29 outubro, 2009

A esperança tem um preço baixo.

E se estivéssemos à beira de descobrir a cura para o cancro mas faltassem 25 milhões de dólares?

Um passo atrás:
Há uns tempos vi esta palestra de uma jovem investigadora que, tendo no seu curriculum já uma nova abordagem ao tratamento do Alzheimer, virou a sua mente inquisitiva para o cancro.
Propõe ela que o cancro não é simplemente uma doença, mas sim um processo de cura incompleto partindo do pressuposto de que o cancro se desenvolve em tecidos sujeitos a agressões. Ela sugere que se olhe para os tecidos em que o cancro nunca se manifesta, como os músculos esqueléticos e o coração, e se estudem quais os mecanismos que provocam essa imunidade.

Teve lugar em 2005.

Dois passos atrás.
Em 1986, o New York times anunciava a descoberta da "Hormona do Coração". Esta hormona, produzida pelo coração, parece ter uma acção importante na regulação da tensão arterial, e tem sido estudado o seu potencial como hipotensor, embora se mostrasse dificil a conversão em comprimido, vital para uma aplicação continua a larga escala.

Voltando ao presente, um endocrinologista do Department of Veteran Affairs tem aplicado, no seu laboratório a Hormona do Coração a células cancerosas. Primeiro em caixas de Petri, depois em ratos. Os resultados são encorajadores: 97% das células cancerosas são destruídas em 24 horas. Os ratos ficaram efectivamente curados. Há efeitos secundários: desidratação e hipotensão. Nada demais.

Entretanto, o passo seguinte passa por testes em humanos, aprovados pela FDA e levados a cabo por uma instituição privada a quem foram vendidos direitos de licenciamento.
Esta instituição privada, uma companhia californiana, não reuniu ainda os 25 milhões de dólares necessários ao programa de testes.

Agora, cabe aqui uma pergunta. O apregoadamente dinâmico sector privado dos Estados Unidos não consegue arranjar 25 milhões de dólares para investigar uma das mais promissoras curas para o cancro?
Entretanto, no seu laboratório estatal, David Vesely experimenta a hormona em diversos tipos de cancro, e faz avançar a pesquisa.

Mais uma vez, devo esta história ao Eurotrib.

6 comentários:

Mike disse...

Andas perto de ser o JJ da blogosfera. Gosto destes teus posts. 25 milhões não são uma ninharia? Ele há coisas que me ultrapassam, L.

Ana disse...

Um dia, em conversa ingénua ou patética, um miudo disse-me "cancro do coração, também há?" "Não". "Não??!!O que é que o coração tem de diferente dos outros todos?..." Ficou aqui a curiosidade, num e noutro, até há uns tempos em que um endo português me explicou isto da hormona. Provavelmente já sabia destas experiencias ou deste mesmo caso. Politiquices sobre os sistemas de saude á parte, e burocracias do FDA, 25 mil milhoes arranjam-se, haja vergonha na cara, em qualquer campanha net fora... Há qualquer coisa que não me cheira bem nisto, infelizmente...

CPrice disse...

Consegue. Mas isso geraria outra pergunta: e como vão viver todos os que sobrevivem à conta da existência desta e de outras doenças se as curas forem descobertas?

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Votos de bom fim-de-semana Caro L.

L. Rodrigues disse...

cara Miss Once,
Acho que colocou o dedo na proverbial ferida.
Agora passe as mãos por álcool e bom fim de semana.

L. Rodrigues disse...

Ana,
Sempre bem aparecida. Esse miudo vai longe, mas isso sabes tu melhor que ninguém.

L. Rodrigues disse...

Pois é Mike, com pouco mais que 400 milhoes erradicou-se a variola.

Com 700 biliões não se erradicou a crise.

São as contradições dos tempos. Mas o dinheiro apareceu.

E agora uns miseros 25 milhões não aparecem para algo, aparentemente, tão promissor?