O recente ataque de Israel à frota de activistas que tentou furar o bloqueio imposto por aquele país à faixa de Gaza, veio inflamar o debate da blogosfera. Há de tudo, nesta discussão. Desde as posições mais extremadas de um lado e de outro, até moderados conciliadores que tentam não queimar as ténues pontes de diálogo que apesar de tudo teimam em persistir.
Eu sou dos que anseiam por uma paz naquela região que respeite a dignidade de todos os envolvidos, e que não seja refém de orgulhos nacionalistas, de leituras parciais da história, ou de factos aparentemente consumados.
Calhou-me comentar num blogue, que costumo ler pelas mais diversas razões, uma destas polémicas. Dali nasceu a necessidade deste texto. Ao que parece, um comentador que não mantenha um blogue imaculada e pontualmente actualizado, vê os seus comentários passarem para a segunda ou terceira divisão. A do bitaite.
Teoricamente isso tem como consequência não merecer uma resposta em termos do comentado, mas apenas uma boca lateral. Na prática, não é bem assim. Afinal, na mesma caixa de comentários, um qualificado bloguista, com muito mais protagonismo e até responsabilidade do que este quase anónimo escriba, não teve melhor sorte em obter uma reacção coerente às suas críticas e argumentos.
Quando no
blogue 5 Dias alguém questionava (com uma veemência e um estilo que lhe é peculiar) o Direito (no sentido juridico) fazendo uma crítica de carácter político à existência e conduta do estado de Israel, no outro lado foi imediatamente acusado de "odiar judeus".
Não era nada comigo, mas a desonestidade intelectual é uma coisa que me encanita à partida, e me deixa especialmente intrigado quando a detecto em pessoas que tenho por inteligentes, informadas e com uma certa mundivivência. Pelo que manifestei a minha repulsa pelo qualificativo.
Esta polémica estava destinada a um
segundo round. O primeiro autor não se ficou, e apelidou quem faz aquele tipo de ilações de "filho da puta". Coisa que como é bom de ver não caiu bem no segundo... que enfiou o barrete até às orelhas e pegou de caras.
Neste caso eu voltei a colocar-me ao lado do primeiro: Não chamaria isso a alguém, à partida. Mas se me chamarem racista para desviar a atenção da questão essencial, considero isso um insulto, e portanto susceptível de ser respondido com outro. (Nestas coisas acho que devemos sempre deixar os adversários escolher as armas do duelo).
Mas tudo isto é espuma dos dias e de algumas bocas.
O que me ficou aqui a ruminar foi outra questão que emergiu por ali e que é recorrente sempre que se fala de Israel.
Quando se menciona que Israel está a adoptar atitudes e métodos que lembram aqueles mesmos de que o povo Judeu foi vitima na Segunda Guerra Mundial, surge de imediato o protesto "É Incomparável". E termina ali a conversa.
E assim, nunca se chega a falar da vida dos Palestinianos. Dir-se-ia que estão a pagar pelo crime dos Nazis, e como esse foi o mais hediondo que a História nos lembra, só se Israel começar a gasear Palestinianos em casamatas é que o pessoal começa a ficar incomodado. "Oh pá... isso assim também já começa a ser chato..."
E para quem vier a correr lembrar os atentados suicidas e os rockets, que vitimam israelitas inocentes, a minha resposta é que essas coisas nunca deviam ter acontecido. Nunca.
Mas para isso era preciso que o que lhe deu origem também não. De um lado está uma potência nuclear, com um dos exércitos mais bem equipados e treinados do mundo, e do outro um punhado de despojados, que acabam por servir de carne para canhão num conflito maior pelo controlo do Médio Oriente.
Num conflito tão assimétrico, uns atacam como querem, outros defendem-se como podem. Nesta guerra, a racionalidade impregnada de empatia foi a primeira vitima. E já morreu há muito tempo.