26 maio, 2008

Fair Play

Durante a era Michael Jordan fui um razoavelmente fanático seguidor da NBA. Ao que sei, poder-se-iam tirar do modelo organizacional da competição algumas ilações interessantes. Tudo é feito em nome do espectáculo, sabendo que apenas um espectáculo de elevado nível mantém os pavilhões cheios e as estações de tv interessadas.

Assim, há uma série de regras que promovem a competitividade das equipas tentando evitar que haja vencedores crónicos. Havendo equilíbrio, há incerteza nos resultados, garantindo emoção e adesão. Comparando com a realidade que nos é próxima: Evita-se que haja 3 grandes que distribuem títulos entre si, com o ocasional “penetra” de quando em quando.

Assim, a NBA equilibra a distribuição dos proventos de contratos televisivos, acesso aos novos jogadores promissores, e tecto salariais das equipas, entre outros factores, para evitar que as hegemonias “estraguem” a liga.

Discute-se em alguns ciclos se uma liga desequilibrada é menos susceptível de atrair fans. Mas isso será outra questão.

Nesta altura os meus leitores mais frequentes deverão estar a estranhar o aparente afastamento dos temas habituais. Mas eu sou mais previsível do que isso.

Ocorreu-me precisamente este contraste entre NBA e Liga BWIN, como uma metáfora com alguma utilidade para suportar algumas posições que tenho defendido em relação a um tema que, pelos vistos, desperta reacções viscerais em muito boa (e também menos boa) gente. A questão da igualdade. Ou a questão da desigualdade. Depende de onde se vem.

Quando vejo pessoas que dedicam longos parágrafos a alertar para os perigos da igualdade (lembrando indiscutíveis e terríveis exemplos da história para ilustrar a sua posição), fico sempre perplexo.

“A igualdade é uma coisa nobre, de que até os Evangelhos falam mas como houve uns chineses ou uns russos que fizeram umas atrocidades, há a liberdade que é mais importante e pronto”.
(Nunca lhes ocorre no mesmo parágrafo lembrar o que Hitler fez em nome da desigualdade, vá-se lá saber porquê.)

De qualquer modo, tento ser mais construtivo que isso. E porque não aprender com a experiência de igualdade, não do Cambodja, ou da China, mas dos Comissários da NBA?

Afinal, são capitalistas insuspeitos, mas reconhecem que se um vencedor se apanhar numa posição de vantagem, é muito difícil tirá-lo de lá, se não houver regras mínimas de redistribuição de vantagens, e às tantas a competição deixa de ser… como direi… justa?

Quando (pelo menos eu, que não falo em nome de ninguém) se fala em igualdade, trata-se tão somente de nivelar minimamente o campo de jogo, de forma a que cada um possa dar o melhor de si, sem arrastar o peso de resultados de outras competições do passado, pelas quais não tem nenhuma responsabilidade.

Contaram-me uma vez a seguinte história atribuída a David Crockett, que nunca pude confirmar:

Ainda com 16 – 17 anos ter-se-à travado de razões com um homem muito maior que ele, que o desafiou para uma luta. Pretendia o seu oponente que fosse uma luta justa, um contra um. David Crockett terá pegado numa faca e espetado na perna do adversário, ferindo-o e respondendo: agora sim, podemos ter uma luta justa”.

A igualdade de que falo é apenas e simplesmente a igual oportunidade de aprender, de ter saúde e acesso à justiça. E, porque não, uma mais justa distribuição dos frutos do trabalho. O resto, então sim, é com a Liberdade de cada um.

Porque só com este sentido de justiça (me parece que) se pode falar verdadeiramente em Liberdade.

(alguns poderão dizer que estou a defender que para jogar basquete com o michael jordan apenas aceitaria faze-lo, qual pieguinhas, se ele tivesse uns pesos amarrados aos pés, e já agora que lhe cortassem as pernas para não ter mais que 1.71. Se fosse para jogar basquete, não senhor. Mas, e se fosse para jogar a minha vida…?)

5 comentários:

José, o Alfredo disse...

Eu a pensar que finalmente que ias falar de bola ou outra coisa interessante e afinal são as macacadas do costume. Mania de seres igual a ti próprio...

CPrice disse...

mania sim (permesso Signore Alfredo) ;) e que saudável mania.

Esta sua leitora já tinha saudades destes extrapolar de coisa nenhuma às grandes verdades. E andando um pouco pelos limites deste texto mantem-se a interrogação.

Anónimo disse...

Ó l., o José tem razão quando refere essa mania de seres igual a ti próprio, ou seja, manipulador! :)
Vens chegando com a NBA, mais os Evangelhos e o David Croket e depois arrematas com a tua vida? Não queres desconversa, é o que é. :)

L. Rodrigues disse...

Mike,
A minha vida sexual não é para aqui chamada.

Anónimo disse...

(gargalhada)