16 agosto, 2006

Vozes

Neste feriado tive a "sorte da televisão" do meu lado e pude assistir a dois testemunhos que muito me tocaram, ambos recolhidos bem antes dos actuais acontecimentos no Médio Oriente..

Um de uma jovem palestiniana, habitante de um campo de refugiados palestinianos no Líbano, quando perguntaram com que sonha.
"A minha vida é apenas isto que aqui tenho neste momento. Sonhar... nós aqui não podemos... não tenho sonhos."

O outro do maestro Yehudi Menuhin, falecido já em 1999, judeu como o nome indica. A pergunta que lhe fizeram foi, se a memória não me falha, "que tinha mudado nos judeus desde a fundação do estado de Israel?"

"Perderam a inocência. Os judeus respeitavam os 10 mandamentos(...) Mas quando se tornaram um Estado... perderam isso. O primeiro direito que um Estado reclama é o de matar."

5 comentários:

Anónimo disse...

Compreendo o que essa jovem palestiniana sente. Embora mal comparado, vivi a guerra de Angola e enquanto lá estive não conseguia vislumbrar um possível tempo de paz. Perdemos a capacidade de visualizar o futuro e de sonhar com o quer que seja. Quanto a Israel… para eles o progresso foi um cortar com o passado e com tudo o que defendiam na realidade… A Lei de Deus deixou de ser a Lei do Homem. A ganância tornou-se a prioridade não importando a que custo…

José, o Alfredo disse...

Lembram-se do Padrinho? O que se segue é um diálogo entre o futuro Don Michael Corleone (Al Pacino) e a sua futura mulher Kay (Diane Keaton).

MICHAEL: I'm working for my father now, Kay. He's been sick -- very sick.

KAY: But you're not like him, Michael. I thought you weren't going to become a man like your father. That's what you told me...

MICHAEL: My father's no different than any other powerful man -- (then, after Kay laughs) -- Any man who's responsible for other people. Like a senator or a president.

KAY: You know how naive you sound?

MICHAEL: Why?

KAY: Senators and presidents don't have men killed...

MICHAEL: Oh -- who's being naïve, Kay?

Onde eu quero chegar com isto é aqui: se o homem, a título individual, usa o direito de matar, o que é que poderia levar o Estado a abdicar desse direito, ou dessa possibilidade? E porque é que o Estado de Israel (que, por acaso e ao contrário de muitos dos seus inimigos mais chegados, até é secular) haveria de ter menos direitos que os outros? E porque é que o Estado de Israel se deveria entregar em sacrifício a todos os que não conseguem encontrar mais nada que os una para além do ódio aos judeus e a Israel? Eu sei que, nesta guerra como em muitas outras, a imparcialidade é o mais difícil. E sei que estou muito longe dela. Mas a ingenuidade não será mais perigosa que a parcialidade?

L. Rodrigues disse...

A ingenuidade é muito mais perigosa do que a parcialidade. Mas eu acho que é ingenuidade pensar que aquele país pode existir sem boas relações com os seus vizinhos. E é dificl cimentá-las desfazendo casas e sonhos.
Israel era suposto ser um pais onde os Judeus podiam finlmente viver em paz.
Hoje um Judeu que o queira fazer, terá que escolher outro sítio para viver.

José, o Alfredo disse...

Israel era suposto ser um país onde os judeus podiam finalmente viver. Em paz? Parece-me que a maior parte dos israelitas o deseja, tão cedo quanto possível. E não digo que a maior parte dos vizinhos deseje outra coisa, só que nos países dos vizinhos os desejos da maioria são ainda mais irrelevantes do que em Israel, ou aqui, ou noutra democracia qualquer.

Paulo Cunha Porto disse...

Em bom rigor, Caro L.Rodrigues, talvez devessemos dizer que o Estado rivindica o direito de matar, introduzindo um critério, pois é consensual que se fez para acabar com os morticínios perpetrados melos mais fortes, que, na ausência da comunidasde organizada, dispensavam a legitimação.
Mas percebo Menuhin.
Abraço.