessoal lê-te mas concentra-se no conteúdo... ;)
Ups, isto deu "anónimo" mas era eu.
Caríssimo,
eu diria mais um espírito de Zé do Telhado, porque o de Robin Hood era um espécie do de Hitler com melhor imprensa, sendo os Saxões os arianos e os semitas os arrivistas da Normandia...
Abraço
Enviar um comentário