31 março, 2009

A Carta

Será que os lideres mundiais a leram?
E será que os G20 ainda vão a tempo de a ler?

"Dear world leaders:
The winter of 2008-2009 will prove to be the winter of global economic discontent that marks the rejection of the flawed ideology that unregulated global financial markets promote financial innovation, market efficiency, unhampered growth and endless prosperity while mitigating risk by spreading it system wide.


...

This new international financial architecture will aim to create (1) a new global monetary regime that operates without currency hegemony, (2) global trade relationships that support rather than retard domestic development and (3) a global economic environment that promotes incentives for each nation to promote full employment and rising wages for its labor force. "

Henry CK Liu, et all, Asia Times.



O proposto é uma revisitação das propostas de Keynes para Bretton Woods, que nunca foram devidamente consideradas, dada a posição de inferioridade da Grã Bretanha, devedora dos EUA, na altura dos acordos.

Algo que George Monbiot, citado lá mais abaixo, prescrevia no seu "Age of Consent" que tive o prazer de ler.

27 março, 2009

Outra história da Crise

Esta inclui parágrafos como este:

"AIG is what happens when short, bald managers of otherwise boring financial bureaucracies start seeing Brad Pitt in the mirror. This is a company that built a giant fortune across more than a century by betting on safety-conscious policyholders — people who wear seat belts and build houses on high ground — and then blew it all in a year or two by turning their entire balance sheet over to a guy who acted like making huge bets with other people's money would make his dick bigger."

MATT TAIBBI - Rolling Stone

17 março, 2009

E também acho que Portugal vai ficar mais pequeno....

Monbiot diz a coisa certa no que respeita a mudanças climáticas.
Se agirmos como se não fosse possível fazer mais nada, o pior acontece de certeza.
E o pior é que já não vamos a tempo de evitar o aumento de 2°c de temperatura média do planeta.
Uma redução das emissões de 3% por ano a partir de 2020, poderá deixar-nos com mais 4° no final do século.
Se a estes aumentos estiver associada a expectável subida do nível do mar, todos aqueles cenários apocalípticos irão concretizar-se.

Os que dizem que não é preciso fazer nada, confiam na adaptabilidade do ser humano. O que eles não se lembram é que essa adaptabilidade histórica teve um custo humano distribuído por muitas e muitas gerações.

Um pouco como as coisas más que nos acontecem enquanto bebés e que felizmente não lembramos, como as dores dos dentes a crescer, as dores de crescimento da humanidade são uma coisa remota. Individualmente sempre houve quem se safasse, quem se desse bem, e nós, afinal, somos os filhos desses. Mas por cada um que se safou, quantos ficaram pelo caminho?

Mas agora temos no nosso horizonte um desastre. Não sabemos a sua escala exacta. Se as vitimas vão ser muitas ou poucas, se serão do norte ou do sul, brancas ou castanhas. Mas estaremos preparados para olhar para elas e dizer:

"Tu és o preço que temos que pagar... tem lá paciência..."

?

06 março, 2009

A sabedoria perdida



Gosto do que este senhor diz. Acho que é uma coisa que alguns, apesar de tudo, bem intencionados tecnocratas deviam ouvir. E nós também.

03 março, 2009

Schadenfreude

Os alemães têm esta palavra que lhes dá um jeitão. É a alegria que se sente com o mal dos outros.
Neste caso, não com o infortúnio dos islandeses, mas pela demonstração da estupidez que levou ao seu descalabro.
Fiz um pesquisa rápida de "Tigre Islandês", como era conhecido o país nos anos de crescimento a 6%. Saiu-me este texto de um site brasileiro, chamado Instituto Federalista e sobre o qual não sei mais nada.

Apenas algumas citações:

Os economistas falam no novo tigre europeu. Com 6% de crescimento do PIB em 2005, a Islândia ultrapassa outros países europeus. O Instituto Internacional de Desenvolvimento de Gestão Suíço classificou o país como a economia mais competitiva da Europa, em maio de 2005. Desde meados dos anos 90, o governo de centro-direita promoveu reformas de livre mercado, privatizando bancos, reduzindo impostos - empresas pagam somente 18% sobre os lucros, comparados com os 50% anteriormente - e desfazendo-se dos controles sobre os preços. A projeção da taxa de inflação até meados de 2007 é de 3,9% ao ano. A maior parte deste crescimento econômico se deve ao Primeiro Ministro David Oddsson e suas ações liberalizantes.
....
Por que a Islândia mudou? A tendência internacional em direção a liberalização econômica foi peça chave. Economistas de livre mercado como Friedrich von Hayek, James M. Buchanan e Milton Friedman visitaram o país nos anos 80, influenciando não somente o Sr. Oddsson mas muitos de sua geração. Na batalha das idéias, havia um reconhecimento em comum de que os velhos métodos não funcionavam. A inflação estava causando malefícios, as empresas estatais eram ineficientes e os subsídios eram caros. As idéias conspiraram com as circunstâncias para trazer as reformas econômicas bem sucedidas. E as idéias têm conseqüências...
Oh se têm.

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Double or nothing

Conta-se que o xadrez foi inventado por um matemático que, instado a escolher uma recompensa pelo feito oferecida pelo seu Sultão, disse:
“O meu pedido é simples. Na primeira casa do tabuleiro, coloque um grão de trigo, o dobro na casa seguinte, e assim sucessivamente."

O Sultão achou que o matemático era estúpido, mas depressa descobriu que não tinha trigo suficiente no reino para cumprir prometido. Precisaria de (2 elevado a 64) – 1 grãos de trigo. Como não é imediato o que isso significa, aqui fica a ilustração: seria mais ou menos 400 vezes a produção mundial de trigo de 1990.

Esta história ilustra o que acontece numa função exponencial. Continuemos com mais um pedaço de aritmética: se tivermos algo que cresce a um ritmo constante num dado período de tempo há uma característica desse crescimento que é o tempo de duplicação. Por exemplo, algo que cresce 7% ao ano, duplica ao fim de 10 anos.

A fórmula é T2= 70/crescimento %.

Concretizando para os temas que nos interessam: uma economia que cresça 3% ao ano (um numero que é normalmente considerado razoável num pais moderno e industrializado, duplica em...

T2=70/3 = 23,3 anos.

Agora voltemos ao tabuleiro de xadrez. Se repararem, sempre que duplicamos os grão de trigo para a casa seguinte, temos em cada casa mais grãos do que em todas as casas anteriores.
1, 2, 4, 8, 16, 32, nas seis primeiras casas e vemos que na casa 6, 32 grãos são mais do que 1+2+4+8+16=31, os grãos das primeiras 5 casas.

Ou seja, para cada duplicação gastamos mais grãos do que precisámos até então desde o principio do tabuleiro.

É por isto que uma economia que cresce 3% ao ano, em cada 23,3 anos, consome tantos recursos como os que foram gastos desde que se começou a contar.
É por isso que insistir no crescimento quantitativo (de população, produção e consumo) é uma perspectiva suicida para pensar qualquer estratégia de desenvolvimento.

Já aqui tinha abordado este tema, mas a explicação matemática simples, bem como as suas implicações, foi obtida neste vídeo que tem um conteúdo muito mais interessante que o titulo.