07 fevereiro, 2006

O Fenótipo Expandido

O titulo deste texto é a tradução directa do título daquela que Richard Dawkins considera a sua obra magna. O seu maior contributo para a ciência.

Vem ele a propósito de uma ideia que me andava a saltar dentro da cabeça mas que não havia maneira de assentar e ganhar uma forma que fosse minimamente apresentável. A ideia de uma ecologia das Culturas e da História. Ou seja, que cada modelo de sociedade, de organização, de desenvolvimento, tem origem e sucesso num certo contexto. Esse contexto é composto necessariamente pelas condicionantes naturais (recursos) e as culturas com que se relaciona, competindo ou não.

Isto tudo era uma tentativa de construir uma justificação para a intuição de que a imposição a nivel global de modelos económicos que foram bem sucedidos num certo contexto geográfico e histórico, acarreta consequências nefastas e deprimentemente previsiveis. O equivalente social de um "Prestige" ou "Exxon Valdez" à escala planetária. (O que de resto é menos metafórico do que se pensa, se considerarmos fenómenos como o da emissão de gases ou destruição de florestas.)

O Fenótipo Expandido pode ser a metáfora que procurava para explicar o que queria dizer. Para os menos familiarizados com esta terminologia convém explicar o que é um fenótipo. É um termo da genética que designa a manifestação de um gene, a sua tradução física. Como a cor dos olhos ou a hemofilia.

A definição clássica de fenotipo cingia-se ao corpo do indivíduo portador dos genes. A revolução conceptual que Dawkins propõe é que os genes que um indivíduo transporta manifestam-se também no ambiente, nomeadamente nos outros individuos.

Esta forma de pensar derruba a visão de unidades discretas com que normalmente se olhava a biologia. As fronteiras entre um individuo e o que o rodeia é menos marcada.

Transportada para a história, sociologia, economia, leva-nos a considerar como mais difusas as fronteiras do que chamamos cultura, sociedade, civilização. Uma visão defendida, por exemplo, por Andre Gunder Frank nas suas propostas para uma nova historiografia, onde ele defende a abolição dessas categorias.

Aqui parece encontrar-se uma contradição, se a primeira ideia, de "nicho ecológico", parece dar relevo e valor à diversidade da experiência humana, a segunda diz-nos que essa diversidade não é descontínua, e o que nos leva a desvalorizar as diferenças.

Mas é precisamente aí que se desfaz o paradoxo:
A unidade na diversidade. A diversidade na unidade.
A Humanidade é uma entidade plural. Uma só, e diversa.

Este post, que reconheço ser um pouco confuso, e já foi reeditado depois da primeira versão, mesmo que não diga nada a mais ninguém, ajudou-me a mim a perceber o que dizia Frank, ele sim, no seu livro ReOrient "Unidade na diversidade".

4 comentários:

João Villalobos disse...

Porque razão a mesma ideia surge a diferentes pessoas em pontos diferentes do planeta, de uma forma síncrona?
Ou não há estudos sobre isso? :)

L. Rodrigues disse...

Podes dar uns exemplos que excluam a simples probabilidade?
5 biliões de pessoas no planeta... Quantas vão à casa de banho em perfeita sincronia? Quantas copulam no mesmo ritmo ao mesmo tempo?

Quantas olham para as estrelas e vêem as mesmas estrelas e lhes fazem as mesmas perguntas? E quantas viram a mesma noticia no telejornal, partilham das mesmas preocupações, são oprimidas pelas mesmas tiranias, sejam elas da moda, da política ou da existência?

João Villalobos disse...

Hmmmm....cerca de 2,8? 8Quanto à csa de banho em plena sincronia, claro está). Isto porque nem todas lavam as mãos e umas lavam antes e outras depois...

L. Rodrigues disse...

De qualquer modo na minha actividade isso é frequente.
Não que nos copiemos todos uns aos outros, mas os pressupostos são muito parecidos, os elementos qe usaos são comuns, referências da vida corrente e cultura pop, inscritas na actualidade etc.
Perfeitamente justifcável por um contexto comum para a germinação de ideias que visam o mesmo objectivo.