20 março, 2007

Os "Autoritários"

Tenho andado a ler o livro "The Authoritarians" de Robert Altemeyer, um professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Manitoba. Se há uma autoridade em Autoritários, ou na mente destes, é este homem.

Os Autoritários estudados neste contexto não são, ao contrário do que se poderia pensar, os ditadores e déspotas que volta e meia emergem nas mais variadas posções de poder, umas mais ou menos inofensivas, outras registadas na História com vastos números de vítimas. São antes os que se submetem e dão poder àqueles, porque acham que assim estão a fazer o que é certo.

O autor admite desde logo haver um limite à sua base de estudo. Embora ele reconheça que existem Autoritários de "esquerda" (género Seguidor Cego do Lider Revolucionário) esse espécimen é raro nos ultimos 20-30 anos na América do Norte. Assim, assumidamente, o livro é sobre os outros, muito mais comuns naquelas bandas, os RWA, Right Wing Authoritarians.
Antes que perguntem, ele considera que, neste contexto, o autoritarismo existente no bloco soviético era essencialmente de "direita". Eu depois de ler uma boa parte do livro, não sei se sequer faz sentido fazer essa distinção, mas se ele acha que sim, quem sou eu?

O perfil traçado, de uma forma geral, é o que se espera: um seguidista, inseguro, acritico, preconceituoso, etnocentrico e frequentemente fundamentalista religioso. Há uns completamente assim, uns que nascem assim, há uns que são educados assim, mas a vida endireita-os um pouco, e quase toda a gente tem um pouco disto, claro, que em psicologia a coisa é mesmo assim.

A leitura até agora feita suscitou-me duas reflexões: uma sobre o caso português e o nosso "amor" por uma autoridadezinha...
Um dos traços formadores de uma personalidade RWA é o estreito espectro de experiências. Tipicamente um RWA tem pais RWA, amigos RWA, e mantém a uma distância segura tudo o que seja susceptivel de ferir a sua pureza moral. Filmes, livros, ideias, pessoas, que não pertençam ao seu universo são por definição errados, perversos, antipatrióticos e indesejáveis.
Normalmente um RWA fica menos RWA depois de contactar durante algum tempo com, por exemplo, homossexuais ou pessoas de outras raças ou convicções politicas e verificar que elas não cheiram a enxofre.
Pensei no caso português, que confinados neste cantinho da Europa, para o bem e para o mal, terá sido o maior dos males não sermos um lugar de cruzamento de experiências, vivências e ideias. O nosso universo de possibilidades sempre foi relativamente pequeno, e mesmo quando ele se tornou do tamanho do Mundo, isso apenas foi assim para os poucos que partiam. Os que ficavam, (e alguns tinham que ficar) apenas podiam invejar e temer o que não conheciam.

A outra reflexão que me ocorreu, prende-se com a influência que estas pessoas acabam por ter na vida pública. Como são um público fácil de conquistar e mobilizar, tornam-se alvos preferidos de demagogos e ditadores de pacotilha. A situação actual dos EUA ilustra bem as consequências disso. Como continuar a ser democrata e tolerante e ao mesmo tempo tentar limitar o poder de um rebanho em pânico?

Fica uma pequena história relatada no livro. No Departamento de Psicologia é volta e meia jogado um jogo de gestão do Mundo. Imagino que sirva de teste para grupos de diversos perfis. Neste caso fizeram o jogo ser jogado primeiro por um conjunto de baixo indice RWA, e depois por um grupo de alto nivel RWA.
Os de baixo nível RWA conseguiram o melhor resultado de sempre, de todos os grupos que jogaram aquele jogo, com 40 anos de paz mundial e apenas algumas centenas de milhoes de mortos, porque mesmo assim não conseguiram resolver o problema da fome no 3º mundo.

Os de Alto nivel RWA, ao fim de 4 anos tinham deflagrado uma Guerra Nuclear e exterminado toda a população da Terra.

Acho que ainda voltarei a este assunto e a este livro...

4 comentários:

CPrice disse...

e eu cá estarei para seguir .. gostei!
:)

José, o Alfredo disse...

É uma boa ideia ir mantendo essa malta entretida com jogos, sejam eles quais forem. Sudoku, matraquilhos, curling, tetris, tudo menos deixá-los desocupados. Keep reading, keep sharing (a propósito: as armas, os germes e o aço papam-se muito bem).

Anónimo disse...

Cá para mim, autoritários continuam a ser os dominadores, despóticos, absolutistas. E não os seguidistas, inseguros e acríticos. Cada macaco no seu galho senão daqui a pouco outro professor conceituado de uma também conceituada universidade ainda vem dizer, e provar, que autoritário era o povo alemão quando liderado pelo Hitler ou o português em período salazarista, já para não falar no povo congolês no tempo do Mobutu. Vá lá, abro uma excepção ao francês, qualquer que seja a época. Mas fico curioso e ansioso para mais desenvolvimentos dessa teoria.

L. Rodrigues disse...

Acho que aqui se trata de um problema de tradução: "autoritários", como os "libertários".
Talvez melhor traduzido para Autoritaristas?